Carlos, de 43 anos, ficou gravemente ferido no incêndio de Pedrógão Grande. Com queimaduras de terceiro grau em 85% do corpo, teve que ser transferido para um hospital em Valência, Espanha, para receber um transplante de pele. Agora, o filho recém nascido não pode receber o seu apelido.
O pequeno Pedro é nascido fruto do amor com cerca de um ano entre Patrícia e Carlos. Ele já tem uma filha de 18 anos. Ela tem outros dois filhos, um de sete e outro de um ano e meio, mas só o mais pequeno vive com ela.
Quando Pedro nasceu, a 27 de julho, pouco mais de um mês depois do grande incêndio, Patrícia estava sozinha: o companheiro, Carlos, estava a receber o primeiro transplante de pele, em Espanha, o irmão, que estava junto com Carlos, estava internado na Unidade de Cuidados Continuados de Pedrógão e a cunhada estava a trabalhar.
Contou apenas com a ajuda de uma amiga, que a acompanhou durante todo o processo e filmou o parto, para um dia mais tarde mostrar ao pai. Depois disso, juntou-se a sogra de Patrícia, mãe de Carlos, que vinha de Lisboa.
Mas passar pelo trabalho de parto e pelo nascimento do primeiro filho conjunto do casal sozinha não foi o pior para Patrícia. O pior veio depois.
Na hora de registar Pedro, Patrícia deparou-se com a informação de que o bebé não podia ter o nome do pai. Ainda na cama da maternidade, com o bebé ao lado e Carlos a quilómetros de distância, foi informada de que, como não era casada e o pai da criança não estava presente, Pedro só poderia ter os apelidos da mãe.
“Disseram-me que podia pôr-lhe outro apelido meu e depois alterar, mas para quê? Eu não quero que ele tenha dois apelidos meus, quero que ele tenha o apelido do pai dele“, contou ao Observador.
A situação torna-se ainda mais complicada se o estado da saúde de Carlos se agravar: se por alguma razão vier a falecer e o processo de averiguação de paternidade não estiver concluído, a única maneira de Pedro ser reconhecido oficialmente como seu filho é através de análises ao ADN.
Desde o nascimento de Pedro que Patrícia está a ser acompanhada por uma assistente social, mas nem isso resolveu os seus problemas. Desempregada e com duas crianças, deu voltas à cabeça para perceber como poderia pagar uma viagem a Valência para ver o companheiro.
A amiga que a acompanhou no parto domina bem o espanhol e, por isso, tem sido ela a falar com os médicos ao telefone. As palavras que vêm do outro lado da linha são duras de ouvir: Carlos ainda não está fora de perigo e, mesmo que corra tudo bem, o mais provável é que nunca mais possa voltar a trabalhar.
Desesperada, Patrícia passou noites em claro a pensar numa forma de ir ao Hospital La Fé, onde Carlos se encontra. Para além do dinheiro, havia todos os problemas logísticos de viajar com um recém-nascido, como o facto de precisar de companhia para poder conduzir e tratar do bebé.
Acabou por pedir ajuda à Associação de Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande e, alguns dias depois, recebeu uma chamada com boas notícias. O Hospital de Coimbra não só se oferecia para lhe pagar uma viagem de avião a Valência, como o médico que a contactou sugeria também que tivesse acompanhamento psicológico antes e durante a visita, dada a gravidade da situação.
Patrícia aceitou, sem reservas. Naquele momento, o seu único objetivo era ver Carlos.
Incêndio em Pedrógão Grande
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E por ironia do destino no mesmo país onde o sr. Presidente prometeu casas para todos até ao natal, festa de consoada…ainda nem foram apuradas responsabilidades sobre incêndio, e como se não basta-se a nossa brucracia de papelada ainda nos das esta noticia realmente triste…
O filho deles nasceu a 37 de junho? Em que planeta? 🙂
Obrigado pelo reparo, está corrigido.