Cientistas descobriram caranguejo “imortal” fossilizado em âmbar

(dr) Javier Luque

Cretaspara athanata

Uma equipa de cientistas descobriu um caranguejo “imortal” fossilizado em âmbar. O crustáceo, datado do período Cretáceo, pode estar entre os primeiros exemplos de um caranguejo que ocupa um habitat de água doce. 

A grande maioria das espécies que aparecem preservadas em âmbar são terrestres. Os caranguejos, porém, passam a sua vida na água. “Não é muito frequente” encontrar um animal aquático preservado neste tipo de material, disse Javier Luque, investigador da Universidade de Harvard, ao Live Science.

Com apenas 2 milímetros de diâmetro, o caranguejo fóssil é um espécime minúsculo, mas muito bem preservado, batizado de Cretaspara athanata (“athanata” significa “imortal”, “creta” remete para o Cretáceo e “aspara” para os lendários espíritos das nuvens e da água do sudeste asiático, uma homenagem ao seu estilo de vida anfíbio).

Luque e a sua equipa utilizaram um tipo de raio-X chamado micro-CT para criar um modelo digital 3D do animal, com o objetivo de estudar a sua fisiologia em pormenor.

Com base na forma das pernas e da carapaça, determinaram que o minúsculo crustáceo pertencia à mesma linhagem dos caranguejos “verdadeiros” dos tempos modernos.

O Live Science explica que nem todos os caranguejos são, tecnicamente, caranguejos. Os chamados caranguejos falsos são membros de um grupo chamado Anomura e podem distinguir-se pelo facto de caminharem em três pares de patas em vez de quatro, como os caranguejos verdadeiros do grupo Brachyura.

Os primeiros caranguejos apareceram há cerca de 200 milhões de anos no início do período Jurássico, e experimentaram um renascimento no período Cretáceo, um evento agora conhecido como a revolução do caranguejo Cretáceo.

O caranguejo recém-descoberto data entre 95 milhões e 105 milhões de anos atrás, colocando-o diretamente no meio da revolução. A idade, porém, deixa o mistério de como acabou envolto em âmbar por resolver.

“Eu acho que, muito provavelmente, era um caranguejo de água doce ou semi-terrestre“, disse John Campbell McNamara, um fisiologista evolucionista da Universidade de São Paulo, no Brasil, que não estava envolvido no estudo.

O facto de estar preservado âmbar “pode ser uma boa indicação” de que vivia parcialmente em terra e parcialmente em água doce, uma vez que as árvores coníferas que produziam resina âmbar não conseguiam sobreviver nas proximidades dos ambientes de água salgada.

Luque concordou com esta avaliação. Com base nas suas guelras, o pequeno crustáceo parece mesmo preencher uma lacuna no registo fóssil entre caranguejos marinhos e de água doce.

O Cretapsara pode representar o caranguejo não-marinho mais antigo de que há conhecimento, além de poder conter valiosas pistas sobre a forma como estes crustáceos deram o salto evolutivo do mar para os ambientes interiores.

O artigo científico foi publicado, no dia 20 de outubro, na Science Advances. 

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