A capitã alemã de uma embarcação de salvamento que resgatou centenas de migrantes do Mediterrâneo poderá ser condenada a uma pena de até 20 anos de prisão em Itália por alegado auxílio à migração ilegal.
De acordo com o jornal alemão Basler Zeitung, citado pela Rádio Renascença, Pia Klemp enfrenta uma pena de até 20 anos de prisão por, segundo as autoridades italianas, auxiliar a migração ilegal.
O governo italiano garante que Pia Klemp, bióloga e ativista, esteve diretamente envolvida no resgate de pelo menos mil pessoas que estavam a tentar entrar em Itália pelo mar. A capitã esteve a cargo do navio Sea Watch III, a embarcação que auxiliou migrantes que foram acolhidos por Portugal em março, e do navio Iuventa.
Essa última embarcação acabaria por ser apreendida em 2017, altura em que a ativista passou a estar na mira das autoridades italianas por ajudar quem seguia em barcos inseguros de África rumo à Europa.
Pia Klemp pertence à Sea Watch, uma organização não governamental. É bióloga e trabalhou muito tempo como instrutora de mergulho antes de se juntar a outra organização do género, a Sea Shepherd, que usa “táticas de ação direta” para combater atividades ilegais no alto mar.
Em tempos, garantiu numa entrevista à Sea Watch que aprendeu a comandar embarcações porque o seu “dever enquanto capitã” é salvar pessoas de se afogarem. “Apenas seguimos o direito internacional, especialmente a lei do mar, onde a principal prioridade é salvar pessoas”, referiu noutra entrevista.
Para além do envolvimento com a Sea Watch e a Sea Shepherd, Pia Klemp é, ainda, diretora executiva da Aquascope, uma organização que combate a pesca ilegal.
Pia Klemp já declarou que, se for condenada, irá lutar até ao fim, recorrendo ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos para garantir a sua liberdade. No entretanto, uma petição a exigir a sua libertação, sob o mote #FreePia, já conta com mais de 94 mil assinaturas.
Missões de resgate marítimo foram criminalizadas
Em Bonn, sua cidade-natal, Pia Klemp confessou-se preocupada com o processo contra si, mas disse que “o pior já aconteceu”. “As missões de resgate foram criminalizadas. Nós estamos paralisados e as pessoas estão a morrer no Mediterrâneo”, lamentou.
Apesar disso, não acredita numa condenação efetiva, admitindo que a acusação que recai sobre a tripulação dos barcos da Sea Watch pode ser apenas “um processo de fachada”, incentivado pelo governo italiano e pelo líder do partido de extrema-direita Liga e vice-primeiro-ministro, Matteo Salvini. Este fez aprovar, no final de 2018, um decreto-lei para abolir as autorizações de residência atribuídas por razões humanitárias.
“Recuso-me a acreditar que vivemos numa Europa onde uma pessoa pode ir parar à cadeia por salvar vidas”, rematou a capitã alemã.