A campanha soviética do Kremlin. “Só isso consegue unir os russos mais velhos”

Francisco Schmidt / Flickr

Estátua de Lenine

São cada vez mais frequentes os símbolos que fazem recordar a URSS. A “avó com bandeira soviética” é homenageada em diversas cidades.

A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) está mais presente nos ouvidos e nos olhos da população russa, desde o dia 24 de Fevereiro.

Ao longo da guerra na Ucrânia, as autoridades russas têm reforçado a presença de símbolos, de referências à URSS, numa espécie de “regresso ao império”.

Na próxima segunda-feira, 9 de Maio, dia em que assinala a vitória soviética sobre a Alemanha nazi na II Guerra Mundial, as bandeiras das formações militares serão substituídas por bandeiras vermelhas (a cor predominante na bandeira da URSS).

Há diversas cidades na Rússia que estão preenchidas por adereços, cartazes, que servem para homenagear a “avó com bandeira soviética”.

Esta “avó”, uma senhora idosa ucraniana, foi filmada junto a soldados ucranianos; mas pensava que eram militares russos e, por isso, contou que tem rezado pelos russos e pelo presidente Vladimir Putin.

E também mostrou a bandeira da URSS – que depois foi pisada pelos soldados ucranianos, que brincavam com a situação.

Ao ver o que estavam a fazer, a idosa reagiu: “Os meus pais morreram por esta bandeira e vocês estão a pisá-la”. A mulher também recusou a comida que os soldados ucranianos lhe tinham oferecido.

Uma mulher que é considerada um exemplo pelo Kremlin. “A avó Anya tornou-se um símbolo vivo da continuidade das gerações, da continuidade da luta contra o nazismo e o fascismo. Ela tornou-se a avó de todo o Donbass, de toda a Rússia”, declarou um chefe da administração presidencial da Rússia, Sergei Kiriyenko.

“Vamos repetir a façanha dos nossos avós soviéticos”, têm insistido os responsáveis russos.

Os homens próximos de Putin têm repetido a ideia de que a “operação militar especializada” na Ucrânia é uma luta contra o regime nazi – tal como a URSS fez, durante a II Guerra Mundial.

É uma comparação propositada, é a retórica da continuidade, indica o portal Meduza, que acrescenta que as bandeiras da URSS também estão a ser colocadas nas cidades da Ucrânia ocupadas pelos militares russos.

A História da URSS também é recordada através da restauração de monumentos dedicados a Lenine, primeiro líder da União Soviética.

Fonte próxima da administração de Putin informou ao mesmo portal que os símbolos soviéticos são “a única estrutura unificadora” para os russos com mais de 45 anos, que formam o “núcleo de apoio” – a Putin e à guerra.

“Não é que esse núcleo de apoio esteja a desmoronar, mas não há mais nada para uni-lo”, acrescentou a fonte.

Outra pessoa próxima do Kremlin avisa: “Tudo isto é uma referência à URSS, ao seu regresso”.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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