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Bolsa brasileira reage positivamente com a perspetiva de Bolsonaro chegar à Presidência

Fernando Frazão / Agência Brasil

A hipótese de, no dia 28 de outubro, Jair Bolsonaro ser nomeado presidente do Brasil está a ter um impacto positivo no mercado brasileiro, mesmo com os avisos da Standad&Poor’s, The Economist e de especialistas locais.

No dia seguinte à primeira volta das eleições brasileiros que ditaram uma 2ª volta entre Bolsonaro e Haddad, o Bovespa, Bolsa de Valores de São Paulo e principal índice da Bolsa no Brasil, registou o maior movimento de dinheiro de sempre.

A razão parece ter sido a quase nomeação de Jair Bolsonaro na 1ª volta com 46% de votos contra os 29% de Fernando Haddad. Segundo o DN, há uma relação causa-efeito que os analistas internacionais ainda não conseguiram entender.

“Há uma preocupação muito grande do mercado com a agenda de candidatos de esquerda em relação ao ajuste orçamental e ao tamanho do Estado” disse ao jornal O Estado de S.Paulo, Michael Viriato, coordenador do laboratório de finanças do Insper, instituição de ensino superior brasileira que atua nas áreas de negócios, economia, direito e engenharias.

André Perfeito, economista-chefe da Spinelli Corretora, ouvido pelo Nexo Jornal, é da opinião que existem um conjunto de fatores que explicam a atração do mercado pelo candidato Partido Social Liberal, PSL.

“O ajuste orçamental que o candidato propõe, baseado em privatizações, soa como música para o mercado, e a partir daí surgem várias frentes de negócios a serem desenvolvidas, isso sem falar que melhoraria a questão orçamental, o que baixa a taxa de juros e gera uma apreciação dos ativos, ou seja, a solução proposta casa com aquilo que encanta o mercado”, explicou o economista.

O recorde do Bovespa traduziu-se numa alta de 4,57%, o equivalente a uns inéditos 86 mil pontos e 28,9 mil milhões de reais transacionados. Neste momento, o dólar vale 3,76 reais, uma diferença de 2,40%.

“Nenhum analista político tinha previsto uma renovação no Congresso como a que se verificou, nem a vitória de governadores que apoiam Bolsonaro, e o mercado comemorou esses resultados”, afirmou Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos.

“No entanto, a agenda económica de Bolsonaro tem ficado num canto no discurso dele e o candidato, para já, apenas fala em reduzir a carga tributária e em privatizar 50 empresas, coisa que não é possível“, acrescentou.

Apesar do lado positivo demonstrado na passada segunda-feira, Glauco Legat, analista da Spinelli diz que “a volatilidade não foi afastada“.

A Standard&Poor’s, uma das três maiores agências de classificação de risco, lembra ainda que o candidato do Partido dos Trabalhadores(PT), Fernando Haddad, apesar de pertencer à esquerda, não é visto como um “outsider”, como é o caso de Bolsonaro.

“O candidato do PT não é um estranho e Bolsonaro é, o que aumenta o risco de incoerências ou atrasos a lidar com o Congresso após a eventual vitória nas eleições e os problemas orçamentais e sociais já estão aí e são urgentes“, contou Joydeep Mukherji, analista da agência para o mercado latino-americano.

A Black Rock, maior empresa em gestão de ativos no mundo, e a Ashmore, empresa de gestão de investimentos especialista em mercados emergentes, avisaram ainda que a eleição de Jair Bolsonaro pode ser “um gatilho de agravamento na agenda latino-americana” e que o candidato do PSL tem “preocupantes tendências autoritárias“.

A acompanhar este discurso está alguma da imprensa internacional especializada como é o caso do Financial Times e do The Economist, que apelidam de “desastre” uma eventual eleição de Bolsonaro pelos brasileiros no dia 28 de outubro.

Bolsonaro, o polémico capitão

Segundo a Lusa, o candidato da extrema-direita Jair Bolsonaro disse esta quarta-feira preferir uma “prisão cheia de bandidos a um cemitério cheio de inocentes”.

Vamos encher a prisão de bandidos. Isso é errado? Basta não fazerem a coisa errada. Eu prefiro a prisão cheia de bandidos do que um cemitério cheio de pessoas inocentes”, disse Bolsonaro, numa entrevista à rádio Jovem Pan.

Bolsonaro, um polémico capitão na reserva, ganhou vantagem na corrida presidencial, apesar das manifestações contra si, que levaram milhares de brasileiros às ruas em protesto, principalmente mulheres e representantes das minorias, na véspera das eleições.

Nos protestos “havia um terrível cheiro a canábis, as mulheres iam com as axilas peludas. Eles são ativistas de minorias, não estou a generalizar”, disse o candidato da extrema-direita, acrescentando que, caso seja eleito presidente, “não haverá dinheiro público para alimentar esse tipo de pessoas, eles terão que trabalhar“.

Nesse sentido, Bolsonaro afirmou que “acabará com esse ativismo xiita (segundo maior ramo de crentes do Islão)”, que, na sua opinião, vive “em grande parte com o dinheiro das Organizações Não Governamentais (ONG)”.

“Eu acho que você tem que defender a sua posição, mas sem ir ao radicalismo tal como eles fazem, isso tem que acabar, o ativismo não é benéfico e nós temos que acabar com isso”, disse o candidato do PSL.

Durante a entrevista, Bolsonaro acusou também alguns meios de comunicação social de fazerem uma “campanha descomunal” contra si e classificou novamente o seu rival, Fernando Haddad, como um “mentiroso”.

Bolsonaro, defensor da liberalização do mercado de armas no Brasil e apoiante da ditadura militar que atravessou o país de 1964 até 1985, reiterou que os atos de tortura no período autoritário foram casos “isolados”.

“Se houvesse tanta tortura quanto eles dizem, você não estaria aqui”, afirmou o candidato dirigindo-se ao jornalista.

Os candidatos Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) irão defrontar-se na segunda volta das eleições presidenciais brasileiras no dia 28 deste mês, após terem obtido 46% e 29% dos votos, respetivamente.

ZAP //

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