Com a ajuda dos conhecimentos da comunidade local, uma equipa de investigadores descobriu a primeira fêmea da tartaruga gigante asiática de carapaça mole e a sua primeira população reprodutora.
Segundo o IFL Science, a também chamada Pelochelys cantorii, está em vias de extinção. A sua população tem vindo a diminuir devido à destruição do habitat, ficar presa nas artes de pesca e de ser caçada para consumo.
Ao tentarem descobrir mais sobre esta espécie e a forma como a proteger, os investigadores concluíram que as tartarugas são notoriamente difíceis de encontrar e passam a maior parte do tempo enterradas nas areias debaixo dos seus rios nativos do Sul e Sudeste Asiático.
Por isso, os investigadores voltaram-se para as comunidades locais do rio Chandragiri em Kerala, na Índia.
Françoise Cabada-Blanco, autora do estudo publicado na revista Oryx, explicou que “na sequência de várias tentativas infrutíferas de localizar uma espécie através de métodos convencionais de investigação ecológica, adotámos uma abordagem diferente, recorrendo aos conhecimentos locais“.
“A equipa, liderada por Ayushi Jain, conseguiu envolver a comunidade de forma realmente eficaz, de tal forma que esta partilhou histórias de avistamentos históricos, forneceu pistas sobre ocorrências atuais e até ajudou na libertação em direto de indivíduos acidentalmente capturados como captura acessória”.
Como resultado desta colaboração, a equipa descobriu os primeiros indícios de uma tartaruga fêmea a fazer ninho e uma população reprodutora.
Conseguiu, ainda, salvar alguns ovos dos ninhos que tinha sido inundados, libertando mais tarde as crias no rio.
A equipa está agora a criar uma incubadora e um viveiro comunitário na área, mas os autores também fizeram questão de sublinhar o papel fundamental que o conhecimento local pode desempenhar para atingir este objetivo.
“A disponibilidade da comunidade para se envolver constituiu a espinha dorsal do nosso projeto, permitindo-nos registar não só vislumbres fugazes das tartarugas, mas provas de uma população reprodutora — uma descoberta que reescreve a narrativa de uma espécie que se pensava estar a desaparecer das águas da Índia”, afirmou Jain.
“Durante anos, a existência da Pelochelys cantorii foi apenas um rumor contra o pano de fundo da agitada biodiversidade da Índia, com avistamentos tão escassos que a própria presença da tartaruga parecia um fantasma do passado”, acrescentou Cabada-Blanco.
“O nosso estudo é uma narrativa de redescoberta, de encontrar esperança nas histórias contadas pelo rio e pelas suas gentes e de lançar as bases para um futuro em que esta magnífica espécie possa prosperar e não só sobreviver“, conclui.