Se Bohemian Rhapsody, biopic do icónico Freddie Mercury, foi altamente criticada por mitigar a homossexualidade do vocalista, Rocketman sofre repercussões por tomar uma abordagem inversa.
De facto, o filme, que narra a história de vida do cantor Elton John, foi, até ao momento, censurado e proibido em Samoa, Rússia e Egipto, por ser visto como uma afronta à ideologia conservadora dos países. Em causa, está o enredo de Rocketman que retrata, não só a ascensão de Elton (Taron Egerton) à fama, mas também a luta do artista contra o vício e a aceitação da sua sexualidade.
O primeiro país a tomar medidas foi a Rússia ao eliminar todas as cenas do filme que incluíssem drogas ou referências à comunidade LGBTI. De acordo com esclarecimentos prestados pela distribuidora de Rocketman à agência de notícias TAAS, a biopic foi “modificada para se adequar às leis russas”.
John, proeminente ativista de direitos LGBTI, com uma enorme plataforma de fãs no país, insurgiu-se, em 2013, contra o decreto que proíbe a circulação de “propaganda gay” na Rússia. A equipa do cantor criticou, de igual modo, estas recentes atitudes “hostis” em declarações à agência Reuters.
“O facto de a distribuidora local ter considerado necessário editar certas cenas […] é um triste reflexo do mundo dividido em que vivemos e de como o amor entre duas pessoas ainda pode ser tão cruelmente inaceitável.”
Um Caso de “Moralidade Seletiva”
Por outro lado, Egipto e Samoa baniram a exibição do filme por completo das salas de cinema nacionais. Leiataua Niuapu Faaui, principal responsável pela censura de conteúdos em Samoa, afirmou, em entrevista ao jornal Samoa Observer, que, apesar de ser uma boa história, Rocketman não é concordante com as crenças católicas e culturais do país, onde a homossexualidade é, ainda, criminalizada.
A notícia desapontou inúmeros ativistas que catalogaram a censura como “hipócrita” e “um problema de moralidade seletiva”, visto que a comunidade local fa’afafine, conhecida por inverter estereótipos de género, é aceite e celebrada na região.
“Fa’afafines são culturalmente aceitáveis. A nossa cultura é baseada no respeito e inclusividade. A censura deste filme demonstra que não aceitamos elementos desta comunidade, o que é ignorante e discordante com a realidade em que vivemos”, afirmou Toleafoa Chris Solomona, especialista em cultura samoana.
Já no Egipto, a censura era expectável, visto que Elton John foi proibido de atuar no país em 2010. A união de músicos egípcios impediu a realização do espetáculo, devido a “sentimentos antirreligiosos” alegadamente disseminados pelo músico.
Rocketman estreou, a nível internacional, no final de maio, com uma receção considerada até bastante calorosa, ao arrecadar cerca de 90 milhões de euros à escala mundial.