Dois peritos das Nações Unidas dizem que Mohammed Bin Salman acedeu a informações pessoais de Jeff Bezos para tentar influenciar cobertura do The Washington Post sobre a Arábia Saudita.
Depois de uma investigação do The Guardian ter revelado que o telemóvel do dono da Amazon foi hackeado pelo príncipe da coroa saudita, Mohammed bin Salman, Jeff Bezos lembrou, no Twitter, que se trata do mesmo Governo que assassinou e desmembrou o jornalista Jamal Khashoggi.
Na rede social, Bezos partilhou uma fotografia sua, com a hashtag #Jamal, na celebração do primeiro aniversário da morte do jornalista. Segundo o Mashable, a fotografia foi tirada a 2 de outubro do ano passado, em frente à embaixada saudita na Turquia, onde Khashoggi foi torturado e morto.
Jeff Bezos surge ao lado da ex-noiva de Khashoggi, Hatice Cengiz.
Esta quarta-feira, dois peritos das Nações Unidas pediram que seja aberta uma investigação oficial sobre as suspeitas de que o telemóvel do também proprietário do The Washington Post foi pirateado pelo príncipe herdeiro saudita.
Agnès Callamard e David Kaye, dois especialistas da ONU, assinam uma carta conjunta em que relacionam o ataque sofrido por Bezos com “um esforço para influenciar, se não silenciar, a cobertura do The Washington Post sobre a Arábia Saudita”.
Os especialistas dizem ter tido acesso a uma análise forense realizada ao telemóvel de Bezos que conclui com um grau “médio a elevado” de confiança que o aparelho foi pirateado “através do envio de um ficheiro de vídeo a partir de uma conta de WhatsApp utilizada pessoalmente por Mohammed Bin Salman”. O Governo de Riad diz que acusações são “absurdas”.
De acordo com o Público, os relatores da ONU dizem que, após o episódio do envio do programa de acesso indevido, o príncipe enviou mensagens a Bezos em que revelava pormenores íntimos da vida do empresário. Nos meses seguintes, Bezos tornou-se igualmente num alvo privilegiado de ataques nas redes sociais na Arábia Saudita, em que era apresentado como um “adversário” do regime.
O ataque informático contra Bezos é relacionado com a cobertura noticiosa do The Washington Post da Arábia Saudita. Os dois peritos integram-no num “padrão de vigilância direcionada a adversários e a indivíduos de importância estratégica para as autoridades sauditas”. Na altura em que o telemóvel foi pirateado, Jamal Khashoggi era colunista do Post.
“Numa altura em que se supunha que a Arábia Saudita estava a investigar a morte de Khashoggi, e a julgar aqueles que entendeu serem responsáveis, estava a levar a cabo clandestinamente uma campanha online maciça contra Bezos e a Amazon, visando-o principalmente como proprietário do The Washington Post“, afirmam os relatores da ONU.
A embaixada saudita em Washington, nos Estados Unidos, considerou “absurdas” as suspeitas contra Mohammed bin Salman. “Pedimos uma investigação a estas alegações para que todos os factos possam ser conhecidos.”