O chanceler austríaco, Sebastian Kurz, vai enfrentar na segunda-feira uma moção de censura no Parlamento na sequência do escândalo do vídeo que envolveu o seu antigo parceiro de coligação, o partido de extrema-direita FPÖ.
Kurz arrisca ver-se afastado do Governo e o país ficar entregue a um governo de gestão até à tomada de posse do Executivo que sair das eleições antecipadas marcadas para setembro.
A moção foi apresentada pelo mais pequeno partido com assento parlamentar (o ecologista de esquerda Jetzt (Já), com sete lugares em 183, na sequência da saída dos ministros do partido de extrema-direita que governava há 17 meses com Kurz.
O FPÖ caiu em desgraça após a divulgação, na sexta-feira passada, de um vídeo em que o seu líder e vice-chanceler, Heinz-Christian Strache, foi apanhado a discutir formas de contornar a lei de financiamento dos partidos em troca de potenciais contratos públicos inflacionados a uma suposta milionária russa, e ainda meios para controlar os media na Áustria.
A divulgação das imagens de parte da conversa provocou um enorme sentimento de vergonha e protestos espontâneos em Viena. O chanceler, Sebastian Kurz, quebrou a coligação e pediu eleições antecipadas. Está a ser muito criticado por ter formado governo com o FPÖ, por não ter desistido da coligação mais cedo depois de sinais de alarme.
O Presidente, que é quem demite membros do Governo, seguiu a recomendação de Kurz e afastou esta terça-feira o ministro do Interior, Herbert Kickl. Os restantes ministros do partido demitiram-se em protesto pelo afastamento de Kickl, o dos Transportes, Norbert Hofer e ainda os titulares da Defesa e Assuntos Sociais.
A ministra dos Negócios Estrangeiros, Karin Kneissl, independente mas nomeada pelo FPÖ, mantém-se no cargo. Kneissl é uma as protagonistas da proximidade do partido com a Rússia: o FPÖ tem um acordo de cooperação formal com o partido Rússia Unida, no Governo russo.
Antes de sair, o ministro do Interior ainda assinou um regulamento impondo um limite máximo de 1,5 euros por hora para renumeração de trabalho voluntário feito por requerentes de asilo.
Os ministros vão ser substituídos por técnicos, e falando aos jornalistas ao lado do chanceler, o Presidente, Alexander Van der Bellen, aconselhou serenidade no meio da tempestade política na Áustria.
Quanto a Kurz, o seu destino na segunda-feira, o dia após as eleições europeias, poderá ser definido pelo Partido Social-Democrata (SPÖ). Tirando a extrema-direita, que já anunciou que votará a favor da moção, os social-democratas e os liberais ainda não disseram o que planeiam fazer. O SPÖ tem criticado Kurz e apoiado a ideia de um governo de transição novo até às eleições. Três meses com um governo deste género seria uma situação sem precedentes no país.