Uma equipa de astrónomos liderada pelo português Hugo Messias revelou a melhor imagem de sempre de uma colisão de galáxias, que terá acontecido há mais se sete mil milhões de anos, quando o sol ainda nem existia.
A colisão aconteceu numa zona do universo a que os cientistas chamam H-Atlas H1429-0028, a uma distância em quilómetros calculada utilizando o número dois seguido de 29 zeros, de acordo com os cálculos de Hugo Messias.
Em declarações à agência Lusa, o investigador do Centro de Astronomia e Astrofísica da Universidade de Lisboa explicou que, para o estudo, que começou há mais de dois anos, foram utilizados diversos telescópios, nomeadamente o de Atacama, no Chile, e o telescópio espacial Hubble.
O investigador explicou também que foi usada uma galáxia, a H-Atlas J142935.3-002836, que estava em frente das que estão na base do estudo, e que fez o efeito que uma lupa faria para aumentar algo pequeno na terra.
“Embora os astrónomos se encontrem normalmente limitados pelo poder dos seus telescópios, em alguns casos a nossa capacidade de observar detalhes é aumentada por lentes naturais criadas pelo Universo“, diz Hugo Messias, explicando que a massa da galáxia “lupa” é tão grande que atrai a luz e a curva (conforme a teoria da relatividade geral de Einstein).
“É preciso depois reconstruir a imagem, é como reajustar uma lente”, conta o cientista, acrescentando: “ao fazer a reconstrução, vimos que havia duas galáxias” e, pela forma de comportamento e pela morfologia, concluíram que estavam em colisão.
“Disso temos a certeza”, diz Hugo Messias.
A Vila Láctea é uma galáxia de disco
Hugo Messias não tem dúvidas, nem os outros participantes no trabalho, de que a colisão galáctica estava a formar “centenas de novas estrelas por ano”.
“Uma das galáxias em colisão mostra ainda sinais de rotação: uma indicação de que se tratava de uma galáxia de disco antes do encontro”, diz um documento do European Southern Observatory (ESO).
Hugo Messias lembra que tudo aconteceu há muitos milhões de anos e diz que a colisão de galáxias é comum, e que, aliás, a própria galáxia a que pertencemos, a Via Láctea, poderá no futuro chocar com Andrómeda.
Mas para isso serão necessários ainda milhões de anos.
No presente, um grupo de astrónomos, com um grupo de telescópios e com a ajuda de uma galáxia, encontrou o sistema H1429-0028.
“Apesar de muito ténue em imagens no visível, este sistema encontra-se entre as galáxias ampliadas gravitacionalmente mais brilhantes detectadas até hoje no infravermelho longínquo, embora a estejamos a observar numa altura em que o Universo tinha apenas metade da sua idade atual”, diz o ESO.
“O estudo deste objecto encontra-se no limite do que é possível”, acrescenta.
E o que interessa uma colisão de galáxias ocorrida quando o universo tinha apenas metade da sua idade atual?
Hugo Messias explica que é uma forma de testar as capacidades de telescópios como o de Atacama, mas também de obter informação sobre poeiras e sobre como o sistema se está a mover.
“No futuro vamos aplicar este estudo a outras galáxias”, diz. Na verdade, ajuda a perceber “como se dá a evolução das galáxias neste tipo de eventos”.
Mesmo que sejam eventos ocorridos “há muito tempo, numa galáxia muito, muito distante”.
/Lusa