Valter Vieira revelou às autoridades que tinha conhecimento de pagamentos feitos pelo Benfica para incentivar os jogadores do Vitória de Setúbal nos jogos contra o Sporting e o FC Porto.
Valter Vieira, ex-assessor da administração da Vitória de Setúbal SAD, confirmou à Polícia Judiciária e ao Ministério Público a existência de pagamentos do Benfica a jogadores do clube, desde 2016, com o objetivo de retirarem pontos ao Sporting e ao FC Porto. Estas alegações surgem no âmbito do processo “Mala Ciao”, parte de uma investigação maior, o chamado “caso dos emails”, que inclui acusações contra Luís Filipe Vieira, Paulo Gonçalves e a Benfica SAD.
Valter Vieira foi ouvido pela primeira vez em 2018, após uma busca realizada pela Polícia Judiciária, durante a qual o seu telemóvel foi apreendido. Nas declarações à PJ, Vieira afirmou que tinha conhecimento de pagamentos pecuniários feitos por elementos ligados ao Benfica para incentivar a equipa do Vitória de Setúbal a dificultar a vida ao FC Porto, especialmente em épocas anteriores a 2017/2018.
Contudo, Vieira não sabia ao certo como os pagamentos eram realizados, mencionando que a falta de um “incentivo” foi comentada amplamente entre os jogadores do clube e que essa informação lhe chegou diretamente através dos roupeiros Quim e Mário Lúcio, explica o Correio da Manhã.
Numa escuta telefónica antes de um jogo entre o Vitória de Setúbal e o FC Porto, Vieira foi apanhado a ironizar sobre a situação, referindo-se à “mala”, termo que, mais tarde, disse estar a usar em tom de brincadeira. Apesar disso, a investigação levantou suspeitas de corrupção em torno de diversos jogos.
O Ministério Público arquivou parte das suspeitas, enquanto a defesa de Vítor Valente, ex-presidente do Vitória de Setúbal, descreveu a acusação de corrupção passiva como baseada em “meras presunções” sem provas concretas.
Paulo Gonçalves, ex-assessor da Benfica SAD, também negou qualquer envolvimento em atividades ilícitas, afirmando ter apenas cumprido as instruções que lhe foram confiadas.
O processo conhecido como “caso dos emails” envolve 11 arguidos, incluindo as SADs do Benfica e do Vitória de Setúbal, e crimes de corrupção, fraude fiscal e participação económica em negócio.
Para além de acusações de pagamentos a jogadores do Vitória como incentivos nos jogos contra os rivais, o Ministério Público também alega que os arguidos simularam negócios de jogadores com o Vitória de Setúbal com o objetivo de injetar cerca de 784 mil euros no clube sadino.
A investigação arrancou em 2017, na sequência da divulgação de Francisco J. Marques — na altura diretor de comunicação do FC Porto — de emails privados do Benfica num programa do Porto Canal.
