“Apagão” de dados. DGS não está a revelar todos os infectados com covid-19

20

Manuel de Almeida / Lusa

A ministra da Saúde, Marta Temido (dta.), com a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas

Há casos de infectados com covid-19 que não surgem contabilizados nos boletins diários divulgados pela Direcção Geral de Saúde (DGS). A denúncia é feita por profissionais no terreno que põem em causa a verdadeira dimensão da pandemia em Portugal. E há até quem fale num “apagão” não intencional de dados.

O Porto e vários outros concelhos do norte do país, por exemplo, estão sem novos casos de covid-19 desde 6 de Junho, de acordo com os boletins da DGS. Mas profissionais do Hospital de São João, a unidade de referência para estes pacientes na Invicta, asseguram que têm chegado doentes com o coronavírus à unidade.

“A partir da segunda semana de Junho, no serviço de Urgência que monitorizo diariamente, o número tem vindo a subir, embora não seja uma evolução dramática”, revela ao Expresso o médico do Serviço de Urgência do Hospital de São João, Nelson Pereira.

“Nas duas últimas semanas de Maio e na primeira de Junho, havia um ou outro novo infectado e agora temos uma média de três por dia. Claramente, temos tido casos confirmados de residentes nos concelhos do Porto, Maia e Gondomar“, salienta o médico.

O semanário confirmou também junto do Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, outro concelho que não tem registado novos casos, segundo os dados divulgados pela DGS, que continuam a surgir pacientes com covid-19 na unidade.

“Essa ausência de novos casos nos dados não corresponde à realidade e tem causado dificuldades na comunicação com a população e até com as autarquias”, denuncia a médica de saúde pública na região norte, Mariana Carrapatoso, em declarações ao Expresso.

Além de Porto e Matosinhos, há outros concelhos onde os hospitais continuarão a receber pacientes com covid-19. E há doentes que estão ligados aos surtos em Lisboa, como aponta Mariana Carrapatoso.

“O atraso na realização dos inquéritos epidemiológicos em Lisboa teve impacto nas cadeias de transmissão, uma vez que a população se desloca. Há pessoas que residem no Norte, mas que trabalham em Lisboa e que foram infectadas“, constata esta médica.

Nelson Pereira lamenta ainda que “podem estar a ser passadas mensagens tranquilizadoras a um nível extremo que não faz sentido, dando a ideia de que a região está a salvo e que não tem casos, quando na verdade tem”.

Graça Freitas admite “disfunções no sistema”

A monitorização da pandemia é feita através das entidades que fazem os testes, dos médicos que analisam os doentes e da DGS. Mas “só a DGS é que recebe tudo e expurga”, refere ao Expresso um especialista em inquéritos epidemiológicos, notando que as unidades de saúde pública têm “muitas vezes mais dados do que a DGS” sem perceberem “porquê”.

Além de “discrepâncias nos registos, como surtos noticiados que não aparecem logo na estatística”, de “diferenças entre o número total de infecções e a distribuição por concelhos”, de “um número maior de casos registados pelas autoridades de saúde do que o reportado” pela DGS, são diversas as denúncias a surgir, conforme elenca o Expresso.

A directora-geral de Saúde, Graça Freitas, assume ao jornal que “há várias disfunções no sistema”. “Não garanto que está tudo bem, apenas que temos a melhor informação que é possível ter”, afiança ainda.

Um dos problemas terá a ver com o facto de alguns laboratórios, universidades e médicos não registarem os casos positivos ou de o fazerem com atrasos.

O boletim da DGS de sexta-feira incluía, precisamente, uma nota de “não notificação” por parte de um laboratório durante três dias consecutivos, falando em “cerca de 200 notificações cuja distribuição ainda carece de análise”.

“Se um laboratório não notifica em 24 horas nós não sabemos, mas cada vez mais estão a notificar mais rapidamente e a percentagem de laboratórios que ainda não notificam casos [por falta de registo na ERS] é residual“, garante Graça Freitas ao Expresso. “Nas academias só não estão a notificar alguns centros de investigação mas também estarão a ser regularizados”, acrescenta.

Graça Freitas aponta, porém, que “o que escapa, acaba por ser apanhado no sistema dos médicos ou pela relação directa dos delegados de saúde com os laboratórios”.

“Entre os médicos não há atrasos significativos, às vezes há discrepâncias nas notificações na plataforma que cruza os dados dos laboratórios e dos médicos”, sustenta ainda.

Entre “discrepâncias”, “disfunções” e atrasos, há quem chegue a falar de um “apagão” de dados, embora salientando que não será “intencional”, mas que pode simplesmente resultar dos problemas e das divergências associadas ao sistema de notificação de novas infecções.

ZAP //

20 Comments

  1. Que grande novidade ! Só que agora não puderam aguentar mais a mentira. Sabe-se, por recolha de informações no terreno que os números reais são, por vezes, o dobro e até o triplo daquilo que esta gente sem vergonha anda a dizer aos portugueses. E depois ainda falam do Reino Unido que nos estão a preterir. Eles sabem melhor do que cada um de nós, o que se passa realmente aqui.

  2. Costa e os seus governos falham estrondosamente quando postos à prova. Lembram-se dos incêndios? Costa já tinha sido secretário de estado e responsável por aquela coisa de comunicações onde gastou milhões e nada funciona. Agora passamos do país exemplar que a propaganda sociomarcelista criou para o país que ninguém quer receber ou entrar. Há um dado positivo. Costa deixou de aparecer tanto nas concersas em família que faz na comunicação social

  3. Diz a Graça sem graça nenhuma que a culpa é do sistema. Pudera, o sistema não fala, não se pode defender, por isso toca a atirar as culpas para cima dele. Isto é uma estratégia combinada com o poder executivo para passar uma imagem de muito bons no combate à pandemia. É assim que se gera uma imagem de boa governação. Isto é apenas um exemplo entre outros. Só que os ingleses já deram por ela.

  4. Já havia suspeita deste facto! A incompetência é horizontal e simultâneamente vertical neste governo súcialista!

  5. Caros concidadãos, pessoalmente deixei de me fiar a estatísticas, avaliações e bla bla bla’s inúteis. Considero, em relação a atitudes preventivas a tomar en relação a outros, que somos 10 milhões de potenciais infectados, incluindo Eu provavelmente. O resto nada trás de importante como solução!….. Nesta “guerra” mais que duvidosa, entre mortos e feridos algum ade-se salvar !

  6. Agora sim o caso está mesmo grave.
    Mesmo com o número de infetados divulgados pela DGS, já estávamos no pior lugar europeu depois da Suécia.
    Afinal ainda há mais ??
    Então estamos próximos de um novo confinamento.

    • Novo confinamento?! Acho que só por cima do cadáver do Costa.
      O tipo há-de varrer os números todos para baixo do tapete (com a ajuda da Graça) e mentir até ao fim!

      • a comunada Socialista / Marxista são uma Maquina de Aldrabar tudo e todos aos mesmo tempo.
        Tudo o que “incomada” é de uma maneira ou outra, atirado ao lixo.
        Gente astuta, sem duvida, mas não deixam de ser aldraboes de nascença. Está no ADN dessa raça.

  7. Que paródia depois é só ver notícias sem qualquer pudor a criticar o Bolsonaro e o Trump quando do Costa não há notícias do mesmo nível, nem notícias a críticar o governo espanhol do país com mais casos da Europa houve.

  8. Uma verdadeira des-Graça.
    A senhora diz, desdiz, contradiz e a gente já nem sabe se há-de acreditar nela.
    Director-geral é um cargo de muita responsabilidade e não basta estar, apenas, bem visto partidariamente, ou melhor, isso é o que menos conta. O que interessa é saber desempenhar o cargo e, muito importante, não dar a sensação que se está aquém do que é exigido para levar a carta a Garcia. Pelo menos dar a sensação.

  9. Só há dois de toda esta situação,o Costa e o Marcelo.Por motivos políticos,convém manter a população ignorante e esconder a verdade dos números pois de outra forma,não duravam muito no ”Tacho”

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.