António Costa é primeiro-ministro desde 2015, numa sucessão de três legislaturas em que a estabilidade no elenco governativo tem sido uma constante, independentemente das polémicas ou da pressão mediática para que deixasse cair governantes a mãos com casos pouco abonatórios para a saúde do Governo. Mesmo assim, contam-se pelos dedos as situações em que tal aconteceu. Recentemente, foi Marta Temido a protagonista, mas o mesmo aconteceu com Eduardo Cabrita, Azeredo Lopes ou Constança Urbano de Sousa.
Sobre este questão, António Costa Pinto, pilotólogo, explicou, em declarações ao Público, que “em primeiro lugar há uma grande autonomia do primeiro-ministro na escolha dos ministérios e por isso uma responsabilidade política muito significativa dos ministros e por isso uma responsabilidade política muito significativa dos ministros perante o primeiro-ministro que os escolheu”.
Já Marina Costa Lobo, também politóloga, concorda que o primeiro-ministro “é a figura central que articula toda a ação governativa, coordena as políticas, e é o principal responsável pela comunicação e nas eleições responde perante os portugueses enquanto representante máximo do governo. Esta marca do governo ‘de primeiro-ministro’ é ainda mais forte quando o governo tem maioria absoluta na Assembleia da República”, apontou a investigadora.
Mesmo assim, António Costa Pinto estabelece uma diferença clara entre o que foram os dois primeiros mandatos de Costa e o atual. “Ter uma grande capacidade de centralização de dinâmicas de reforma e, perante casos extemporâneos na opinião pública, não demitir ministros por pressão de grupos de interesse ou manifestações de rua ou da comunicação social”. O politólogo lembra os “erros de performance” de Pedro Nuno Santos ou de Fernando Medina para estabelecer que se tratam de erros de caráter inédito nos primeiros cinco meses de outro executivo”.
Em perspetiva, Marina Costa Lobo aponta ainda que “o primeiro-ministro perdeu uma ocasião para remodelar depois da Presidência Portuguesa da União Europeia em 2020″ , sendo que “o novo Governo acabou por ser a remodelação parcial que não chegou a haver em 2020”. A investigadora considera que estas mudanças não são da preferência de António Costa, que muitas vezes acaba por remodelar “a reboque de ‘casos’ quando os ministros já estão tão enfraquecidos que não resistem a mais uma má notícia sobre o seu ministério”.
No caso de Eduardo Cabrita, é possível citar, por exemplo, a reforma do sistema de Proteção Civil, os problemas com o SIRESP, as golas inflamáveis, a morte de Ihor Homenyuk às mãos de inspetores do SEF ou o atropelamento mortal de um trabalhador de limpeza de estradas na A6. Só após o ministro ser constituído arguido é que António Costa aceitou a sua demissão – apesar de um pedido anterior de Cabrita para que Costa autorizasse a sua saída.