Chega aberto a negociar OE2026, PS “amuado”. Já há quem lembre a geringonça

António Pedro Santos / LUSA

O presidente do Chega, André Ventura

Ventura empurra PS para canto: “nós assumiremos a responsabilidade” de diálogo. É o fim do “não é não” ou não passa de jogo para viabilizar Orçamento?

O presidente do Chega manifestou-se esta segunda-feira disponível para negociar com o Governo a proposta de Orçamento do Estado para 2026, considerando que o ideal é não haver uma crise política — mas rejeitou ser “muleta” do executivo, bem como os elogios de Montenegro.

“O Chega não só está disposto [para negociar], como vai trazer para o Orçamento do Estado as suas propostas, as suas preocupações, e como entendemos que o ideal é que não haja uma crise política no Orçamento do Estado. Mas alguém quer outra crise política? Queremos ir a eleições outra vez em março ou em abril do próximo ano? O país agora vive para andar de eleições em eleições?”, questionou André Ventura.

Fim do “não é não”?

Montenegro parece cada vez mais próximo de Ventura e, ao mesmo tempo, cada vez mais distante de José Luís Carneiro, que já anunciou abertamente uma rotura com o Governo da AD e de quem Montenegro já disse que não esperava tanta oposição.

Mas o “não é não” anunciado e reforçado por Montenegro referia-se à presença do Chega no Governo e não a diálogo, lembrou Cecília Meireles na SIC Notícias esta segunda-feira.

“Vejo alguma evolução” dos sociais-democratas, confessou de seguida o socialista Miguel Prata Roque, lembrando a geringonça que “em 2015, Bloco de Esquerda, PCP e Verdes também não estavam no Governo, mas na altura CDS e PSD criticaram os acordos de incidência parlamentar do PS com esses partidos”.

“Houve pessoas que foram ao engano” nas últimas legislativas, considera Prata Roque: “votaram no PSD considerando que o PSD não faria este tipo de acordo e agora verificam que há consenso entre Chega e PSD em políticas de imigração, educação e combate à criminalidade”.

E, confrontado com a possibilidade de o Chega, mesmo assim, não estar a ditar a agenda do governo, o socialista coloca o Governo como uma empresa para efeitos de comparação.

“Quando o acionista principal tem apenas 30% e o outro tem 21%, de facto quem controla a gestão da empresa é quem tem 30%, mas as deliberações não são tomadas se não houver votação favorável por parte do sócio minoritário. Aqui a situação é essa: o PSD não consegue fazer passar as suas medidas no parlamento se não tiver o apoio do Chega.

“Menino amuado”?

Cecília Meireles diz que haverá a colaboração “que o PS quiser”.

“Era o que faltava o PS agora comportar-se como um menino mimado”, reforçou: “‘ou só falam com o PS ou nós amuamos e não aprovamos mais nada’. Estão amuados com o país?”, questiona a comentadora.

“PS é cada vez mais irrelevante…”

Esta segunda-feira, o líder parlamentar do PS, Eurico Brilhante Dias, acusou o primeiro-ministro de normalizar a extrema-direita e de escolher o Chega como parceiro preferencial de governação, reagindo à entrevista de Luís Montenegro à Antena 1 na qual o chefe do executivo se manifestou surpreso com a ameaça do PS de romper com o Governo e considerou que o Chega “está a começar a mostrar” maior responsabilidade.

André Ventura criticou duramente o PS, acusando os socialistas de “pura infantilidade” e “criancice“.

“Quando oiço José Luís Carneiro [líder do PS] dizer que afinal vai votar contra o Orçamento do Estado e que essa responsabilidade agora é do Chega, tudo certo, nós assumiremos essa responsabilidade e vamos dialogar para assumir essa responsabilidade em prol da estabilidade e do país”, afirmou.

Apesar de se manifestar aberto a dialogar com o executivo sobre este documento, que começa a ser debatido pelo parlamento em outubro, André Ventura salientou que em democracia “tem de haver alternativa” e rejeitou ser “muleta do Governo”.

“Não podemos deixar de dizer que o PS é cada vez mais irrelevante no ponto de vista parlamentar, e este é um facto. O que acresce outro problema: se o PS é cada vez mais irrelevante, há uma alternativa ao PSD e essa alternativa é o Chega, e isso significa que o Chega também tem que se apresentar como alternativa e não como muleta do Governo”, sustentou.

Interrogado sobre o facto de Luís Montenegro ter atribuído ao Chega uma postura de maior responsabilidade, Ventura disse não querer elogios, mas sim “trabalho”.

“Eu não vivo nem dos elogios do primeiro-ministro, nem de nenhum político. Eu quero é trabalho, e quero que o primeiro-ministro mostre esse trabalho, e esse trabalho mostra-se cortando com o sistema, cortando com os carreirismos e cortando com os tachos. É assim que se faz, eu prefiro menos elogios e mais trabalho”, disse.

ZAP // Lusa

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