Governo dá “cheques avulsos” e Costa ainda terá muitos “embaraços” por causa da TAP

European Committee of the Regions / Flickr

Ana Gomes, ex-eurodeputada do Partido Socialista

Ana Gomes volta a criticar decisões do Governo e do próprio primeiro-ministro; o problema é que não há alternativa no outro lado.

Ana Gomes continua a não hesitar no momento de criticar o próprio Partido Socialista, que conseguiu maioria absoluta para formar Governo, no ano passado.

Essa maioria absoluta é alvo de reparos por parte da antiga eurodeputada, que acha que toda a conversa à volta da eventual dissolução da Assembleia da República está a “desviar o Governo daquilo que é essencial, que é ter à partida maioria absoluta e governar, fazer a diferença, reformar o país”.

“É isso que os portugueses querem. Foi para isso que lhe deram a maioria absoluta. E não vêem nada”, atirou, em entrevista à rádio TSF.

Pelo contrário, avisa Ana Gomes, os portugueses sentem-se “atolados numa crise que tem, obviamente, razões não apenas nacionais, mas europeias e até globais. Mas o governo não faz aquilo que devia fazer”.

E aí surgiu a lista dos erros do Governo: “Toma medidas assistencialistas, distribui cheques avulsos, não há planeamento de políticas, não há investimento público”.

“Somos dos países de mais baixo nível de investimento público na União Europeia. E, portanto, a ambição é zero, é mínima. Quando o governo apresenta números de 1,8% de crescimento para o período de 2024 a 2027 em Bruxelas, no quadro do PEC, estamos condenados à cepa torta”, alertou.

O problema é que, no outro lado da Assembleia, não há alternativa: “Marcelo Rebelo de Sousa não podia dissolver, de maneira nenhuma, sobretudo porque já tinha uma vez dissolvido e ainda porque sabia que não tinha alternativa”.

A direita não é alternativa neste momento. Está demasiado fragmentada e não é alternativa. Nem com a extrema-direita, nem em aliança com a extrema-direita. E penso que apesar de tudo, o Presidente hoje percebe que isso é inaceitável em termos nacionais e europeus”, explicou.

E a questão já vem de trás, de acordo com Ana Gomes: “O Presidente não devia ter aceitado o impulso do primeiro-ministro de desfazer a geringonça e de partir para a dissolução. O Presidente não contava – aliás, também penso que António Costa não contava – com a maioria absoluta. Nenhum contava nem a queria”.

As polémicas recentes à volta de João Galamba deixam o primeiro-ministro António Costa “amarrado” ao ministro das Infraestruturas: “É uma escolha dele, claro, e ele melhor do que ninguém saberá, mas penso que tem consciência das vulnerabilidades, como todo o PS tem”.

“Mas, no fundo, conta com o efeito pára-raios, porque ainda muita coisa vai sair, digamos, do saco, designadamente, do saco das infraestruturas da TAP, com a comissão de inquérito a decorrer”.

Aliás, Ana Gomes acha que a Comissão de Inquérito Parlamentar sobre a TAP “tem o potencial de trazer a lume muitas questões embaraçosas para o primeiro-ministro”.

“Designadamente, todas as questões que têm a ver com o período da reversão da privatização que foi feita no primeiro governo de António Costa. O amigo dele, Diogo Lacerda Machado, na administração da TAP por nomeação do primeiro-ministro, não podia não saber do “esquema macaco”, digamos, da troca dos aviões e com todos os outros”.

Mas esses “embaraços” só vão surgir se os deputados fizerem o seu trabalho no Parlamento: “E aquilo que vi na terça-feira, na Comissão de Economia, não me sugeriu que houvesse muito interesse em escavar…”.

ZAP //

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