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Mais de 40 países vão ajudar a Índia. França e Chile com desconfinamento gradual

Piyal Adhikary / EPA

Enquanto a Índia se prepara para receber equipamentos médicos de 40 países, a Argentina reforça as medidas de emergência, numa altura em que os hospitais estão sobrelotados. Já o Chile opta pelo desconfinamento gradual e França prepara a reabertura faseada até 30 de junho.

Argentina reforça as medidas de emergência para prevenir novos contágios de covid-19, numa altura em que alguns hospitais já se encontram com todas as camas ocupadas nos cuidados intensivos

A Índia anunciou esta quinta-feira que receberá nos próximos dias medicamentos e equipamentos de oxigénio de mais de 40 países, no âmbito de um compromisso internacional para ajudar este país que enfrenta uma devastadora segunda vaga de casos de covid-19.

Perante a escalada de novos casos de infeções pelo novo coronavírus na Índia, que tem registado nos últimos dias novos recordes mundiais de contágios e enfrenta o colapso do sistema de saúde, a comunidade internacional, em resposta aos pedidos de Nova Deli, mostrou sinais de mobilização para ajudar o país.

Portugal foi um desses casos, tendo divulgado, na terça-feira, que ia enviar para a Índia medicamentos antivirais e oxigénio.

“Face à escalada do número de casos de covid-19 na Índia (…), Portugal já manifestou a sua disponibilidade para contribuir de forma solidária (…) para os esforços da comunidade internacional em resposta ao pedido de apoio do Governo indiano”, anunciou, na terça-feira, o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE), afirmando ainda que estava a ser avaliada a forma mais eficaz de transportar o material médico.

A iniciativa inscreve-se no quadro da União Europeia (UE), através do Centro de Coordenação de Resposta a Emergências.

Numa conferência de imprensa, o secretário dos Negócios Estrangeiros indiano, Harsh Shringla, afirmou que o país espera receber nos próximos dias remessas de produtos farmacêuticos, toneladas de oxigénio líquido e equipamentos geradores de oxigénio de mais de 40 países.

Harsh Shringla destacou que neste momento as prioridades estão centradas na distribuição de oxigénio líquido, atualmente em escassez neste país com mais de 1,35 mil milhões de habitantes e que ultrapassou, nas últimas 24 horas, a barreira das 18 milhões de infeções.

“Também verificámos a necessidade (de distribuição) de qualquer equipamento que produza oxigénio, como geradores, concentradores, tanques-cisterna criogénicos, equipamentos de transporte”, acrescentou.

Apesar de o país ser produtor de medicamentos como o Remdesivir ou o Tocilizumab, os hospitais indianos estão a precisar urgentemente de mais doses destes fármacos antivirais para tratar os doentes covid-19 que apresentam um quadro clínico mais grave.

“Pretendemos adquirir 400.000 doses de Remdesivir do Egito e também estamos a agilizar esforços para obter doses dos Emirados Árabes Unidos, Bangladesh e do Uzbequistão”, disse o representante indiano.

A empresa de biofarmacologia norte-americana Gilead, que desenvolveu o medicamento antiviral Remdesivir, vai igualmente fornecer ao Governo indiano 450.000 doses do fármaco. Outras 300.000 doses do medicamento Favipiravir, procedentes da Rússia, também devem chegar ao território indiano.

Os Estados Unidos anunciaram na quarta-feira o envio de equipamento médico avaliado em mais de 100 milhões de dólares (82,4 milhões de euros) para ajudar a Índia no combate à pandemia, devendo o primeiro carregamento chegar ainda hoje.

A par da ajuda internacional, a Índia está a concentrar as suas esperanças numa ambiciosa campanha de vacinação para acabar com a crise pandémica. Até ao momento, mais de 150 milhões de doses foram administradas no país desde o início da campanha, em janeiro.

A Índia registou um novo recorde mundial de contágios, com 379.257 casos nas últimas 24 horas. No mesmo período, o país contabilizou mais 3.645 mortes, um novo máximo no país. O país registou recordes diários em seis dos últimos sete dias.

Hospitais sobrelotados. Argentina reforça restrições

A Argentina tenta evitar uma hecatombe nos hospitais devido à situação pandémica vivida no país, enquanto o Chile opta pelo desconfinamento gradual após uma quarentena rigorosa de um mês.

A situação pandémica dos dois países vizinhos, apesar de ser antagónica, está a produzir consequências semelhantes na saúde, numa altura em que as infraestruturas hospitalares se encontram sobrelotadas.

O Chile iniciou o desconfinamento progressivo em 26 bairros localizados em várias regiões do país, que terão a possibilidade de circulação livre durante a semana, das 05h00 até ao recolher obrigatório, a partir das 21h00.

A restauração irá abrir, com um limite máximo de quatro pessoas por mesa, assim como as lojas não essenciais, uma medida há muito esperada pelos comerciantes e hoteleiros do país.

Neste primeiro dia de abertura, e de acordo com dados do Ministério dos Transportes, na capital chilena, o fluxo de pessoas a viajar de metro aumentou quase 10% e o tráfego de veículos em 3% em relação à quinta-feira anterior.

O desconfinamento foi decretado após o número de casos do novo coronavírus se manter inalterado, apesar do sistema hospitalar continuar a apresentar níveis de saturação sem precedentes há semanas, acima dos 96%, números que levaram a Associação Médica (Colmed), a associação comercial de médicos no Chile, a questionar as novas medidas implementadas.

A Argentina, por outro lado, reforça as medidas de emergência para prevenir novos contágios de covid-19, numa altura em que alguns hospitais já se encontram com todas as camas ocupadas nos cuidados intensivos.

Dentro das medidas anunciadas destacam-se a proibição de condução durante a noite e o encerramento das escolas, ainda que sejam especuladas a implementação de mais medidas como o encerramento das lojas e aumentar os controlos das restrições já existentes.

O país regista um total de 283.779 pessoas infetadas com o vírus, das quais 23.718 foram diagnosticadas nas últimas 24 horas, de acordo com os últimos dados oficiais.

As autoridades de saúde argentinas também registaram 348 mortes nas últimas 24 horas, aumentando o número total de vítimas da pandemia para 62.947 pessoas.

Uma das áreas mais afetadas é a capital Buenos Aires, onde as unidades de cuidados intensivos, no setor público e privado, atingem 76,8% da sua capacidade máxima.

Tanto o Chile como a Argentina, assim como o resto dos países sul-americanos, estão a apostar em campanhas de vacinação para atingir a imunidade à covid-19.

O Chile está a dinamizar um dos processos de vacinação mais bem-sucedidos do mundo, com mais de 8 milhões de pessoas (mais de 50% da população) administradas com uma dose, e mais de 43% com duas doses tomadas.

O processo de vacinação na Argentina é mais preocupante, visto que o Governo acordou com a Pfizer para receber mais doses da vacina que ainda não chegaram.

A campanha já administrou uma dose a 6.806.565 pessoas e duas doses a 908.441 cidadãos argentinos.

A ministra da Saúde argentina, Carla Vizzotti, reuniu-se com representantes da Pfizer para pedir informações sobre “possíveis dificuldades” que a produção de vacinas esteja a atravessar, uma vez é “vital para a organização da campanha de vacinação” do país.

Macron anuncia quatro fases de desconfinamento

Já em França, o Presidente da República, Emmanuel Macron, anunciou esta quinta-feira que o desconfinamento vai fazer-se de forma faseada até 30 de junho, com a reabertura progressiva dos museus, restaurantes e cafés, assim como o fim do recolher obrigatório.

Em entrevista coletiva a diferentes meios de comunicação regionais, Emmanuel Macron, anunciou o plano de desconfinamento de França para os próximos meses. Estes diferentes meios de comunicação deveriam publicar as informações de forma coordenada, mas algumas fugas de informação deixam já perceber o que se vai passar.

Até pelo menos dia 19 de maio, as atuais condições vão manter-se, extinguindo-se só a limitação de deslocações a mais de 10 quilómetros e mantendo-se o recolher obrigatório às 19h00. A partir de 19 de maio, o recolher obrigatório passa para as 21h00 e reabrem esplanadas, museus, cinemas e teatros, assim como espaços desportivos cobertos e ao ar livre com protocolo adaptado.

Alguns dias mais tarde, a 9 de junho o recolher obrigatório passa a ser às 23h00 e graças ao passe sanitário, vai ser possível haver espetáculos com mais de 5.000 pessoas e passar a acolher estrangeiros vindos do exterior. Ainda a partir de 9 de junho os restaurantes vão abrir com um máximo de 6 pessoas por mesa e os ginásios vão reabrir, havendo também o regresso da prática dos desportos de contacto.

A última fase começa a 30 de junho e aí vai deixar de haver recolher obrigatório, com ajustes dependendo da situação sanitária no que diz respeito aos grandes eventos.

A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 3.152.646 mortos no mundo, resultantes de mais de 149,5 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Em Portugal, morreram 16.974 pessoas dos 836.033 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde. A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

ZAP // Lusa

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