“A Rússia é invencível”. Putin reescreve a história

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Ekaterina Chesnokova / Sputnik / Kremlin / POOL / EPA

Vladimir Putin num encontro com alunos para assinalar o início do novo ano letivo

O Presidente russo, Vladimir Putin, defendeu que a Rússia é hoje tão invencível como foi durante a Segunda Guerra Mundial, durante um encontro com alunos para assinalar o início do novo ano letivo.

A Rússia é atualmente “invencível”, assim como o foi durante a Segunda Guerra Mundial, disse esta sexta-feira o presidente russo, Vladimir Putin, numa reunião com adolescentes no início do ano letivo.

“Compreendi porque é que ganhámos a Grande Guerra Patriótica: é impossível derrotar um povo com esse tipo de mentalidade”, afirmou Putin, que estabelece regularmente paralelos entre a guerra contra a Alemanha nazi e a que desencadeou na Ucrânia.

Éramos absolutamente invencíveis e, hoje, continuamos a sê-lo”, declarou, citado pela agência francesa AFP.

Na Grande Guerra Patriótica, como é conhecida a campanha soviética durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) morreram 26 milhões de cidadãos soviéticos, entre os quais oito milhões de soldados, de acordo com os dados históricos oficiais.

A história militar da Rússia e União Soviética regista vitórias importantes em conflitos internacionais, como foi a dos Aliados na II Guerra Mundial, mas também duas derrotas claras.

A Primeira Guerra Chechena, entre 1994 e 1996, terminou com uma derrota da Rússia, um cessar-fogo e a autonomia da Chechénia. A Guerra Afegã-Soviética, entre 1979 e 1989, terminou com uma derrota para a União Soviética, que retirou do Afeganistão sem conseguir atingir objetivos.

Ao longo da história, o Afeganistão foi invadido ou ocupado por exércitos estrangeiros, nomeadamente britânicos, soviéticos e norte-americanos, sem nunca ter sido formalmente derrotado. Aparentemente, os afegãos são invencíveis.

A História segundo Putin

O encontro de Putin com os adolescentes coincidiu com o arranque do novo ano letivo e com o início das “Conversas importantes”, cursos de educação patriótica introduzidos pouco depois do início da ofensiva contra a Ucrânia.

O Presidente russo relatou aos estudantes o conteúdo de cartas trocadas entre o pai, que combateu na frente, e o avô. Putin disse ter ficado impressionado com a determinação do avô, que depois de ter perdido a mulher, morta na guerra, ordenou ao filho: “Derrota esses bastardos!”.

“Estes são os nossos valores. Porque não cuidar deles? São a base da nossa existência, da nossa vida”, disse Putin. “E hoje em dia, famílias como esta constituem a esmagadora maioria” da população da Federação Russa, acrescentou.

Moscovo descreve a guerra contra o país vizinho como uma luta existencial, acusando o poder ucraniano de estar nas mãos de neonazis antirrussos ao serviço de um Ocidente determinado a destruir a Rússia.

O ano letivo ficou também marcado pela introdução de um novo manual de História no ensino secundário com a versão de Putin sobre a invasão da Ucrânia por tropas russas em 24 de fevereiro de 2022.

O manual inclui um mapa da Rússia com as regiões ucranianas de Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporijia, anexadas há um ano, embora o exército russo não as controle na totalidade.

Putin descreve as quatro regiões e a Crimeia, anexada em 2014, como territórios historicamente russos que nunca deveriam ter feito parte da Ucrânia.

O líder russo descreveu aos adolescentes as pessoas das “novas regiões” anexadas como “muito talentosas, trabalhadoras, enérgicas”. “Ninguém está de mão estendida, todos estão prontos para trabalhar, só é preciso criar condições”, referiu.

Disse que “as pessoas nas novas regiões” veem o empenho da Rússia em proporcionar-lhes “coisas elementares que foram esquecidas pelas autoridades anteriores”, numa referência à Ucrânia.

Só precisamos de recuperar o atraso, chegar ao nível médio russo. A culpa não é das pessoas que vivem nesses territórios”, acrescentou, citado pela agência russa TASS.

ZAP // Lusa

4 Comments

  1. Deve ser por isso que estão cada vez mais longe de Kiev. Já nem a cheiram e chegaram a estar às portas de Kiev. O mesmo em kerhson, kahrkiv e por aí fora. De derrota em derrota até à derrota final.

  2. «…Não foi a Alemanha que atacou a França e a Inglaterra, mas a França e a Inglaterra que atacaram a Alemanha, assumindo a responsabilidade pela actual guerra […] a União Soviética apoiou abertamente as propostas de paz da Alemanha, pois considerava e continua a considerar que o fim mais rápido da guerra facilitaria radicalmente a situação de todos os países e povos […] Os círculos dirigentes da França e da Inglaterra rejeitaram grosseiramente tanto as propostas de paz da Alemanha como as tentativas da União Soviética de conseguir o mais rapidamente o fim da guerra. Estes são os factos…» – José Estaline

  3. Guerras “desencadeadas” contra a Rússia nos últimos 300 anos.
    Resumidamente:
    Anexação da Estónia e da Letónia, 1700-1721; Anexação da Crimeia, 1783; Supressão da Polónia, 1794-1795; Ocupação da Finlândia, 1808-1809; Guerra Caucasiana, 1817-1864; Anexação da Geórgia, Arménia e Azerbaijão; 1826-1828; Intervenção na Hungria, 1848-1849; Guerra da Crimeia, 1853-1856; Guerra Soviético-Ucraniana, 1917-1921; Guerra Russo-Lituana, 1918-1919; Guerra da Independência da Estónia, 1918-1920; Guerra da Independência da Letónia, 1918-1920; Guerra Polaco-Russa, 1919-1921; Anexação da Íngria Finlandesa, 1919-1920; Invasão e Ocupação do Azerbaijão, 1920; Invasão e Ocupação da Arménia, 1920; Invasão e Ocupação da Geórgia, 1921; Invasão e Ocupação da Polónia, 1939-1941; Tentativa de Invasão da Finlândia, 1939-1940; Ocupação da Bessarábia e Bucovina do Norte, 1940-1941; Ocupação dos Países Bálticos, 1940-1941; Segunda Guerra Soviético-Finlandesa, 1941-1944; Ocupação da Roménia, 1944-1958; Divisão da Alemanha, 1949-1990; Intervenção na Hungria, 1956; Invasão da Checoslováquia, 1968; Invasão e Intervenção no Afeganistão, 1979-1989; Primeira Guerra da Tchetchénia, 1994-1996; Segunda Guerra da Tchetchénia, 1999-2009; Invasão da Geórgia e Ocupação da Ossétia do Sul e da Abecásia, 2008; Anexação da Crimeia, 2014; Intervenção em Donetsk e Lugansk (Ucrânia), 2014 e 2022; Invasão da Ucrânia, 2014 e 2022.
    Forte contribuição para a paz mundial!

  4. “Putin estabelece regularmente paralelos entre a guerra contra a Alemanha nazi e a que desencadeou na Ucrânia”. Tem toda a razão. Na primeira havia um Adolf Hitler, na segunda há um Putin “Hitler”.

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