Vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), Luis de Guindos, disse esta segunda-feira que “a inflação é um mal absoluto” para a economia e advertiu que o cenário “de taxas” que existia há dez ou doze anos “não se repetirá”.
Luis de Guindos fez estas declarações num fórum empresarial na cidade espanhola de San Sebastian, onde defendeu o nível atual das taxas de juro (4,5%) para “reduzir substancialmente” a inflação e convergir para o objetivo de 2%.
O antigo ministro espanhol afirmou que “a inflação é um mal absoluto” para a economia, que afeta especialmente as classes “mais desfavorecidas”, e sublinhou que a “principal contribuição do BCE é tentar reduzi-la o mais rapidamente possível”. No entanto, reconheceu que “a contribuição positiva para a descida da inflação não vai ser tão intensa” como foi nas últimas duas décadas, embora nos próximos meses continue a abrandar.
O aumento das taxas de juro não é popular. É um remédio por vezes amargo” e “sabemos o impacto que tem nas famílias, mas não há alternativa”, disse Guindos, poucos dias depois da presidente do BCE, Christine Lagarde, confessar estar “ciente” da “dor e sofrimento” que o aumento das taxas de juro está a causar às famílias, insistindo que a sua “missão” é a estabilidade dos preços.
“Sabemos que, por exemplo, 30% dos agregados familiares nos Estados-membros têm hipotecas de taxa de juro variável e é difícil, sabemos isso”, sublinhou Lagarde numa audição regular na Comissão dos Assuntos Económicos e Monetários do Parlamento Europeu, em Bruxelas.
“E também sabemos que o preço dos combustíveis, o preço da gasolina nos postos, o preço da energia em geral também está a pesar muito nas famílias com baixos rendimentos”, reforçou a presidente do BCE.
O vice-presidente do BCE confessou ainda que se pedisse um empréstimo optaria por uma “taxa fixa”, mas por uma “razão totalmente pessoal”.
“Sou bastante conservador”, sublinhou, depois de ter brincado com o facto de se tratar de uma “pergunta com rasteira”.
Relativamente à remuneração dos depósitos bancários, Guindos afirmou que já existe um aumento da remuneração dos passivos, nomeadamente dos depósitos a prazo, que “vai continuar”. Aludiu ainda à “prudência” e ao “elevado nível de incerteza” que persiste no cenário atual e admitiu que prevê “estagnação económica” para a segunda metade do ano na zona euro, “muito próxima de cerca de 0%”.
No entanto, do lado positivo da balança, apontou o desempenho do mercado de trabalho, o que explica que, apesar da subida das taxas de juro e da sua transmissão ao custo das hipotecas, os incumprimentos bancários continuem em níveis “muito baixos”, algo que não aconteceu na crise económica que ocorreu entre 2008 e 2012.
Sobre questões fiscais, Guindos afirmou que qualquer imposto sobre os bancos não deve afetar a concessão de crédito ou a solvabilidade das instituições.
O vice-presidente do BCE espera também que a reforma das regras orçamentais da União Europeia (UE) esteja pronta antes do final do ano e salientou que a política orçamental não pode ser uma “barra livre” que colida com a política monetária.
Por último, Guindos salientou que “as alterações climáticas estão aqui” e sublinhou a necessidade de implementar “políticas para tentar limitar o aquecimento global e favorecer a descarbonização”.
“Esta é, fundamentalmente, uma tarefa dos Governos”, alertou.
ZAP // Lusa
No caso do vice-presidente do BCE, Luis de Guindos recebeu um salário base de 356.604 euros em 2020, para estes a inflação pouco importa, sanguesugas