“A fome é o limite”: Argentina acorda com tumultos nos 100 dias de Milei

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Juan Ignacio Roncoroni / EPA

Os 100 dias de governo do Presidente Javier Milei, na Argentina, trouxeram ao país um ajuste fiscal com custos sociais sem precedentes. A paciência social dos argentinos começa a esgotar-se.

Javier Milei completa, esta terça-feira, os primeiros 100 dias de Governo.

Chegou à Presidência com 55,7% dos votos, apenas 10% do Senado e 15% da Câmara de Deputados – e, devido à minoria parlamentar, ainda não conseguiu aprovar uma única lei.

O presidente ultraliberal está a implementar um severo programa de austeridade orçamental no país para controlar a inflação.

Juntamente com uma desvalorização de mais de 50% do Peso Argentino e uma liberalização de preços, o programa tem também um forte impacto no poder de compra dos rendimentos baixos e médios.

Desde que Javier Milei chegou ao poder, em dezembro, a Argentina bateu os recordes mundiais da inflação, os preços subiram 72% e o país está à beira de uma crise de emprego.

“A fome é o limite”

Esta terça-feira, os argentinos saíram às ruas em protesto pela “emergência alimentar” e contra a austeridade na Argentina.

Os diversos confrontos entre polícia e manifestantes aconteceram ao longo da manhã, em vários pontos de acesso a Buenos Aires, coincidindo com os 100 dias no poder de Javier Milei.

O dia de luta em todo o país, sob o lema “A fome é o limite”, responde aos apelos de várias organizações de esquerda radical e movimentos sociais que já estiveram na origem de diversas ações de rua desde o dia em que Milei chegou ao poder, em 10 de dezembro.

Os mobilizadores acusam o governo pela “falta de abastecimento alimentar durante vários meses a milhares de cozinhas comunitárias em todo o país”, obrigadas a “depender dos esforços dos assistentes sociais para encher as marmitas de milhões” de pessoas.

O governo nega ter interrompido o abastecimento, mas diz estar a realizar uma auditoria rigorosa à ajuda e a implementar “um sistema transparente” onde as sopas populares devidamente registadas recebem a ajuda “diretamente” sem os intermediários que o executivo apelida de “gestores da pobreza”.

Paciência social começa a esgotar-se

Desde que assumiu o governo, Milei acumula uma inflação de 71,3%, consequência de uma desvalorização inicial de 120% e da liberalização de preços, muitos dos quais congelados durante o governo anterior de Alberto Fernández, apesar da inflação acumulada de 1.020%.

 

“Os eleitoressabiam que seria assim. Como candidato, Milei nunca mentiu. Sempre disse que haveria um ajuste e que haveria muita inflação no princípio. Por isso, Milei manteve o apoio da opinião pública, apesar dos custos de medidas antipáticas”, explicou à Lusa o economista Luis Secco, diretor da consultora Perspectivas Económicas.

Durante a campanha, Milei prometia usar uma “motosserra” como símbolo do corte nos gastos públicos, prometendo que, desta vez, o ajuste seria pago pelo que chama de “casta política”, a elite do poder que mantém privilégios à custa do Estado. Porém, até agora, mais da metade do esforço veio do efeito de diluição de salários e reformas.

Sob promessa de reverter o défice orçamental anual de 6,1% em 2023, Milei conta como vitória um superávite financeiro nos dois primeiros meses do ano. “A premissa de défice orçamental zero é inegociável”, garante o Presidente.

Segundo a consultora Empiria, com base nos dados oficiais, a média dos salários em janeiro ficou cerca de 7% abaixo do limiar de pobreza, evidenciando a perda generalizada de poder de compra. Nos últimos três meses, os preços de produtos básicos ficaram acima dos praticados na Europa ou nos Estados Unidos, com salários dez vezes menores na Argentina.

“Se a inflação não diminuir de forma clara, provavelmente o apoio [a Milei nas sondagens] cai porque as pessoas vão sentir que fizeram todo o sacrifício sem obter os benefícios. Quanto mais a inflação durar, mais problemático será”, aponta o economista Luis Secco.

O Presidente procura dilatar os tempos, prometendo à sociedade que, “desta vez o esforço vai valer a pena”, enquanto muda de estratégia. O fracasso inicial com medidas ambiciosas sem negociação prévia com o Parlamento ensinou ao ‘outsider’ a importância do ‘jogo de cintura’ político com governadores e legisladores, antes de reenviar os projetos de lei.

“Se Milei tivesse adotado essa postura antes, talvez tivéssemos três ou quatro leis prioritárias aprovadas. Em vez disso, temos uma economia em recessão, uma queda do poder de compra que leva a tensões e pressões sociais. Acredito que o governo ainda tenha chances de conseguir um plano económico mais sustentável, mas estamos no limite para isso e já começam a surgir demoras preocupantes”, observa Luis Secco.

“A pergunta da população em geral é quanto tempo isto aguenta. Nós, economistas, não sabemos por quantos meses vai durar a paciência social, nem mesmo o próprio Milei sabe”, questiona Luis Secco.

ZAP // Lusa

6 Comments

  1. Fome, destruição e morte, é tudo o que se pode esperar da nova extrema direita, neo nazis que se vão instalando na europa e no mundo.
    Votantes do partido de extrema direita portuguesa, ponham os olhos nestas realidades porque, não duvidem, serão as primeiras vítimas.

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  2. Cara Lucinda, não venha com essa conversa gasta da nova extrema direita. Basta ler o paragrafo ” …. várias organizações de esquerda radical e movimentos sociais que já estiveram na origem de diversas ações de rua desde o dia em que Milei chegou ao poder … “, para perceber a vossa maneira de pensar e agir . Já agora leia (https://zap.aeiou.pt/argentina-torna-se-o-pais-com-maior-inflacao-do-mundo-579767) e veja se alguém foi ao engano. Saudações Democráticas.

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  3. “Apenas 10% do Senado e 15% da Câmara de Deputados – e, devido à minoria parlamentar, ainda não conseguiu aprovar uma única lei.” Isso explica como a esquerda já está sabotando o governo, Lucinda, ou quer que eu desenhe?

  4. Caro Luís Manuel.
    Longa vida com saúde, para dela tirarmos as respetivas lições.
    Dentro de dois / três anos conversamos.
    Saudações sensatas, que rimam com democratas

    P. S. – Desculpe, não abro nem confio em links de proveniência desconhecida.

  5. Ó Fabian,
    “A esquerda já está sabotando esse governo” ???
    Só agora??!!
    O Fabian anda muito distraído.
    Há muito, e que tenham muita força e saúde para o derrubarem.
    Esse e todos os da mesma doutrina.
    Ninguém que provou veneno tem vontade de repetir.
    Percebe, ou quer que explique?
    Desenhos não faço. Nasci com as duas mãos esquerdas.
    Mas deixo-lhe os meus cumprimentos
    e votos de melhoras.

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