Em fevereiro, a Argentina registou uma quebra na inflação: 13,2%. No entanto, março ameaça reverter essa tendência, somando à crise inflacionária uma crise de emprego, consideram os especialistas.
Foi no final de janeiro que a Argentina se tornou o país com maior inflação do mundo.
Esta terça-feira, o Instituto Argentino de Estatísticas e Censos divulgou que o índice de inflação de fevereiro foi de 13,2%, descendo pela segunda vez este mês, mas mantendo-se a mais alta do mundo.
A taxa de fevereiro ficou abaixo dos 15%, o que tanto o mercado quanto o governo esperavam, mas a inflação argentina continua a mais alta do mundo.
Depois da Argentina, o Egito teve 11,4% em fevereiro, o Zimbabué chegou aos 5,4% e a Turquia, a 4,5%. Até mesmo a antes recordista de inflação Venezuela registou uma deflação de 0,5%.
Na América Latina, todos os países tiveram inflação abaixo de 0,1% no último mês. A Argentina tem sido a exceção, mas numa pronunciada queda. Em dezembro, teve 25,5%; em janeiro, 20,6%; em março, 13,2%.
No entanto, Março ameaça quebrar a tendência.
“O grande teste de Milei”
“O grande teste para a política económica do governo Milei é março. Será crucial para sabermos se a tendência será interrompida. Em março, virão mais aumentos nas tarifas de eletricidade, gás e água. Os números de altas na primeira semana, sobretudo dos alimentos, não foram bons. A impressão é que será difícil vermos uma nova queda sensível“, observa o economista Ricardo Delgado.
Para não quebrar a tendência de queda, o governo anunciou que vai abrir a importação de alimentos da cesta básica, reduzindo impostos, uma novidade num país com a economia fechada aos produtos importados.
Entre as armas de combate à inflação do Presidente Javier Milei está a diluição de salários e reformas. O governo tem evitado a recomposição salarial, permitindo apenas reajustes bem abaixo da inflação, mesmo que isso leve a economia à recessão.
Mas apesar dessa estratégia, boa parte dos trabalhadores, por mais que estejam empregados, tem caído na pobreza. A queda drástica no consumo, mais cedo que tarde, deverá levar as empresas a cortarem postos de trabalho em linha com a queda nas vendas.
“Quase um terço dos trabalhadores argentinos está abaixo do limiar de pobreza. O governo deve cuidar para que a recessão não se aprofunde e, assim, proteger o emprego. Caso contrário, a recessão pode até reduzir a inflação, mas não se combate a doença com a morte do paciente“, adverte Ricardo Delgado.
Crise de emprego à vista
O cientista político Carlos Fara também relatou à Lusa o panorama pelo qual a economia argentina e os próprios argentinos atravessam: “atualmente, os salários correm atrás da inflação. Porém, existe um risco ainda maior: o desemprego. Podemos passar de uma crise de inflação a uma crise de emprego. Então, se agora o dinheiro não é suficiente, pior será se não houver trabalho”.
À Lusa, Gabriela Morrone, funcionária numa padaria no bairro de Villa Urquiza, em Buenos Aires, desabafa: “Está tudo caríssimo. Já passei das primeiras às segundas marcas. Já reduzi o meu consumo ao mínimo. O único sentido que vejo em trabalhar é não ficar sem absolutamente nada. Trabalho e trabalho, mas o salário nunca é suficiente“.
Desde que Javier Milei assumiu o cargo, em dezembro, os preços subiram 72%.
ZAP // Lusa