A China está a tornar-se o país com maior influência na ONU

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CJCS / Flickr

O presidente da China, Xi Jinping

Há dez anos, a China começou uma operação que lhe tem vindo a garantir mais influência nas Nações Unidas. Agora, o poder que possui na organização mundial protege o país asiático do escrutínio internacional.

De acordo com o Wall Street Journal, quando a China ameaçou restringir as liberdades políticas em Hong Kong neste verão, duas declarações circularam no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas – uma, redigida por Cuba, elogiou a ação de Pequim, e foi apoiada por 53 países; a outra, emitida pelo Reino Unido, expressou preocupação e juntou 27 simpatizantes.

Esta demonstração de força da China foi o mais recente triunfo diplomático para influenciar o sistema de organizações internacional na sua direção. À medida que o governo de Trump se afastou da ordem multilateral estabelecida depois da Segunda Guerra Mundial, a China tornou-se na principal beneficiária, intensificando a sua campanha.

Ganhar influência na ONU permite à China abafar o escrutínio internacional relacionado com o seu comportamento, tanto no próprio país como no estrangeiro. Em março, Pequim ganhou lugar numa equipa de cinco membros que seleciona relatores das Nações Unidas especializados no abuso de direitos humanos – os mesmos que costumavam atacar o país por ter mais de um milhão de uigures em campos de reeducação, em Xinjiang.

O sucesso da China é um enigma para os Estados Unidos e para os seus aliados. Após a queda da União Soviética, as diferentes nações esperavam que a ONU se tornasse num meio para promover a democracia e os direitos humanos.

Agora, numa dinâmica cada vez mais reminiscente da Guerra Fria, a influência de Pequim na ONU ajuda o Partido Comunista Chinês a legitimar a sua reivindicação de que é uma alternativa superior às democracias ocidentais.

“A sensação da China é que este é o seu momento e que precisa de assumir o controlo desses órgãos”, disse Ashok Malik, conselheiro político do Ministério das Relações Exteriores da Índia. “Se controlas partes importantes dessas instituições, então consegues influenciar normas, a política internacional e introduzes a tua forma de pensar.”

O presidente chinês Xi Jinping dirigiu-se à Assembleia Geral da ONU este mês para pedir que a organização desempenhe “um papel central nos assuntos internacionais”, principalmente durante a pandemia do novo coronavírus.

“O sistema governamental global deve adaptar-se à evolução da dinâmica política e económica”, acrescentou Jinping, numa alusão à influência crescente da China e à sua perceção do declínio dos Estados Unidos.

 

Estados Unidos saíram de várias organizações mundiais

Em julho, o governo de Trump retirou-se da Organização Mundial de Saúde, alegando que a deferência das Nações Unidas relativamente à China, permitiu que o vírus se propagasse.

Muitos aliados dos Estados Unidos afirmam que abandonar organizações, como a OMS, oferece à China um presente estratégico. As suas preocupações aumentaram nos últimos meses, à medida que Pequim punia países democráticos por falarem abertamente sobre Hong Kong e Xinjiang, e se envolvia em confrontos mortais na fronteira com a Índia.

Os Estados Unidos estão a desistir do multilateralismo, para nosso grande pesar, e os chineses estão a aderir”, disse Hans Blix, um ex-diplomata sueco, que orientou o programa de inspeção de armas da ONU, no Iraque.

Em março, o governo americano não deu opinião na seleção dos redatores de direitos humanos porque a administração de Trump renunciou ao Conselho dos Direitos Humanos da ONU em 2018. Além disso, os EUA também deixaram de pertencer à UNESCO, Organização Educacional, Científica e Cultural das Nações Unidas, no ano seguinte.

Estas decisões coincidiram com tensões relacionadas com o comércio, gastos militares e outras questões de longa data, que afastaram os norte-americanos dos seus aliados na Europa e na Ásia.

Para a China, tudo isso representa uma oportunidade, explicou Lanxin Xiang, diretor do OBOR, um centro de investigação que liga esse país à Europa.

 

Chineses lideram quatro agências da ONU

Os representantes chineses lideram quatro das 15 agências e grupos especializados da ONU, derrotando as outras nações, que chefiam um menor número. Em março, os Estados Unidos e os seus parceiros realizaram uma campanha para impedir o governo chinês de assumir a liderança de um quinto órgão das Nações Unidas.

No entanto, as vitórias anteriores já tinham colocado a China em posição de moldar as normas e padrões internacionais, principalmente relativamente à aviação, sob a direção da Organização de Aviação Civil Internacional, liderada pelos chineses.

O Secretário Geral chinês da União Internacional de Telecomunicações, que assumiu o cargo em 2015, apoiou a Huawei na sua luta contra os Estados Unidos e fez pressão para que fosse criado um novo protocolo de Internet – que os governos ocidentais pensam que iria fazer com que houvesse uma maior vigilância e censura.

“A China conseguiu tornar a ONU mais chinesa”, disse Moritz Rudolf, fundador da Eurasia Bridges, uma empresa alemã de consultoria que estuda o OBOR.

Os líderes chineses dizem que os seus propósitos nas Nações Unidas são altruístas e que o país estabeleceu um exemplo global sobre como lidar com a pandemia de covid-19.

Embora a China seja a segunda maior economia do mundo, muitas vezes paga taxas como se fosse uma nação em desenvolvimento — como é o caso da União Postal Universal.

Em 2018, a China contribuiu com 1,3 mil milhões de dólares para o sistema das Nações Unidas, apenas uma fração do compromisso anual de 10 mil milhões de dólares pagos pelos Estados Unidos.

Pelo contrário, o país asiático aproveitou empréstimos e outros tipos de assistência para dezenas de nações em desenvolvimento para criar blocos eleitorais e derrotar candidatos e propostas apoiados pelo Ocidente na ONU.

“Infelizmente, há uma ameaça real de que a China vai usar instituições multilaterais para promover as suas próprias iniciativas e os seus próprios valores, em comparação com os valores dos Estados Unidos”, disse Todd Young, senador que apresentou, no ano passado, um projeto-lei para investigar a influência de Pequim.

ZAP //

14 Comments

  1. Para quem defende a China e aqui vemos muitos, aqui está a prova do que sempre defendi.Ainda hoje nao deixaram investigar ou entrar alguem em relaçao ao Covid 19.Esta influencia faz-se por um dos meios eficazes dinheiro a circular, dá pouco e recebe muito para Instituiçoes Internacionais OMS e outras e aplica muito em negocios vitais e influencia em varios Paises.

    • “Para quem defende a China e aqui vemos muitos…”
      Aí, onde??
      Que eu me lembre, além dos chineses, NUNCA vi ninguém a defender a China!…

  2. Mais uma vez, aqui se vê o resultado da “excelente” política externa americana…
    Primeiro abriram as portas e deixaram a China comprar grande parte da sua dívida, empresas, etc e depois abandonam organizações internacionais deixando a ditadura chinesa ocupar o lugar dos EUA… o resultado está à vista!!

  3. Está a tornar-se? Como? Alguém tem duvidas que isso já acontece tanto na ONU como na OMS? Eu não.

    Em relação a OMS (WHO) desde o início da pandemia que o Tedros elogiou o CCP — só não vê quem não quer, ou faz de conta que não vê.

    • Então tu vês muito mal… ao contrário da influência na ONU, a influência do China na OMS é irrisória e, isso só é sequer assunto nos Facebook’s dos rebanhos que seguem “profetas” como o Trump e companhia!…

  4. Cuidado com a China e com os actuais dirigentes chineses, é o que a comunidade internacional deve fazer, nomeadamente nas opções económicas, muitas vezes aparentemente camufladas e com intenções que, à primeira vista, não são visíveis. Os governos ocidentais, face a esta nova investida chinesa, terão que encontrar formas de diálogo permanente entre eles, apostando na intervenção de especialistas do direito internacional e que tenham uma capacidade de discernimento muito elevada. Isto porque, com a China, nada é o que parece.
    Quanto aos Estados Unidos, neste momento crucial do desenvolvimento global, só poderemos apontar críticas. Abandonar todos os locais onde são tomadas decisões que importam ao mundo inteiro, numa altura em que a China claramente evidencia e faz questão de dar a saber ao mundo, que pretende e quer uma nova ordem internacional, comandada pelos chineses, é o mesmo que entregar o ouro ao ladrão, abrindo assim caminho para a desintegração de todos os princípios e valores ocidentais.
    Talvez o actual presidente americano não tenha a sensibilidade suficiente para entender estes fluxos político-económicos dos chineses (como da Rússia), mas existem organizações governamentais que têm o dever de perceber e a todo o custo, gerar influências que tirem o presidente do actual caminho errado que insiste em percorrer. A vitória nunca é dos impetuosos, mas daqueles que, com paciência, sabem esperar. E a China, sabe esperar!
    Todos sabemos que as políticas chinesas não promovem a liberdade, a dignidade e o bem estar das populações.
    Assim sendo, só uma forte união do Ocidente poderá estabelecer um novo equilíbrio, que deixe a China gerir a sua vida interna e a daqueles que lhe acham piada, mas que crie condições fortes, para que o mundo livre, possas continuar a ser Livre.

  5. Tal como fizeram com a OMS (que alinhou pela camuflagem do problema pandémico na China), qualquer dia teremos o alinhamento da ONU com a camuflagem do capitalismo totalitarista do regime chines que utiliza mão de obra infantil e exploração de mão de obra para conseguir a captação de divisas e outo que financiem a expansão e diversificação do seu capitalismo comunista.
    As teorias de que a China procurava apenas o domínio hegemónico da Asia começam a resvalar e começa, agora, a desvendar-se que pretendem algo de muito mais amplo.
    A China nunca teve, historicamente, valores filosóficos ou políticos com a redistribuição de riqueza pelo seu povo e esta verdade histórica continua a nortear a sua actuação com o beneplácito de países desenvolvidos que se submetem ao seu complexo de dominação (Europa) e conta com o apoio dos países do terceiro mundo para quem, a esmola com que a China lhes acena, é a promessa de henriquecimentpo das classes políticas (por exemplo Angola).

  6. Hoje tudo mudou as necessidades do mundo sao outras a ONU nao acompanhou…melhor fechar…

    Temos de criar novas instituicoes que actuam a nivel global com respeito e com poder para impor sua regras. Muitos paises estao de acordo em criar organixacoes fortes mundiais mas nao apoiam fantochadas…

  7. Parece evidente que a ONU deixou de fazer sentido, neste momento defende uma nova ordem mundial, seja chinesa ou dominada pelas grandes corporações globalistas. Devia ser dividida por continentes, tendo uma comissão consultiva mundial sem nenhum poder de decisão, com membros de todos os continentes.
    Igualmente todas as corporações globais, deveriam ser obrigadas a ter subsidiárias continentais autónomas.
    A globalização está a dar asneira, da maneira que que está a evoluir.

  8. Se o mundo ocidental se pôs de cócoras perante os interesses chineses que são muito duvidosos, eles apenas aproveitam a oportunidade dada, se alguém há a criticar serão os políticos ocidentais que põem a economia nas mãos deles e outros asiáticos seguirão-lhe, o exemplo como a Índia e outros, culturalmente vamos caindo nas mãos do islamismo com a infestação de árabes, depois há quem fique surpreso com a ascensão das extremas- direitas.

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