Durante décadas, os cientistas pensavam que o excesso de uma substância especial chamada geleia real é o que elevava uma larva de abelha comum a uma rainha.
Um novo estudo, no entanto, sugere que o que imposta é o que as futuras rainhas não comem.
A geleia real, também chamada de “leite de abelha”, parece-se com muco branco. Mais de metade é água, e o resto é uma combinação de proteínas e açúcares. Glândulas especiais nas cabeças das abelhas operárias secretam o material.
A abelha rainha é alimentada exclusivamente com geleia real, e não recebe pólen nem mel como as suas irmãs proletárias. Alguns descrevem isso como uma castração nutricional. Nas abelhas que não recebem o alimento especial, os ovários murcham, e elas não se tornam rainhas – ou pelo menos era isso que se pensava até agora.
Mas afinal não é assim que as coisas funcionam. Em vez do problema ser o facto de as operárias não receberem geleia real, é o facto de a rainha não receber pólen e mel que faz com que ela se torne realeza.
Genes
Animais radicalmente diferentes podem ser criados a partir de material genético idêntico; uma abelha operária e uma abelha rainha só diferem nos genes que são ativados.
Os genes produzem proteínas que constroem o resto do nosso corpo. Ao manipular o ambiente de sua prole, as abelhas alteram geneticamente os seus corpos através da nutrição.
Sabemos há algum tempo que a dieta das abelhas está envolvida na construção de diferentes tipos de corpos, mas ciência ainda não sabe muito bem como isso acontece. As larvas de abelha rainha são cercadas por geleia real; as abelhas operárias, por sua vez, comem um tipo de pólen fermentado e mel.
Flavonoides
May Berenbaum, investigadora da Universidade de Illinois (EUA) e uma das autoras do estudo, diz que não há uma resposta simples para a pergunta “O que as bebés abelhas comem?”.
Pólen e mel são derivados de materiais de plantas, e como muitos materiais vegetais contêm uma variedade de produtos químicos fenólicos (flavonoides). A geleia real, no entanto, não tem ácidos fenólicos detetáveis.
A partir de pesquisas anteriores, os investigadores sabiam que os flavonoides aumentavam as respostas imunes das abelhas operárias adultas. Trata-se de uma coisa boa, já que tem o efeito colateral de ajudá-las a desintoxicar pesticidas mais rápido.
Os cientistas perguntavam-se, no entanto, como é que as abelhas em desenvolvimento iriam reagir a compostos fenólicos. Para descobrir, alimentaram dois grupos de larvas de abelhas com e sem ácido p-cumárico, um tipo comum de flavonoide. Em seguida, observaram atentamente as diferenças na ativação de genes entre os grupos. Os resultados foram surpreendentes.
Descoberta inesperada
O que faz com que uma abelha rainha seja a rainha? Ela é a única na colmeia que põe ovos. Catorze genes conhecidos estão envolvidos nesse processo. Abelhas rainhas também são maiores e vivem mais do que as operárias.
No estudo, as abelhas criadas na dieta com ácido p-cumárico tiveram ovários significativamente menores do que as criadas sem esse composto.
Num conjunto de genes conhecidos por regular o tamanho do órgão em animais, o ácido p-cumárico alterou significativamente a expressão de mais de metade deles.
Isto pode significar que as abelhas que consomem pólen e mel com flavonoides têm ovários menores e tornam-se operárias. A descoberta foi inesperada, pois os cientistas não estavam a tentar analisar esse aspeto da vida dos insetos, mas sim a sua resistência a pesticidas.
O silenciamento de genes
De acordo com Ryszard Maleszka, da Universidade Nacional Australiana, que não participou do novo estudo, muitos fatores além de produtos químicos podem interferir no que torna uma abelha a rainha: um composto com o nome de royalactin, por exemplo, tem sido proposto como fundamental para o desenvolvimento da rainha.
Maleszka já tinha negado a ideia de que um único composto criava uma rainha. Em 2008, o seu laboratório foi capaz de criar abelhas rainhas sem qualquer consumo de geleia real, silenciando um conjunto de genes.
O verdadeiro poder desta nova investigação pode ser explicar porque é que as abelhas operárias não se tornam rainhas. Em vez da castração química, é este processo de alimentação elaborada que fornece a proteção química para os ovários da rainha, deixando-a longe dos potenciais efeitos tóxicos ou metabólicos das substâncias químicas das plantas.
ZAP / HypeScience
Pois não, é a coroa.
Embora eu seja apicultor a muito tempo, somente hoje estou tomando conhecimento de que não é a geléia real a responsável pra se tornar uma larva de abelhas em rainha, argumento que todos os apicultores tinham como correto.