O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, considera, em entrevista ao Jornal de Negócios hoje nas bancas, que o programa da troika “estava bem desenhado mas mal calibrado”, partindo de défices irrealistas, razão para medidas mais violentas do Governo.
“As medidas tiveram de corresponder aos objetivos traçados e durante algum tempo acusou-se o Governo de querer ser mais troikista que a troika”, explica o primeiro-ministro, dando conta de que a base de partida definida pelo Governo de Sócrates no PEC IV tinha “perspetivas de défice, quer para 2010 como para 2011, irrealistas“.
A ideia de vários economistas de que o Estado deveria apoiar a economia investindo é contrariada por Passos Coelho, defendendo que “o Estado deve ajudar a economia contendo a despesa“.
“Enquanto os investidores externos não acreditarem que nós reduziremos o peso da dívida, não é possível criar investimento direto externo e investimento na própria dívida pública”, afirma Passos Coelho na entrevista ao Jornal de Negócios.
Passos Coelho considera que, mesmo com um desempenho orçamental melhor em 2013, não há qualquer margem de manobra para 2014. A sobretaxa de 3,5% pode manter-se ainda além, já que Passos Coelho não garantiu a descida do IRS em 2015, ano de eleições legislativas.
Passos Coelho lamenta ainda a falta de coragem da direção do Partido Socialista para ajudar o Governo a concretizar o pedido de assistência externa que o próprio PS negociou.
Função pública, PPP e privatizações
Quando questionado se o Governo não terá privilegiado os cortes em salários e em pensões em vez de cortar nas rendas da energia ou nos contratos de parcerias público-privadas, Passos Coelho responde que essa análise invoca “uma grande demagogia no juízo populista”.
“Qualquer ideia que se pretenda vender ao país de que o Governo está a impor um sacrifício exagerado aos portugueses e, em particular, aos funcionários públicos, que era completamente dispensável se tivéssemos a coragem de ir buscar o dinheiro aos ricos, pressupõe uma mentalidade que julgava já afastada do pensamento mediano em Portugal”, defende o chefe do Governo.
Sobre a polémica questão dos cortes nos salários, nomeadamente a insistência do FMI de que Portugal ainda tem de baixar mais nas remunerações no setor privado, Passos Coelho diz discordar desse objetivo, considerando que o privado já corrigiu “em termos nominais cerca de 11% do valor dos salários”.
O primeiro-ministro sublinha que o Governo não pretende “um modelo de desenvolvimento assente em baixos salários”, mas afirma que “não é possível diminuir de forma sustentada a despesa do Estado sem mexer em pensões e salários“.
Passos Coelho admite a abertura a privados das Águas de Portugal e considera também que a TAP não deve conseguir recuperar nos próximos anos sem passar por um processo de privatização.
Rui Rio
O ex-presidente da câmara do Porto, Rui Rio, que tem sido considerado como um possível candidato à liderança do PSD, não é visto por Passos Coelho como um adversário.
Diz olhar para Rui Rio “como uma personalidade do PSD com créditos firmados, um dos nomes de referência do partido”, e sobre uma possível contestação à sua liderança no partido considera natural que “houvesse uma avaliação dentro do PSD do que têm sido estes dois anos e que também pudessem aparecer vozes críticas”.
/Lusa