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Jardins e casas na VCI: proposta da U. Porto para curar a rainha do trânsito

“Ferida aberta no tecido urbano do Porto” tem cura: ligações pedonais e cicláveis e praças também fazem parte do plano da UP para uma das zonas de trânsito mais congestionadas do país.

A Universidade do Porto (U.Porto) elaborou um estudo estratégico para a reconversão total da Via de Cintura Interna (VCI), com problemas de congestionamento de trânsito, que assenta na criação de jardins, ciclovias, habitação e praças, anunciou esta terça-feira a instituição.

O estudo estratégico, elaborado por docentes e investigadores da U.Porto, tenciona transformar progressivamente a autoestrada urbana numa infraestrutura urbana sustentável, integrada e multimodal, referiu, em comunicado.

Motivo pelo qual a UP sugere a construção de coberturas ajardinadas sobre as rodovias, criando ligações pedonais e cicláveis, para atenuar a fragmentação urbana causada pela VCI.

Com o objetivo de reposicionar esta via como um elemento estruturante e de coesão da cidade, a U.Porto propõe a criação de um grande anel verde urbano, estruturado ao longo do traçado da VCI, através da valorização dos espaços verdes e da articulação com parques, contribuindo para a biodiversidade, a qualidade do ar e a mitigação do efeito de ilha de calor.

Citado no comunicado, o arquiteto paisagista e docente da Faculdade de Ciências da U.Porto José Miguel Lameiras explicou ainda que o estudo defende “a requalificação dos principais nós viários da VCI como zonas multifuncionais, capazes de acolher novos espaços públicos, habitação acessível, equipamentos coletivos e, em particular, bacias de retenção para inundação controlada”.

A visão deste novo corredor urbano assenta em princípios de planeamento ecológico e de mobilidade sustentável e é inspirada por casos de sucesso internacionais, apontou.

O projeto inclui ainda a criação de um sistema multimodal de transporte urbano, integrando transporte público em canal dedicado, duas faixas rodoviárias, ciclovias segregadas e percursos pedonais.

“Este sistema permitirá transportar um número significativamente superior de pessoas, com maior eficiência e menor impacto ambiental do que o modelo rodoviário atual”, afirmou José Miguel Lameiras.

“Ao mesmo tempo, contribuirá para reduzir o congestionamento e melhorará a mobilidade interna da cidade, oferecendo alternativas fiáveis de transporte público, inclusive para os movimentos pendulares que diariamente entram e saem do Porto”, acrescentou.

O número médio diário de veículos a circular na VCI no Porto foi de 132,6 mil veículos em 2024, mais 1,1% que os 131,2 mil de 2023, segundo cálculos do Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT) feitos para a Lusa.

O estudo estratégico, que se enquadra no projeto “Porto 2050: Cerzir a Cidade pela VCI” e que será o tema de abertura do novo “Centro de Conferências da Universidade do Porto”, será apresentado na quarta-feira, pelas 17h30, no Salão Nobre da reitoria da U.Porto, numa sessão com entrada livre que também poderá ser acompanhada em direto no Youtube.

O Centro de Conferências da U.Porto, que será coordenado por Elisa Ferreira e Valente de Oliveira, foi criado com o propósito de afirmar a universidade como um espaço privilegiado de diálogo e reflexão crítica sobre os grandes desafios da atualidade, ressalvou a instituição de ensino superior.

Através de um programa regular de conferências, encontros e debates, o centro pretende envolver a comunidade académica, os decisores públicos e a sociedade civil na construção de soluções com impacto na região, no país e no mundo.

Cinco zonas críticas

Candidato independente à Câmara do Porto, Nuno Cardoso discutiu esta terça-feira proposta de requalificação da via, que envolve a criação de jardins e campos desportivos.

“Queremos desmontar a VCI”, avançou ao Porto Canal, garantindo que “nunca poria portagens na via: “isso é uma verdadeira loucura”.

“A Via de Cintura Interna (VCI) é uma ferida aberta no tecido urbano do Porto – cortou bairros ao meio, afastou vizinhos e criou muros invisíveis entre comunidades. A proposta que apresentamos esta terça-feira – o maior projeto de reconciliação urbana do Porto – transforma essa realidade: a VCI deixa de ser um obstáculo e passa a ser um eixo de reconexão, saúde pública e qualidade de vida”, lê-se em comunicado enviado ao ZAP.

“A proposta passa pela intervenção em cinco zonas críticas entre Ramalde e o Freixo, com a construção de novas áreas e equipamentos que não só recuperam o território perdido, como devolvem à cidade o que lhe foi “roubado” pela lógica rodoviária dos anos 90: proximidade, comunidade e bem-estar”, adianta o mesmo comunicado.

ZAP // Lusa

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