Há um oceano de água líquida escondido nas profundezas de Marte, sugerem ondas sísmicas

NASA

A sonda InSight explorou o subsolo de Marte antes de “morrer” no Planeta Vermelho, em 2022.

“Como uma esponja cheia de água”, rocha altamente porosa, cheia de água líquida, deverá estar numa camada subterrânea de profundidade média, revela novo estudo com dados da sonda InSight.

Um enorme reservatório de água líquida pode estar escondido nas profundezas da superfície de Marte, indicando que o Planeta Vermelho pode sustentar vida.

Novas evidências sísmicas, apresentadas num estudo publicado a 25 de abril na National Science Review, sugerem que a água enterrada pode ser equivalente ao volume de um oceano que cobre todo o planeta marciano, a profundidades que variam entre 520 e 780 metros.

Os dados vêm da sonda InSight, estacionada em Marte desde 2018 e “morta” desde 2022, e permitiram analisar as viagens das ondas sísmicas provocadas por terramotos marcianos e impactos de asteroides de 2021 e 2022, segundo o Live Science.

A famosa sonda da NASA identificou uma desaceleração das ondas sísmicas em profundidades entre 5,4 e 8 quilómetros, o que aponta para a existência de uma “camada de baixa velocidade” — exatamente o que se esperaria se rochas porosas estivessem saturadas com água líquida, explicam os autores do estudo ao The Conversation.

“Essa camada é provavelmente uma rocha altamente porosa cheia de água líquida, como uma esponja saturada”, disse Hrvoje Tkalčić, coautor do estudo e professor de geofísica na Universidade Nacional Australiana.São como os aquíferos subterrâneos da Terra.

A crença de que Marte já teve um ambiente rico em água não é nova. Há entre 4,1 mil milhões e 3 mil milhões de anos, a sua superfície apresentava sinais de fluxo contínuo de água, incluindo vales fluviais e deltas.

“Encontrámos indícios de vento, ondas, um local onde não falta areia — uma verdadeira praia de férias“, disse este fevereiro o geólogo Benjamin Cardenas, coautor de um estudo publicado no mesmo mês sobre a descoberta uma antiga linha costeira no vizinho da Terra, cortesia do rover chinês Zhurong.

Mas à medida que o planeta foi perdendo o seu campo magnético, a radiação solar retirou a sua atmosfera e provocou uma enorme queda das temperaturas e a perda de água líquida.

Parte dessa água escapou para o Espaço; parte congelou nas calotas polares ou no gelo subterrâneo; outra parte ligou-se a minerais na crosta. Mas ainda sobrou outra parte, uma misteriosa parte “desaparecida” de água, que os cálculos diziam que existia, mas que não foi identificada — possivelmente, só até agora.

“O nosso estudo indica que é possível que grande parte dessa água antiga tenha se infiltrado através das rochas porosas da superfície e tenha sido retida no subsolo”, disse Tkalčić, que garante que esta água “corresponde às estimativas da água ‘ausente’ em Marte feitas por outros estudos.

Outros estudos apontaram para a possibilidade de gelo ou minerais hidratados poderem estar a esconder essa água sob a superfície marciana, ou rochas a profundidades entre 11 e 21 quilómetros abaixo da superfície.

Esta nova evidência sísmica, no entanto, sugere que há água líquida numa camada subterrânea de profundidade média.

A confirmação direta das novas evidências exigirá missões futuras capazes de perfurar vários quilómetros abaixo da superfície marciana. A confirmar-se, Marte pode já ter sustentado vida no passado e até mesmo sustentar vida, no futuro.

Tomás Guimarães, ZAP //

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