Obrigado, amigo InSight. Calou-se o lander da NASA que esteve 4 anos a fazer ciência em Marte

NASA/JPL-Caltech

O “lander” InSight da NASA colocou o seu sismómetro no solo de Marte no dia 19 de dezembro de 2018. Esta é a primeira vez que um sismómetro é colocado à superfície de outro planeta.

A missão InSight da NASA terminou — após mais de quatro anos a recolher ciência em Marte.

Os controladores da missão no JPL (Jet Propulsion Laboratory) da NASA, no sul do estado norte-americano da Califórnia, não conseguiram contactar o “lander” após duas tentativas consecutivas.

Os responsáveis pela missão concluíram que as baterias do módulo, alimentadas a energia solar, ficaram sem energia – um estado que os engenheiros referem como “dead bus“.

A NASA tinha anteriormente decidido declarar o fim da missão caso o módulo de aterragem falhasse duas tentativas de comunicação.

A agência vai continuar a ouvir qualquer sinal do InSight, por via das dúvidas, mas é considerado improvável que transmita novamente. A última vez que o InSight comunicou com a Terra foi no dia 15 de dezembro.

“Assisti ao lançamento e à aterragem desta missão, e embora dizer adeus a uma nave espacial seja sempre triste, a fascinante ciência que a missão InSight realizou é motivo de celebração”, disse Thomas Zurbuchen, administrador associado do Diretorado de Missões Científicas da NASA em Washington.

“Só os dados sísmicos desta missão do Programa Discovery fornecem uma tremenda visão não só sobre Marte, mas também sobre outros corpos rochosos, incluindo a Terra”.

NASA

A sonda InSight explorou o subsolo de Marte

Abreviatura de “Interior Exploration using Seismic Investigations, Geodesy and Heat Transport”, o InSight propôs-se a estudar o interior profundo de Marte.

Os dados do “lander” forneceram detalhes sobre as camadas interiores de Marte, sobre os remanescentes surpreendentemente fortes, abaixo da superfície, do seu extinto dínamo magnético, sobre o tempo nesta parte de Marte e sobre a imensa atividade sísmica.

O seu sismómetro altamente sensível, juntamente com a monitorização diária realizada pela agência espacial francesa CNES (Centre National d’Etudes Spatiales) e pelo Serviço de Sismos Marcianos gerido pela ETH Zurique, detetou 1319 sismos marcianos, incluindo sismos provocados por impactos de meteoroides, o maior dos quais desenterrou pedregulhos de gelo no final do ano passado.

Tais impactos ajudam os cientistas a determinar a idade da superfície do planeta, e os dados do sismómetro fornecem aos cientistas uma forma de estudar a crosta, o manto e o núcleo do planeta.

“Com o InSight, a sismologia foi pela primeira vez o foco de uma missão para lá da Terra desde as missões Apollo, quando os astronautas colocaram sismómetros na Lua”, disse Philippe Lognonné do IPGP (Institut de Physique du Globe de Paris), investigador principal do sismómetro do InSight. “Abrimos novos caminhos e a nossa equipa científica pode orgulhar-se de tudo o que aprendemos”.

O sismómetro foi o último instrumento científico que permaneceu ligado à medida que a poeira se acumulava nos painéis solares do módulo terrestre, cada vez com menos energia, um processo que começou antes da NASA alargar a missão no início deste ano.

O InSight fez mais do que jus ao seu nome. Como cientista que passou a carreira a estudar Marte, foi emocionante ver o que o módulo de aterragem alcançou, graças  uma equipa de pessoas em todo o mundo que ajudou a fazer desta missão um sucesso”, disse Laurie Leshin, diretora do JPL, que gere a missão.

“Sim, é triste dizer adeus, mas o legado do InSight permanecerá vivo, informando e inspirando”, acrescentou.

Todas as missões a Marte enfrentam desafios e o InSight não foi diferente. O “lander” trazia com ele um espigão automático – apelidado de “the mole” (toupeira) – que tinha a tarefa de escavar 5 metros, ligado a um cabo carregado de sensores para medir o calor dentro do planeta, permitindo aos cientistas calcular quanta energia sobrava da formação de Marte.

Concebido para o solo solto e arenoso visto em outras missões, a toupeira não conseguiu ganhar tração no solo inesperadamente rugoso em torno do InSight.

O instrumento, fornecido pelo Centro Aeroespacial Alemão (DLR), eventualmente enterrou a sua sonda de 40 centímetros ligeiramente abaixo da superfície, recolhendo dados valiosos sobre as propriedades físicas e térmicas do solo marciano ao longo do percurso.

Isto é útil para quaisquer missões futuras humanas ou robóticas que tentem escavar no subsolo.

A missão enterrou a toupeira na medida do possível graças aos engenheiros do JPL e do DLR usando o braço robótico do “lander” de forma inventiva.

Destinado principalmente a colocar instrumentos científicos à superfície marciana, o braço e a sua pequena pá também ajudaram a remover a poeira dos painéis solares do InSight, à medida que a potência começava a diminuir.

Contraintuitivamente, a missão determinou que ao espalhar alguma sujidade presente na pá, sobre os painéis solares durante os dias ventosos, que isso permitia que os grãos em queda varressem suavemente alguma da poeira já presente nos painéis.

“Pensámos no InSight como nosso amigo e colega em Marte ao longo dos últimos quatro anos, por isso é difícil dizer adeus”, disse Bruce Banerdt do JPL, o investigador principal da missão. “Mas ganhou uma merecida reforma”.

// CCVAlg

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