Abir Sultan / EPA
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A “violação cruel e perversa” pode fragilizar ainda mais o ténue acordo de cessar-fogo entre os dois países. Hamas diz que restos mortais foram misturados com outros corpos devido aos ataques aéreos.
Israel acusou esta sexta feira o movimento palestiniano Hamas de matar as crianças Ariel e Kfir Bibas enquanto estavam em cativeiro, em Gaza, e de substituir o corpo da mãe, Shiri Bibas, pelo de uma pessoa desconhecida.
“De acordo com a avaliação das autoridades competentes e com base nas informações disponíveis e nos indicadores de diagnóstico, Ariel e Kfir Bibas foram brutalmente assassinados em cativeiro em novembro de 2023 por terroristas palestinianos”, afirmou o porta-voz do exército israelita Avichay Adraee, na plataforma de mensagens Telegram.
O Hamas afirmou que Ariel e Kfir Bibas, que na altura do rapto em Israel tinham quatro e oito meses e meio, respetivamente, foram mortos por bombardeamentos israelitas contra a Faixa de Gaza.
Kfir Bibas era o mais jovem dos 251 reféns raptados a 7 de outubro de 2023. O pai das duas crianças, de 35 anos, foi libertado no início de fevereiro.
Israel alegou ainda que um dos quatro corpos entregues pelo Hamas não é o da mãe das crianças “nem o de qualquer outro refém israelita”.
“Trata-se de um corpo não identificado”, acrescentou o porta-voz militar, denunciando “uma violação flagrante” do acordo de cessar-fogo por parte do Hamas.
“Apelamos ao Hamas para que devolva Shiri Bibas e todos os raptados”, exigiu.
“De uma forma inimaginavelmente cínica, não devolveram Shiri aos seus filhos pequenos, os anjinhos, e em vez disso colocaram o corpo de uma mulher de Gaza num caixão”, disse o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, citado pelo The Guardian.
“Agiremos com determinação para trazer Shiri para casa, juntamente com todos os nossos reféns — vivos e mortos — e garantir que o Hamas pague o preço total por esta violação cruel e perversa do acordo”, concluiu.
A sua declaração foi feita horas após ter ordenado às forças armadas que conduzissem uma “operação intensa” contra os “centros terroristas” na Cisjordânia, após uma série de explosões em três autocarros perto de Telavive, que as autoridades dizem tratar-se de um presumível ataque terrorista.
O Hamas admitiu a troca dos corpos, e garantiu que os restos mortais de Bibas devem ter sido misturados com outros restos humanos dos escombros, depois de um ataque aéreo israelita ter atingido o local onde ela se encontrava.
De acordo com o The Guardian, esta situação ameaça fazer descarrilar o já frágil acordo de cessar-fogo alcançado com o apoio dos EUA e com a ajuda de mediadores do Qatar e do Egito no mês passado.
Os restos mortais de quatro pessoas foram devolvidos na quinta-feira pelo Hamas ao Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV) e depois ao exército israelita. A entrega ocorre no âmbito do acordo de trégua em Gaza, que entrou em vigor a 19 de janeiro, após mais de um ano de guerra entre Israel e o Hamas.
O ato de entrega de quinta-feira foi criticado pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, que considerou “abjeto e cruel” o regresso encenado.
“Segundo o direito internacional, qualquer devolução de restos mortais deve respeitar a proibição de tratamento cruel, desumano ou degradante”, além de que deve “garantir o respeito pela dignidade do falecido e das suas famílias”, acrescentou a agência da ONU.
Numa exibição encenada em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, combatentes encapuçados e armados do Hamas exibiram quatro caixões num palco, cada um com uma fotografia de um dos reféns, em frente de um cartaz que mostrava uma imagem do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, com o rosto coberto de sangue.
Entretanto, após a entrega, as autoridades da Faixa de Gaza, controlada pelo Hamas, acusaram o CICV de “duplo padrão” no tratamento das pessoas mortas no conflito, consoante se tratem de israelitas ou de palestinianos.
“Enquanto a Cruz Vermelha realiza cerimónias oficiais solenes ao receber os corpos dos prisioneiros israelitas, entrega os corpos dos mártires palestinianos em sacos azuis que são atirados para camiões sem os elementos mais básicos da dignidade humana”, afirmou o chefe do gabinete de imprensa do Governo de Gaza, Ismail al-Thawabta, nas redes sociais.
Para as autoridades da Faixa de Gaza, “esta discriminação flagrante no tratamento reflete dois pesos e duas medidas” e também “expõe a incapacidade internacional para alcançar justiça e equidade”.
Após mais de 15 meses de guerra, que fizeram pelo menos 48.208 mortos e mais de 111 mil feridos, as partes em conflito alcançaram em meados de janeiro um acordo de cessar-fogo, que entrou em vigor a 19 de janeiro e previa a troca de 33 reféns israelitas mantidos em cativeiro pelo Hamas por centenas de palestinianos encarcerados em prisões de Israel.
ZAP // Lusa
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