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José Sócrates recebia dinheiro em envelopes por não confiar nos Bancos

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António Cotrim / Lusa

O ex-primeiro-ministro José Sócrates

A defesa de José Sócrates argumenta que o ex-primeiro-ministro desconfiava do sistema bancário e que foi por isso que recorreu ao amigo Carlos Santos Silva para pedir empréstimos avultados e que, do mesmo modo, pediu que fossem entregues em dinheiro vivo.

“José Sócrates foi investigado durante dez ou mais anos e como ex-primeiro-ministro estava exposto à curiosidade. Por isso, não gostava e não confiava nos modos normais de circulação de fundos”, explicou um dos advogados do ex-governante, Pedro Delille, numa conferência de imprensa, nesta sexta-feira, conforme cita o Diário de Notícias.

A teoria do Ministério Público é que Carlos Santos Silva funcionou como testa-de-ferro de José Sócrates, movimentando um património de cerca de 23 milhões de euros que pertenceria de facto ao ex-primeiro-ministro.

Uma tese que a defesa contesta, alegando que José Sócrates desconfiava dos bancos a tal ponto que solicitava que as entregas do dinheiro, supostamente emprestado por Carlos Santos Silva, fossem feitas em envelopes, transportados pelo motorista João Perna e pelo advogado Gonçalo Trindade Ferreira.

Tanto João Perna, como Gonçalo Trindade Ferreira, bem como Carlos Santos Silva e José Sócrates são arguidos, no âmbito da chamada Operação Marquês, por suspeitos de crimes de fraude fiscal, corrupção e branqueamento de capitais.

Na conferência de imprensa de sexta-feira, os advogados de José Sócrates frisaram ainda que o prazo de inquérito em que o ex-primeiro-ministro é arguido “se esgotou”. Assim, apresentaram ao juiz de instrução criminal um “novo pedido de libertação” do ex-primeiro-ministro.

Os advogados João Araújo e Pedro Delille revelaram ainda que, tendo sido ultrapassado o prazo limite para a conclusão do inquérito, pediram à procuradora-geral da República, Joana Marques Vidal, a “aceleração dos termos do processo“, por forma a que se termine rapidamente com a investigação, acusando José Sócrates ou arquivando o caso.

A defesa de Sócrates alega que existe um despacho do procurador Rosário Teixeira, que comprova que o inquérito relativo a Sócrates resultou de uma certidão extraída do caso Monte Branco e que a investigação foi iniciada a 17 ou 19 de julho de 2013, pelo que, no limite dos limites, e tendo em conta a especial complexidade do processo, o inquérito devia ter terminado a 19 de janeiro deste ano.

“Fica evidente que o prazo de inquérito se esgotou (…), o que significa que o inquérito teria deixado de estar sujeito a segredo de justiça, passando a vigorar por força da lei o regime da publicidade interna – com a consequência de serem nulos todos os atos processuais praticados em violação desse regime”, precisou João Araújo.

O causídico entende que os factos descritos suscitam “fortes suspeitas” relativamente “à legalidade e à isenção da ação do Ministério Público português“, tendo em conta os “inaceitáveis atrasos na promoção dos atos de inquérito”.

Aquele advogado de Sócrates anunciou também que impugnará a decisão de vedar à defesa a certificação e o acesso ao expediente relativo à carta rogatória remetida às autoridades suíças, notando que foi sob invocação desta carta rogatória e da necessidade de proteger o seu resultado que foi decretada e mantida a prisão preventiva do antigo chefe de governo, em nome do perigo da perturbação da prova.

A perturbação de prova – adiantou – é o único fundamento que resta, depois de o Tribunal da Relação de Lisboa ter reconhecido inexistir também o invocado perigo de fuga.

A defesa considera que o procurador do MP terá ocultado à própria PGR a carta rogatória que foi enviada às autoridades suíças a 05 de novembro de 2013 e cuja resposta terá sido recebida ainda em novembro de 2013, pois o encerramento formal do procedimento rogatório pelas autoridades suíças ficou suspenso, aparentemente a pedido do MP português, até ao início de 2015.

Sustentam ainda que o único facto novo que resulta da carta rogatória é o de que (ao contrário do que tem sido divulgado) José Sócrates “não aparece nos documentos e nos movimentos bancários investigados associado como titular, cotitular, beneficiário ou em qualquer outra qualidade como interveniente nas contas investigadas”.

A defesa de Sócrates anunciou também que apresentou uma reclamação da decisão desfavorável da Relação de Lisboa, que manteve a prisão preventiva do ex-líder do PS, tendo também recorrido para o Pleno da Secção Criminal do Supremo Tribunal de Justiça da decisão de indeferimento do pedido de ‘habeas corpus’ (libertação imediata). Em ambos os casos, estava em questão a alegada incompetência material do Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC) para instruir o inquérito a José Sócrates.

Os advogados entendem que seria o STJ o tribunal competente para realizar o inquérito ao ex-primeiro-ministro, tendo em conta as funções que exercia.

A defesa argumenta que Sócrates não ocultou nada e esclareceu tudo e que não pode ser julgado por enriquecimento ilícito, porque esse crime “não existe” e mesmo que venha a ser aprovado em breve no ordenamento jurídico, não terá efeitos retroativos.

João Araújo negou que alguma vez tivesse dito que Sócrates era um “preso político”, mas admitiu que “todos os processos são políticos”.

ZAP, Lusa

12 Comments

      • Ainda não se apercebeu de que é transversal à imprensa… Num qualquer motor de busca digite – caso socrates – Se optar pela pesquisa Google obtém à data cerca de 6 520 000 resultados em 0,38 segundos ! Sabemos que graça certa ‘santa ignorância’…
        Imagino-a nos corsos de megafones em riste ao quatródomo com o hino a plenos pulmões “…obrigado pela vida(inha) Sócrates…”
        Será que percebeu e tem idade de votar !?! É legítimo… Até os rebanhos… Sem cães de pastoreio – Ali e na Venezuela. É certo.

  1. E tem muita razão em não acreditar. Como se tem visto, o sistema bancário está bom para os trafulhas. Fez muito bem, Sr. Sócrates!

    • Aplauso solitário não deixa de ser aplauso por mais surdo que seja…
      Sempre haveria o colchão… Ou a meia do pé do outro! Né Sr. B.?

  2. Isto já enjoa, já ninguém acredita na lei. Não sei se Sócrates roubou ou não, mas ao fim de tanto tempo, começo a acreditar que afinal o tão famoso e esperto juíz, não encontrou ainda ponta por onde se lhe pegue, e ate pergunto: Sr. Doutor,.. quem lhe mandou ou instruiu a tomar estas atitudes ( correctas ou não ) neste processo.?Isto já cheira mal, quem procede como o Senhor procedeu, com tantas certezas e agora, ao fim de 4 meses ( prolongados) não consegue dar peido que mau cheiro tenha,… como vai o Senhor descalçar a bota? Pode ter toda a razão,… mas ao fim de todo este tempo, ninguém o acredita. Não haverá de facto uma força politica que o convidou? Veja como se safa, porque esta difícil…

    • A formalização de acusação em qualquer “processo de extrema complexidade” (pode levar 3 a 12 meses salvo erro) deve salvaguardar eventuais “rabos de palha” de entre outras, em questões do foro processual… Sabemos que questões processuais deitaram por terra factos inequívocos de delito por exemplo com escutas.
      Fora dos gabinetes ou tribunais, o povo espera que a acusação produzida seja consistente, inequívoca e que não deixe galhos para a defesa se pendurar… +E que que for: Fotocópias… aquilo de que gosto muito e podes deixar um pouco à Leopoldina…
      Milhões em movimento interbancário, contas dos outros movimentadas em contravalor, sempre com o mesmo destino e pessoal à volta! Dizia-se que nem tinha sido ouvido! Afinal… Bem afinal “não acredita no sistema bancário…” 2 andorinhas não fazem a primavera BPN e GESBES! Né?

  3. Em casos de especial complexidade, os arguidos podem ficar presos até 12 meses e após formalização de acusação e o processo ir a julgamento a preventiva sobe para 20 meses e ir até três anos, incluindo o julgamento e sentença (primeira instância)… Depois, bem depois um rol de recursos até ao constitucional !?! Anos a fio.

  4. Vai haver, muito boa gente das manif´s pro socrates, que não vão saber onde se esconder com vergonha… Esperem pelas provas da acusação e vão ver…
    terão sempre a opção de continuar a dizer que o Benfica não tem cor vermelha predominante…e que o céu não é azul….

  5. Para alguns serem espertalhões, há sempre muitos que são parvalhões – estes advogados não se enxergam, mas ainda têm um “tempo de antena” enorme nos media… quanto aos argumentos “jurídicos”, cada escavadela a sua minhoca – é um espectáculo muito triste!

  6. Apenas para os menos atentos: Sócrates não é, e ao que parece não será, acusado de roubo… Pela Santa Abrenúncia da Purificação do Sacramento e Anzol ao Andor – Carregal da Mexilhoeira de Carregação de Leste e do Salitre – Campo dos Repolhos de Alhada de Cima – O voto é legítimo e “em consciência”…

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