Os dois assassinos confessos da ex-vereadora e ativista brasileira Marielle Franco e do seu motorista Anderson Gomes foram condenados esta quinta-feira a penas de 78 e 59 anos de prisão pelo 4.º Tribunal do Júri do Rio de Janeiro.
O ex-agente da polícia Ronnie Lessa, autor do assassinato de Marielle Franco e do seu motorista, foi condenado a pena de 78 anos e 9 meses e 30 dias de prisão.
Já Élcio Queiroz, motorista do carro usado no crime, foi condenado a 59 anos e 8 meses e 10 dias.
A sentença dos dois autores do assassinato, que chocou o Brasil e teve repercussão mundial, foi decidida por um júri com 7 homens, sorteados entre 21 pessoas.
Nascida e criada na favela da Maré e eleita pelo Partido Socialismo e Liberdade, Marielle Franco vinha de um encontro com mulheres e ativistas negras quando foi morta, por volta das 21h00 do dia 15 de março de 2018.
A vereadora seguia acompanhada da assessora, numa viatura conduzida por Anderson Gomes. Imagens de câmaras de segurança mostraram que o carro foi perseguido por duas viaturas.
Poucos quilómetros depois, no centro do Rio, uma das viaturas encostou ao carro onde seguia a vereadora. Do banco de trás foram disparados 13 tiros. Quatro das balas atingiram Marielle no pescoço e na cabeça, e três as costas de Anderson. Os dois faleceram imediatamente, a assessora escapou sem ferimentos graves.
Socióloga de 38 anos, batizada de “filha da Maré” por ser originária da favela brasileira com o mesmo nome, uma das áreas mais violentas da cidade, era a relatora da comissão da Câmara de Vereadores do Rio criada para fiscalizar a intervenção militar. Foi a quinta vereadora mais votada no Rio de Janeiro nas eleições municipais de 2016, com mais de 40 mil votos.
Após o anúncio das sentenças, familiares das vítimas choraram no tribunal.
Os réus tinham sido arguidos pelos crimes de triplo homicídio, tentativa de homicídio e recebimento do veículo furtado utilizado no crime, e enfrentavam penas que poderiam chegar a até 84 anos de prisão para cada um, conforme solicitado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro.
Já a defesa dos condenados, os advogados Saulo Carvalho, que defendeu Lessa, e Ana Paula Cordeiro, que defendeu Queiroz, pediram para que não fossem incluídas nas condenações a maior parte das agravantes solicitadas pelo Ministério Público, alegando, entre outros argumentos, que os réus colaboraram com a elucidação do crime ao firmarem acordos de colaboração com a Justiça.
Lessa prestou depoimento durante o julgamento e provocou reações ao pedir desculpas aos familiares da vítima, após descrever o crime.
O assassino revelou, ainda, que, antes de Marielle Franco foi cogitada a possibilidade de atacar o ex-deputado e atual presidente da Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Ebratur) Marcelo Freixo.
“Eu preciso de pedir desculpas às famílias. Eu perdi meu pai recentemente e foi horrível. Perder um filho deve ser a coisa mais triste do mundo, um marido. Infelizmente, não podemos voltar atrás no tempo. Ao confessar o crime, aliviei um peso dos meus ombros. Tenho a certeza de que será feita justiça”, afirmou.
O julgamento aconteceu seis anos depois do crime, ocorrido a 18 de março de 2018 e, segundo Lessa, está ligado a um esquema de exploração e especulação urbana orquestrada pelas milícias armadas do Rio de Janeiro.
No depoimento, Lessa também garantiu que a outra vítima do atentado, o motorista do veículo em que Franco viajava, Anderson Gomes, não estava nos planos, numa estratégia de defesa para o inocentar dessa morte.
Como parte do acordo, Lessa revelou que os interesses imobiliários das milícias que atuam no Rio de Janeiro, uma das suas principais fontes de financiamento, chocavam com as alegações de Marielle Franco, então vereadora pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e conhecida pela sua militância a favor das comunidades das favelas.
No mesmo dia em que ocorreram os depoimentos, centenas de manifestantes reuniram-se em frente ao local do julgamento, no Rio de Janeiro, muitos com girassóis e gritando “Justiça!”
Além dos dois executores, em março foram detidos o deputado federal brasileiro Chiquinho Brazão e o seu irmão Domingos Brazão, membro do órgão de fiscalização de contas do Rio de Janeiro, sob suspeita de terem ordenado a morte da vereadora.
Ambos estão alegadamente ligados a grupos paramilitares criminosos, conhecidos como milícias, que cobram ilegalmente aos moradores por vários serviços, que dominam parte do território da cidade e, segundo as investigações, teriam ordenado que Lessa executasse o crime.
ZAP // Lusa
Assassinato de Marielle Franco
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1 Novembro, 2024 Assassinos de Marielle Franco, a “filha da Maré”, condenados a 78 e 59 anos de prisão