A meditação tem um lado negro — de que não falamos

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Se faz meditação, pode desenvolver ansiedade. Especialistas alertam para riscos de psicoses e depressão.

Um dos tipos de meditação de base budista é a atenção plena. Foca-se no “estar presente”, tendo quem a pratica de se concentrar na perceção de presença num espaço e num tempo. Muitas vezes, a meditação é recomendada por especialistas me saúde mental para combater a depressão e a ansiedade.

Apesar disso, Miguel Farias, professor de Psicologia Experimental na Universidade de Coventry, explica à Science Alert os “contras” da meditação, que tem vindo a estudar.

O investigador começa por alertar para o facto de os primeiros registos de que há conhecimento sobre a prática da atenção plena datarem de há mais de 1500 anos.

A Escritura de Meditação Dharmatrāta, escrita na Índia por uma comunidade de budistas, já registava relatos de sintomas de ansiedade ou até mesmo depressão após a prática da atenção plena. Para além disso, quem a praticava podia também passar por episódios de psicose e despersonalização, ou seja, sentimento de abandono de si próprias e de que o mundo é irreal.

Já em 1976 Arnold Lazarus, investigador de ciência cognitivo-comportamental, tinha alertado para os perigos de “problemas psiquiátricos graves, como depressão, agitação e até descompensação esquizofrénica” que podiam derivar da prática da meditação.

Em 2015, Miguel Farias publicou um artigo que também referia o tema, mas foi só em julho de 2022 que foi publicado na BMJ o estudo mais caro da história da ciência da meditação, como refere o professor.

Este estudo analisou a reação de mais de 8 mil crianças no Reino Unido, e concluiu que a atenção plena não conseguiu melhorar a sua saúde mental. Para as que tinham risco de sofrer de problemas deste tipo, esta prática foi mesmo prejudicial.

Para o investigador, um dos obstáculos ao diálogo sobre o “lado negro” da meditação é a sua comercialização.

Ronald Purser, professor de gestão e professor budista, referiu-se, no livro McMindfulness, à atenção plena como uma “espiritualidade capitalista”. Nos EUA, o negócio da meditação envolve cerca de 2,2 mil milhões de dólares (cerca de 2 mil milhões de euros).

Existem atualmente inúmeros institutos que vendem aulas de meditação ou práticas semelhantes, e até mesmo aplicações de telemóvel para o efeito. Segundo Farias, quando os alunos de aulas de meditação afirmam que esta lhes provoca algum problema, é-lhes dito para continuarem a meditar até que ele desapareça.

Na Internet existem já, no entanto, diversas partilhas de experiências negativas com meditação, bem como, explica o artigo da Science Alert, websites onde se disponibiliza informação sobre as práticas meditativas e até mesmo manuais académicos.

Nos Estados Unidos, a prática de mindfulness já é utilizada em clínicas que tratam pacientes com problemas mentais agudos. Ainda assim, explica o professor, é necessário estar-se informado para praticar meditação por iniciativa própria.

CBP, ZAP //

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2 Comments

  1. A invés de explorarem o lado bom das coisas ruins, exploram as coisas ruins do lado bom, lendo dão completamente vagas, como quase todos as noticias

    • Cara leitora,
      O ZAP tem o dever de dar os lados todos das coisas todas, e o facto de termos dado nos últimos anos inúmeras notícias sobre o “lado bom” da meditação e mindfulness só aumenta a nossa responsabilidade de não deixar de dar uma notícia que contraria as anteriores.

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