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Desacatos em Lisboa estão fora de controlo e já causaram ferido grave. “Odair era um Papa”

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Miguel A. Lopes / Lusa

Autocarro queimado em desacatos no bairro do Zambujal na Amadora.

Autocarro queimado em desacatos no bairro do Zambujal na Amadora.

Dois autocarros e sete veículos foram incendiados, esta quarta-feira à noite, em várias zonas da Área Metropolitana de Lisboa, na terceira noite consecutiva de distúrbios depois da morte de Odair Moniz que foi baleado por um polícia.

A morte do cidadão cabo-verdiano de 43 anos, morador no bairro do Zambujal, na Amadora, desencadeou uma onda de revolta que se espalhou a várias zonas do distrito de Lisboa.

E mais dois autocarros foram queimados depois de outros dois terem ardido na terça-feira à noite. O último autocarro incendiado foi registado na Arrentela, no concelho do Seixal, distrito de Setúbal.

Motorista de carro incendiado em estado grave

O outro autocarro incendiado nesta quarta-feira à noite foi em Santo António dos Cavaleiros, e o motorista do veículo está internado em estado grave no Hospital de Santa Maria, segundo revela a CNN Portugal.

A PSP registou ainda focos de incêndio em caixotes do lixo na Amadora, em Sintra, Oeiras, Odivelas, Barreiro, Lisboa e Almada, na sequência dos desacatos.

Duas pessoas foram detidas nesta quarta-feira à noite na Pontinha, Odivelas, confirmou à Lusa fonte da PSP que não precisou o motivo que levou às detenções.

Na Amadora, houve alastramento dos focos de incêndio para viaturas.

Especula-se que terão ardido sete carros no todo dos desacatos que se registam em locais como Queluz (Sintra), Alfragide (Amadora), Camarate (Loures), Carcavelos (Cascais), Carnide (Lisboa), Mina de Água (Amadora), Corroios (Seixal), Caparica (Almada) e Moita.

“O Odair é como se fosse um Papa”

Um dos líderes da revolta que se iniciou no bairro do Zambujal, onde Odair Moniz vivia, diz em entrevista à SIC que os desacatos “vão continuar”.

As pessoas “estão a agir por impulso” porque “muita gente gostava do Odair”, salienta ainda, de cara tapada, e sem se identificar.

É como se fosse um Papa para eles. Uma pessoa que entra em todo o lado e se respeita”, acrescenta, sublinhando que Odair Moniz “não devia estar morto”.

Odair Moniz teria cadastro por tráfico de droga, mas era “uma pessoa muito querida” em vários bairros de Lisboa.

Os revoltosos querem que os agentes envolvidos na morte do cabo-verdiano assumam o erro.

“Eu errei. Estava com medo, era muito escuro na Cova da Moura, estava muito escuro à noite, e vi tantas pessoas que pensei que tinha de neutralizar o rapaz”, refere ainda o jovem à SIC.

“A situação perdeu o controle”

Quanto aos desacatos, o homem garante que os planos não incluíam queimar o primeiro autocarro da Carris que ardeu, mas assume que “a situação perdeu o controle”.

“O plano era atravessar o autocarro no meio da estrada e usá-lo como escudo” para “mandar as garrafas por cima e nas partes laterais”, refere.

O líder dos revoltosos diz ainda que pediu ao grupo que iniciou os distúrbios para não queimarem carros, nem baterem nas pessoas, nem roubarem telemóveis.

O nosso combate é contra o abuso de autoridade, não contra as pessoas que se levantam às sete da manhã para irem trabalhar”, sublinha ainda, frisando que “o ódio vem de quando nos fazem mal”.

“Puseram-me cabeça dentro da sanita da esquadra”

Vários moradores do Zambujal, da Cova da Moura e de outros bairros da zona de Lisboa relatam os sucessivos abusos da polícia como as causas da revolta.

“Há uns anos atrás, puseram-me a cabeça dentro da sanita da esquadra de Alfragide”, conta um morador de um bairro à SIC Notícias.

“Perguntaram: “Então, já foste batizado?””, diz este morador, salientando que lhe meteram “a cabeça dentro da sanita, o joelho em cima do pescoço e puxaram o autoclismo”.

Susana Valente, ZAP // Lusa

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2 Comments

  1. Coitadinho do traficante de droga, tão boa pessoa que ele era. De certeza que era como o pai natal a distribuir anfetaminas, heroina e crack pelas escolas aos meninos pobres.

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