25 de novembro passa a ser comemorado todos os anos no Parlamento

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Tiago Petinga / Lusa

“Quem quer comemorar o 25 de novembro é quem não tem coragem de comemorar o 28 de maio de 1926”. Deliberação do CDS aprovada, mas não há feriado.

PSD, IL e Chega aprovaram nesta terça-feira uma deliberação do CDS-PP para que a operação militar de 25 de novembro de 1975 seja assinalada anualmente na Assembleia da República, iniciativa que mereceu a oposição das bancadas de esquerda.

Após a votação, em que a deputada do PAN, Inês de Sousa Real se absteve, os representantes do CDS-PP e do Chega aplaudiram longamente, de pé, a aprovação desta iniciativa da bancada democrata-cristã.

Maior consenso mereceu a deliberação da Iniciativa Liberal no sentido de que a Assembleia da República assinale com uma sessão solene o cinquentenário do 25 de novembro de 1975, integrando este momento nas comemorações dos 50 anos da revolução de 25 de Abril de 1974.

PSD, PS, Chega e Iniciativa Liberal votaram a favor do texto proposto pela Iniciativa Liberal, que teve a oposição do PCP e do Bloco de Esquerda, e a abstenção do Livre e da deputada do PAN.

Resultado diferente teve a deliberação do Chega para que o 25 de novembro passasse a ser feriado nacional em Portugal — uma proposta que apenas teve o apoio dos dois deputados do CDS-PP e a abstenção da Iniciativa Liberal.

Contra a iniciativa do Chega votaram o PSD, PS, Bloco de Esquerda, PCP, Livre e PAN.

“Novembro completa abril”

Em plenário, ao longo de cerca de duas horas, travaram-se vários debates acesos em torno do significado histórico do 25 de novembro de 1975, sobretudo opondo CDS, PSD e Chega ao PCP e Bloco de Esquerda.

O líder parlamentar do CDS-PP, Paulo Núncio, apresentou a sua deliberação com elogios à ação de militares como Jaime Neves e o antigo Presidente da República Ramalho Eanes no 25 de novembro. Enalteceu também civis como os líderes de então do PS, PPD e CDS, respetivamente Mário Soares, Francisco Sá Carneiro e Freitas do Amaral. Em contraponto, Paulo Núncio falou na derrota da extrema-esquerda e do Processo Revolucionário em Curso (PREC), evitando-se “um caminho para o totalitarismo” em Portugal.

Novembro é a continuação de abril. Novembro completa abril. Separar as duas datas é um erro histórico que tem de ser corrigido”, completou o deputado Paulo Núncio.

Em abril, quando foi criada uma comissão dedicada ao assunto, Nuno Melo, presidente do CDS e ministro da Defesa, descreveu o 25 de Novembro como um “movimento militar que salvou a democracia em Portugal”.

O presidente da bancada do Chega, Pedro Pinto, acusou o PCP de ter ilegalizado o PDC (Partido da Democracia Cristã) e de ter procurado “instaurar uma ditadura soviética, invadido herdades e apontado armas à cabeça de agricultores”.

Rui Rocha (IL) apontou que “o 25 de abril só é uma data divisiva para quem não ama a liberdade. O 25 de novembro só é uma data divisiva para quem não ama a democracia”.

“Comemorar o 28 de maio”

Com uma visão diametralmente oposta, o deputado do PCP António Filipe acusou a direita parlamentar de procurar reescrever a História e tentar “branquear” o regime do Estado Novo, observando que a reforma agrária prosseguiu após o 25 de novembro e que a própria Constituição foi aprovada pelos comunistas em abril de 1976, “à qual o CDS se opôs”.

António Filipe assumiu que, na sua perspetiva, o 25 de novembro de 1975 abriu caminho “a um processo contrarrevolucionário”, mas salientou que o objetivo do seu partido foi “impedir a guerra civil” em Portugal e que os comunistas continuaram a ser alvo de violência política mesmo em democracia, lembrando então “atentados bombistas” e atos de destruição das sedes do PCP.

Pela parte do Bloco de Esquerda, Joana Mortágua defendeu a tese de que quem tenta valorizar o 25 de novembro “diz 25 de abril mas…

“O 25 de Abril de 1974 foi uma revolução popular, fez-se contra o colonialismo, contra os latifúndios e contra um regime económico dos monopólios. O povo foi ator da explosão revolucionária. O 25 de Abril foi a construção de um sujeito histórico novo”, advogou, chamando “fantasia histórica” a quem quer celebrar o 25 de novembro.

Para a dirigente do Bloco de Esquerda, com o 25 de novembro, a direita parlamentar quer “reabilitar o Estado Novo e diabolizar o Processo Revolucionário em Curso (PREC)”.

Quem quer comemorar o 25 de novembro é quem não tem coragem de comemorar o 28 de maio de 1926“, que instaurou o regime do Estado Novo, completou.

“Comemoramos todos os dias”

O deputado do PSD Bruno Vitorino elogiou a iniciativa do CDS-PP, dizendo que “a democracia e a liberdade não caíram do céu”, que o 25 de Abril de 1974 “não tem donos” e que foi o 25 de novembro de 1975 quem consolidou o regime de democrático em Portugal.

Em relação ao período do PREC, Bruno Vitorino lembrou episódios como o cerco à Assembleia da República, a ocupação de terras, entre outros, mas também se referiu a alegadas ameaças atuais à liberdade proveniente de quem quer sujeitar “crianças a experiências sociais” nas escolas e de quem visa impor “uma cultura de ativismo” própria de “radicais esquerdistas, muitas vezes pagos com os nossos impostos”.

Francisco Assis, que viria a ser elogiado por Hugo Soares (PSD), avisou que o PS ia votar as propostas do dia “com todo o à-vontade de quem não precisa que lhe lembrem que o 25 de novembro é uma data fundamental da nossa vida pública e que nós, exercendo os nossos direitos cívicos, estamos a comemorar todos os dias“.

Neste período do debate, o porta-voz do Livre, Rui Tavares, que ao longo do debate defendeu a necessidade de uma análise distanciada da História e rejeitou uma equivalência entre os 25 de Abril e o 25 de novembro, questionou Bruno Vitorino se sabia de que lado tinha estado o MRPP durante o PREC, lembrando que do MRPP saíram depois alguns dos futuros dirigentes do PSD.

ZAP // Lusa

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4 Comments

  1. O chega quer desvirtuar o 25 de abril apoderando-se do 25 de novembro, uma data com a qual a sua génese nada tem a ver.
    Palhaçada!

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  2. Ze Boia, parece que ainda nao te apercebeste que a proposta vem do CDS, e a Direita e extrema-Direita votaram favoravelmente, mas eu ate compreendo o teu comentario…, pois os Comunas gostam muito de esconder o seu passado NEGRO…, so para enganarem o Povo.

  3. O 25 de Abril sem o 25 de Novembro, teria transformado este Portugal numa permanente ditadura de esquerda, da qual ainda hoje sofremos.
    Eu vi, eu estive lá, nos dois anos pós revolução. O caos!

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