Gémeas tiveram consulta marcada no Lusíadas. Dona Estefânia desmente Marcelo

5

António Cotrim / LUSA

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa

O Hospital Dona Estefânia rejeita ter reencaminhado o pedido das gémeas para o Santa Maria, contrariando as afirmações de Marcelo Rebelo de Sousa.

Antes de receberem o tratamento no Santa Maria, as gémeas luso-brasileiras que receberam o Zolgensma em Portugal tiveram uma consulta marcada no hospital privado Lusíadas com a mesma médica, Teresa Moreno, em dezembro de 2019. A família optou pelo serviço público, cancelando a consulta no Lusíadas.

De acordo com o advogado Wilson Bicalho, a família tentou obter o medicamento mais caro do mundo no Brasil, levou o caso a um tribunal que não decidiu a seu favor e até organizou uma angariação de fundos para tentar fazer o tratamento nos Estados Unidos, que obteve apenas 300 mil euros, muito aquém dos quatro milhões necessários.

Inspirados pelo caso da bebé Matilde, que recebeu o Zolgensma no Serviço Nacional de Saúde (SNS) português, viram em Portugal uma nova oportunidade. A mãe das crianças é cidadã portuguesa desde 2008 e já possuía uma empresa no país.

O cancelamento da consulta no privado foi feita porque, garantem os advogados, em Portugal é habitual enviar casos raros como o das suas filhas do sistema privado para o SNS. “Acresce que até era a mesma médica que estava no privado que a ia receber no público. É um absurdo falar-se de cunha porque, à partida, as meninas já seriam reencaminhadas para o SNS”, afirma Bicalho ao Público.

Recorde-se que a polémica em torno deste caso prende-se nas suspeitas de que o Presidente da República terá interferido para ajudar as gémeas, algo que Marcelo Rebelo de Sousa nega, garantindo que limitou-se a reencaminhar o pedido para o Governo, como é habitual.

A família das gémeas conhecia o filho do chefe de Estado, que enviou um email à Presidência a relatar a sua situação. A investigação da TVI mostra até um vídeo onde a mãe das meninas confessa ter usado os seus “contactos” e um “pistolão” (termo brasileiro para favor ou cunha).

A rapidez na obtenção da nacionalidade portuguesa para as gémeas também levantou questões, com o processo a demorar apenas duas semanas e as crianças a serem tratadas ainda antes de terem números de utente no SNS.

A família contactou ainda o médico José Pedro Vieira, do Hospital Dona Estefânia, através de uma comunicação informal, e recebeu orientações sobre o processo. Simultaneamente, a mãe das crianças conseguiu agendar uma consulta no Lusíadas, e logo depois no Hospital Santa Maria, através de email.

Apesar da polémica que se gerou em torno do caso, os advogados da família enfatizaram que o acesso ao medicamento ocorreu em Junho, após um período de espera considerado normal, “sendo até hoje as crianças que mais tempo esperaram para a aplicação do medicamento em Portugal, e em hipótese nenhuma passaram a frente de qualquer outra criança”.

A família esclarece ainda as questões em torno das notícias de que há duas cadeiras de rodas para as gémeas que ainda não foram levantadas do Santa Maria. A mãe alega que tem falado com a empresa vendedora das cadeiras para poder organizar a vinda a Portugal, visto que o custo de transporte para si e as filhas é elevado e traz muitos desafios logísticos.

Dona Estefânia nega reencaminhamento

O Hospital Dona Estefânia, em Lisboa, negou ter encaminhado as gémeas luso-brasileiras para tratamento com Zolgensma no Hospital de Santa Maria, contrariando o Presidente da República.

Segundo o Presidente, o email do seu filho mencionava que a família tinha “contactado o Hospital Dona Estefânia que tinha dito que seria o Santa Maria, de facto, o hospital adequado para se apurar se, sim ou não, era possível esse tratamento”.

No entanto, o Centro Hospitalar de Lisboa Central, responsável pelo Dona Estefânia, desmentiu esta alegação em resposta à TVI. “Em nenhum dos documentos a propósito deste assunto há referência ao Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte (Hospital de Santa Maria)”, avança.

José Pedro Vieira, responsável da neuropediatria do Estefânia e o médico que foi contactado pela família, confirma esta versão e avança que já esteve a reler os emails que enviou. “Não, nunca dissemos isso. Inferiram a partir de alguma coisa, mas seguramente eu não transmiti essa ideia”, explica o clínico citado pela CNN Portugal.

Estes e-mails foram entregues à Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS), que abriu uma auditoria ao tratamento das gémeas no Hospital de Santa Maria. No Dona Estefânia, diferentemente do que ocorreu no Santa Maria, a direção clínica apoiou as objecções levantadas pela equipa de neuropediatria sobre a viabilidade do tratamento com Zolgensma, devido à falta de evidência científica suficiente.

Ordem dos Médicos pede esclarecimentos

A recente revelação de encontros entre o ex-secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, e o filho do Presidente da República, obrigou Marcelo Rebelo de Sousa a reafirmar, através de uma nota no site da Presidência, que não teve conhecimento de quaisquer diligências no Ministério da Saúde após outubro de 2019.

Lacerda Sales, que não desmentiu os encontros, escolheu não comentar publicamente, preferindo esperar para falar em “sede própria”, nomeadamente no Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) e no inquérito da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS).

Não tenho que desmentir ou confirmar, porque são situações que só em sede própria devem ser tratadas. Não devem ser tratadas na praça pública”, afirma.

O PS chumbou a audição de Lacerda Sales e da ex-ministra da Saúde, Marta Temido, na Assembleia da República, mas a Iniciativa Liberal avança que vai exercer o direito potestativo para impôr estas audiências com caráter de urgência.

Paralelamente, o bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, mostra-se preocupado potencial violação dos “princípios de igualdade e equidade” no tratamento das meninas, e vai avançar com um pedido de informação clínica e técnica junto do Ministro da Saúde.

Já o próprio Ministro da Saúde, Manuel Pizarro, prefere não comentar o caso. “Não me parece que seja adequado, no momento em que ocorrem auditorias e inspeções, duas delas por parte de instituições do Ministério da Saúde, o Hospital de Santa Maria e a IGAS, que faça sentido estar a fazer comentários que possam ser interpretados como condicionando ou até perturbando essa investigação”, declara.

Quanto à família das gémeas, que está no Brasil desde fevereiro, avança ao JN que não pretende regressar a Portugal, alegando sentir-se “diabolizada” e insegura. Os advogados da família insistem que não houve recurso a influências indevidas e que a mãe nunca procurou um tratamento preferencial.

Adriana Peixoto, ZAP //

Siga o ZAP no Whatsapp

5 Comments

  1. Blá, Blá, Blá e mais cunhas, Blá , Blá, Blá Dr e mais cunhas.
    Engana-me que eu gosto, o Rei das cunhas, Blá, Blá,Blá e mentiroso que se farta.

  2. É por esta e por muitas, muitas, muitas outras que podem inventar todo o tipo de impostos, taxas e taxinhas para esmagar o contribuinte que nunca nada vai funcionar quando precisamos de algo… a não ser que seja alguém que vem de fora sem nunca ter descontado um cêntimo, claro.
    Outro mistério neste país é como é que tanta gente chega a posições importantes e de poder com uma memória tão fraca e sem se lembrarem absolutamente de nada do passado recente. Devia ser caso de estudo.
    Mas enfim, lá vamos cantando e rindo e permitindo que estes parasitas suguem tudo à sua volta sem deixarem nada para os outros.

  3. Resumindo: 4 milhões roubados ao povo. Quem foram os ladrões? Resposta: o presidente da república e o governo. Lula, o tal comunista do “nosso querido povo” que não quis o seu país a suportar os 4 milhões. Pobre Portugal e pobre povo, suportamos tudo, esta escória. Votem neles, outra vez.

  4. Um presidente que tem dó dos pobres! Mas quais pobres? Chegamos á conclusão, que o SNS é para servir atempadamente , toda a classe política. Já viram algum político ser tratado no privado? Não! São os políticos mais reles que já passaram pelo poder. Tem todo o estado capturado com bóis para que possam fazer tudo o que quiserem deles, como esse médico que deu a ordem para o tratamento.

  5. O Presidente tem sido muito desmentido. Chega a dar engulhos. Deve ir para tribunal discutir, como tantas vezes, em atitude intimidatória contra tudo e todos, ameaçou. Estamos à espera que vá, como prometido, para tribunal contra quem o desmente, ou seja, contra quem afirma que não está a dizer a verdade. É mais do que evidente que houve cunha de Marcelo. O povo não tem dúvidas.

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.