Ucrânia origina (mais) tensão no Bloco de Esquerda

Tiago Petinga / Lusa

A coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, com José Soeiro e Pedro Filipe Soares

Num tema que nunca foi consensual, a vinda de Lula a Portugal e a ida a Kiev aumentaram o problema interno.

A guerra na Ucrânia é também um assunto partidário em Portugal.

Não só por causa das posições “contra-corrente” do Partido Comunista Português, mas por causa das divergências internas que originou, pelo menos, no Bloco de Esquerda.

O tema nunca foi consensual. Mas a recente visita de Lula da Silva a Portugal e a representação do partido em Kiev, numa comitiva liderada por Augusto Santos Silva, aumentaram o problema.

Pedro Soares, ex-deputado e concorrente de Mariana Mortágua à liderança do partido, é também o líder destes críticos.

Dentro do Bloco, sobretudo para quem critica a líder Catarina Martins e a candidata Mariana Mortágua, há quem ache que o partido está a “querer desculpar Putin”.

Também se considera que o partido deveria ter defendido publicamente, e de forma expressiva, a posição de Lula da Silva sobre a guerra.

Esta moção anuncia que o Bloco deveria criticar a União Europeia e a NATO, neste assunto, porque também essas duas instituições têm apresentado “discurso belicista”, tal como Rússia e Estados Unidos da América.

E, assim, aproveitaria a presença do presidente do Brasil em Portugal para dar “uma lufada de ar fresco no bafiento respirar de uma espécie de pensamento único que vê na guerra aquilo que nunca é uma solução”.

Os críticos acham que o Bloco está a ter a postura do Governo, em relação à guerra na Ucrânia.

“Estas posições rompem com a história do Bloco e com a generalidade das suas resoluções políticas relativamente à NATO anteriores à guerra na Ucrânia”, queixam-se, numa moção alternativa a Mortágua.

O jornal Observador acrescenta outra origem desta tensão: o facto de haver uma representante do Bloco de Esquerda na visita à capital ucraniana: Isabel Pires. A sua inclusão foi aprovada no partido.

É um sinal do “alinhamento” do partido com NATO, EUA, UE e Governo português – o PCP não tem qualquer representante, tal como o Chega.

Mas também na moção de candidatura de Mariana Mortágua, se lêem críticas à NATO em “agressões” e referências aos EUA como “donos do imperialismo “mais perigoso”. No entanto, nada disso altera “a natureza imperialista da agressão russa à Ucrânia, que o Bloco condenou com a mesma clareza com que, ao longo dos anos, denunciou o regime de Putin”.

Já a outra moção, liderada por Pedro Soares, condena a Rússia na invasão da Ucrânia, mas destaca: “Não temos qualquer dúvida sobre o papel agressivo dos EUA e da NATO e a submissão da generalidade dos governos europeus aos seus desígnios expansionistas para o domínio global na disputa com potências emergentes”.

Queremos Putin fora da Ucrânia e a NATO fora da Europa”, acrescentam os críticos internos do Bloco de Esquerda.

ZAP //

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