Fuga de documentos revela plano secreto do Egipto para fornecer 40 mil mísseis à Rússia

Vladimir Putin e Abdel Fattah el-Sisi

Os ficheiros norte-americanos detalham conversas do Presidente egípcio com chefias militares sobre um plano para fornecer armamento à Rússia, que seria secreto para “evitar problemas com o Ocidente”.

Os documentos secretos dos Estados Unidos que vazaram continuam a estar nas notícias. Uma das revelações que está a causar mais polémica é o alegado plano secreto do Egipto, um aliado de Washginton e beneficiário de ajuda humanitária norte-americana, para produzir e fornecer 40 mil mísseis à Rússia.

De acordo com o Washington Post, um ficheiro confidencial datado de 17 de Fevereiro faz o resumo de conversas entre Abdel Fattah El-Sisi, Presidente do Egipto, e responsáveis das suas chefias militares.

Um dos temas terá sido um plano para fornecer armamamento a Moscovo, que Sisi pediu explicitamente para ser confidencial, de forma a “evitar problemas com o Ocidente“. Numa conversa a 1 de Fevereiro, Sisi instruiu um homem referido apenas como Salah al-Din — provavelmente Mohamed Salah al-Din, o Ministro para a Produção Militar — a dizer que os mísseis seriam para o próprio exército egípcio.

O documento refere ainda Salah al-Din disse que daria ordens para que os funcionários trabalhassem horas extra porque isso é “o mínimo que o Egipto pode fazer para repagar a anterior ajuda não-especificada da Rússia”.

A ajuda russa que não é especificada pode ser o trigo. O conflito na Ucrânia tem também deixado a economia egípcia por um fio, tendo em conta que o país árabe é o maior importador de trigo do mundo e mais de 80% das suas compras são feitas precisamente aos dois países envolvidos na guerra. A escalada de inflação têm feito disparar os preços do pão, que é o alimento base da dieta da população.

Este plano arrisca sair caro ao Egipto, visto que, durante décadas, os Estados Unidos deram ao país mais de mil milhões de dólares por ano em apoios. Washington pode ainda impor sanções ao Cairo caso seja confirmada a possibilidade de estar a fornecer armas à Rússia.

Questionado sobre a veracidade do documento, Ahmed Abu Zeid, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Egipto, reforçou que o país se mantém neutro no conflito na Ucrânia.

“A posição do Egipto desde o início é baseada no não envolvimento nesta crise e no compromisso em manter uma distância igual com ambos os lados, enquanto afirma o seu apoio às declarações da ONU e à lei internacional. Continuamos a apelar a ambos os lados que cessem as hostilidades e alcancem uma solução política através das negociações”, refere.

Um membro anónimo do Governo dos Estados Unidos esclarece que, por enquanto, não há indicações de que o plano referido na conversa foi para a frente. O Senador Democrata Chris Murphy, que integra o comité de Relações Internacionais do Senado, lembra que o Egipto é um dos mais antigos aliados dos EUA no Médio Oriente.

“Se é verdade que Sisi está a construir secretamente mísseis para a Rússia que podem ser usados na Ucrânia, temos de fazer uma séria avaliação sobre o estado da nossa relação”, afirma.

O ficheiro não especifica como é que o Governo norte-americano descobriu informações confidenciais internas sobre o Egipto, mas a fuga de documentos indica que as revelações foram feitas pelos serviços de inteligência, o que pode significar que Washington espiou e interceptou comunicações dos seus próprios aliados.

Sabrina Singh, porta-voz do Pentágono, já adiantou que o Departamento de Justiça abriu uma investigação sobre o vazamento dos ficheiros.

Adriana Peixoto, ZAP //

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