Cientistas querem prever ataques de pânico monitorizando os feeds de Twitter

O estudo descobriu que o mau humor, tanto a nível individual como nas interações foi o indicador mais revelador de um ataque de pânico no dia seguinte.

Os dos maiores problemas dos ataques de pânico é que estes surgem sem aviso e, muitas vezes, em situações pouco adequadas, o que deixa os indivíduos sem mecanismos de defesa ou preparação.

Neste sentido, um novo estudo sublinha a forma como os indivíduos podem monitorizar o seu estado de espírito à posteriori para identificar os estímulos, e identificar os eventos potencialmente desencadeadores daquele estado de ansiedade.

Uma equipa de investigadores, liderada por Ellen W. McGinnis, na Universidade de Vermont, quis investigar factores associados ao início dos ataques de pânico. Para isso, utilizaram uma aplicação para smartphone que desenvolveram chamada PanicMechanic, que foi previamente testada num estudo piloto.

Os utilizadores podem usar a aplicação quando um ataque de pânico começa, ao passo que a ferramenta recolhe dados sobre o ritmo cardíaco, os estímulos  que propiciaram a ansiedade, ao mesmo tempo que envia mensagens encorajadoras e tranquilizantes.

“No último estudo, ouvimos dos participantes que embora a utilização da nossa aplicação PanicMechanic tenha sido útil na gestão dos seus sintomas, eles também reportaram dificuldade em lembrarem-se de abrir uma aplicação quando começam a ter um ataque”, disse McGinnis, juntamente com os co-autores Ryan McGinnis e Chris Danforth, ao site IFLScience.

Esse feedback motivou um novo estudo cujo objetivo visa “identificar os indícios de ataques de pânico, com a ideia de, em última análise, ajudar as pessoas a prepararem-se, intervir mais eficazmente, e potencialmente preveni-los completamente no futuro”.

A equipa recrutou 87 adultos que experimentam regularmente ataques de pânico nos Estados Unidos da América, a quem foi pedido que fornecessem os seus dados Apple Watch e preenchessem um inquérito todos os dias durante um mês — para além de utilizarem a aplicação PanicMechanic sempre que tivessem um ataque de pânico.

“Uma vez que tínhamos o objectivo de identificar por que razão os ataques de pânico são desencadeados, precisávamos realmente de seguir as pessoas onde elas experienciavam ataques de pânico na sua vida quotidiana“, explicou McGinnis. “Assim, todos os dias durante um mês, sabemos se tiveram um ataque de pânico, e em que tipos de contexto ocorreram“.

No entanto, não são apenas os factores individuais que desencadeiam ataques de pânico. As pessoas são também inevitavelmente afetadas pelo mundo à sua volta, e a equipa teve de ser criativa para analisar esses fatores mais amplos.

“O Hedonometro é uma ferramenta muito boa que alguns dos nossos colegas desenvolveram como uma avaliação do humor social, avaliando a tipologia do discurso que as pessoas estão a usar no Twitter nesse dia”, explicou McGinnis.

“Introduzimos estes dados no nosso estudo, para fornecer uma medida do que está a acontecer no mundo e de como esses acontecimentos estão a ter impacto nas pessoas da comunidade”.

Os resultados mostraram que 95% dos participantes foram capazes de identificar retrospectivamente um gatilho de ataque de pânico quando confrontados com o mesmo. Os gatilhos comuns incluíam a saúde física dos participantes, assim como conflitos com familiares e amigos.

“Isto é consistente com a nossa investigação anterior, mas muito diferente dos critérios históricos de ataques de pânico (no DSM [Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders]), o que sugere que os ataques de pânico estão na sua maioria associados a ambientes físicos (multidões) ou a um desempenho (provavelmente porque os ataques de pânico foram estudados em relação a distúrbios de pânico e agorafobia)”, explicou McGinnis.

O estudo também descobriu que o mau humor, tanto a nível individual como a nível comunitário foi o indicador mais importante de um ataque de pânico no dia seguinte.

“Poderíamos esperar que fossem os factores de stress do quotidiano que os mais importantes (e não o humor), o que é mais indicativo de felicidade“, disse continuou a investigadora. “Isto pode mudar os mecanismos de intervenção no sentido de aumentar a felicidade, em vez de apenas diminuir o stress“.

De acordo com os investigadores, mais de 28% dos adultos nos EUA relatam ter tido um ataque de pânico pelo menos uma vez. Neste sentido, os investigadores querem desenvolver ferramentas para melhorar a qualidade de vida das pessoas que experimentam o que normalmente é um sintoma imprevisível e muitas vezes angustiante.

“Ao identificar os estímulos, esperamos que esta investigação possa capacitar as pessoas, permitindo-lhes antecipar possíveis ataques e desenvolver estratégias de intervenção que funcionem para elas”.

ZAP //

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