Desconhecido do público, mas influente dentro do partido, Paulo Raimundo foi o escolhido para suceder a Jerónimo de Sousa. Já foi padeiro, animador cultural e carpinteiro e tem como missão devolver ao PCP a imagem de partido dos trabalhadores e de protesto.
Depois de meses com os rumores a arrastarem-se, foi confirmada a saída de Jerónimo de Sousa da liderança do PCP e também do cargo de deputado. Ao fim de 18 anos, o líder comunista abandonou a chefia do partido por razões de saúde.
Se nomes como João Ferreira ou João Oliveira pareciam ser as escolhas mais óbvias para a sucessão a Jerónimo, a verdade é que será Paulo Raimundo o novo líder comunista, uma figura practicamente desconhecida da população em geral, mas influente dentro do aparelho do partido.
Apesar de estar há mais de 20 anos dentro dos órgãos do PCP, há pouca informação disponível sobre a vida e o percurso político Paulo Raimundo. De acordo com o comunicado de imprensa que o partido enviou, o novo líder tem 46 anos e será assim o secretário-geral mais jovem depois de Bento Gonçalves, tendo sido escolhido após uma “auscultação” às estruturas.
Casado e com três filhos, o novo líder cresceu em Setúbal e desde criança que acompanhava a mãe nos trabalhos desta na agricultura, nas limpezas e nas obras, tendo até ajudado muitas vezes a progenitora na apanha de marisco.
A primeira aventura com a política surgiu na adolescência, quando integrou a Associação de Estudantes da sua escola, tendo também entrado para a Juventude Comunista nesta altura, em 1991, aos 15 anos.
Tornou-se militante do PCP aos 18 anos, em 1994, e passou para o quadro de funcionários da JCP em 1995. Integrou a Direcção Nacional da Comissão Política e do Secretariado da JCP e foi eleito na Assembleia Municipal de Setúbal.
Foi conciliando o trabalho, os estudos e a vida política, tendo trabalhado como carpinteiro, padeiro e animador cultural na Associação Cristã da Mocidade (ACM) na Bela Vista. O partido realça que esta experiência profissional permitiu a Raimundo “medir o pulso às contradições do dia-a-dia” e ter noção dos desafios que a classe trabalhadora enfrenta, como a precariedade e os salários baixos.
Aos 20 anos, foi eleito membro do Comité Central, o órgão principal do partido, e foi também eleito em 2000 para a Comissão Política do Comité Central, em 2000. Em 2020, foi eleito para a Comissão Política e para o Secretariado do Comité Central, entrando para um grupo restrito de apenas cinco pessoas que integram estas duas cúpulas do partido, grupo esse de que Jerónimo de Sousa também faz parte.
O PCP destaca as “qualidades humanas próprias a uma experiência densa e diversificada” e considera que Paulo Raimundo tem “um percurso de vida dedicado à defesa dos interesses dos trabalhadores e do povo português”.
Uma voz conciliatória
Paulo Raimundo focou-se sempre mais na proximidade com os sindicalistas e com os jovens em vez de trabalhar na frente institucional, sendo talvez essa uma das razões que explica a sua falta de presença mediática.
José Neves, historiador e ex-militante do PCP, explica ao Público que o novo líder tem “capacidades conciliatórias” e que teve um papel importante na união interna nos anos 90, quando existiam várias alas diferentes dentro do partido. Raimundo “não corresponde à imagem do estalinista pronto a fazer limpezas e a considerar como traidores todos os que não pensam da mesma maneira”, refere.
Dentro do partido, a falta de mediatismo de Paulo Raimundo até é vista como um trunfo, já que lhe dá uma imagem mais próxima da vida real e longe dos joguinhos políticos. O objectivo é que o líder ajude a devolver o lugar de partido de protesto ao PCP, que tem sido maioritariamente assumido pelo Chega nos últimos anos.
No último Congresso do PCP, em 2020, o discurso de Paulo Raimundo já nos deu uma amostra daquilo que pode estar para vir, com uma intervenção virada para as raízes ideológicas do partido — a luta de classes e as críticas ao capitalismo.
“O capitalismo com a sua natureza exploradora, opressora, agressiva e predadora enfrentando a sua crise estrutural, procura apropriar-se dos progressos da ciência e da técnica, aumentar a exploração, concentrar a riqueza e, tudo faz para a pretexto da epidemia atacar direitos ao mesmo tempo que dinamiza uma brutal ofensiva ideológica”, disse na altura.
Os problemas dos trabalhadores “não resultam influência dos comunistas no Movimento Sindical Unitário, são, isso sim, fruto da exploração capitalista e das opções da política de direita dos sucessivos governos do PS, PSD e CDS”, atirou.
Deixou ainda uma promessa: “Estamos e estaremos na luta, que é de resistência, avanços e recuos, uma luta para a qual o movimento sindical unitário terá nos comunistas que nele participam, aqueles que estarão sempre na primeira linha do combate”.
“A solução certa”
No programa O Princípio da Incerteza, da TSF, só o social-democrata Pacheco Pereira é que não ficou surpreendido com a escolha do sucessor de Jerónimo. “As pessoas andam muito desatentas, mas vai haver uma importante conferência do PCP na qual se falava da substituição de Jerónimo. Não é uma coisa que tivesse caído do céu, estava previsto esse processo para daqui a dias. Por outro lado, podia não ser este o militante escolhido, mas seria um militante deste tipo“, considera.
Já dentro do PCP, o ex-líder parlamentar João Oliveira também não ficou supreendido com a escolha. “Foi encontrada a solução certa para substituir Jerónimo, por motivos vários, alguns que serão visíveis só mais para diante”, afirma ao Público, lembrando ainda que Jerónimo de Sousa também sofreu “preconceitos” quando foi escolhido para ser líder e que estes desapareceram com o passar do tempo.
“Falta o conhecimento e o reconhecimento público das qualidades e capacidades de Paulo Raimundo. Este é o elemento que falta”, considera.
Em declarações à TSF, o ex-deputado revela que o novo secretário-geral “tem condições para assumir essas responsabilidades” caso surja a oportunidade de uma nova solução governativa semelhante à geringonça.
Sobre se ficou desiludido por não ter sido o escolhido, João Oliveira, que já tinha dito não ter o perfil certo para liderar o partido, refere que “essa hipótese nunca esteve colocada, a não ser por especulação“.
Do lado de João Ferreira, que tem sido um dos principais trunfos eleitorais do partido — já foi candidato às europeias, autárquicas e presidenciais — e que foi muitas vezes apontado com o sucessor mais óbvio de Jerónimo, a escolha de Paulo Raimundo deixa-o “muito satisfeito.”
“Paulo Raimundo tem um percurso de vida absolutamente singular que lhe dá a experiência, a capacidade e as características adequadas para assumir a responsabilidade de secretário-geral do PCP”, afirma. “Antes de ser candidato ao Parlamento Europeu ninguém sabia quem eu era”, recorda, apostando que Paulo Raimundo será “uma revelação”.
Já relativamente a qualquer decepção que possa ter sentido por não ser o novo líder, o ex-eurodeputado não respondeu directamente. “Para a comunicação social em geral há uma dificuldade que resulta em aplicar ao PCP a grelha de análise que aplica aos outros partidos. Sendo o PCP diferente dos outros partidos, debate-se com uma série de perplexidades”, revela à RTP3.
Pegando aqui no título do ZAP:
O carpinteiro e padeiro que vai suceder a Jerónimo. Quem é Paulo Raimundo?
Arrisco-me a responder: é um futuro coveiro. Sim, depois de carpinteiro e padeiro, será agora coveiro… do PCP.
Isso mesmo, veio para encerrar o negócio.
Gostei!!
Parece a monarquia…
Muito bom…
Internamente não há eleições, não há nada, mas depois dizem-se democráticos e vão a votos. Um partido um pouco estranho.
O destino deste Partido , para não dizer “Quebrado” , está no mesmo caminho que o CDS em termos de representação na A.R . Pouca falta ou nenhuma fazem !
Ó sr. carpinteiro, vc vai fazer o quê para reverter o fim do PCP?