Apenas um em cada 20 dos semáforos de Lisboa tem sinais sonoros para cegos, segundo um inventário feito em várias zonas da cidade, que identifica também diferentes obstáculos à mobilidade das pessoas com deficiência.
“Os semáforos são pouco acessíveis às pessoas com baixa visão quando têm pouca luminosidade nos indicadores e ainda menos acessíveis para os cegos, tendo em conta que apenas cinco por cento dos exemplos encontrados possuíam sinalética sonora”, adianta o relatório final do projeto “Uma Lisboa para todos”.
O estudo, uma parceria entre a Associação de Retinopatia de Portugal (ARP) e a Empresa Municipal de Estacionamento e Mobilidade de Lisboa (EMEL), conclui ainda que, em alguns casos, mesmo quando essa sinalização existe, o volume usado é insuficiente e o sistema funciona apenas de um dos lados da via.
As conclusões do estudo são apresentadas esta quarta-feira, Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, na Feira Natalis, na FIL, no Parque das Nações.
A iniciativa, em que participaram 287 pessoas, 195 das quais com deficiência visual, incluiu a realização de caminhadas por oito percursos diferentes na cidade de Lisboa com o objetivo de identificar e fazer o mapeamento dos pontos de maior dificuldade no caminho das pessoas com cegueira ou baixa visão.
Os participantes no projeto, maioritariamente com idades compreendidas entre os 31 e os 65 anos, identificaram também a colocação errada de pilaretes, a existência de múltiplos obstáculos no passeio, como caixotes do lixo, caixas de eletricidade, placas de sinalização, marcos de correio, entre outros, e a má identificação dos postes de sinalização, dos placards de publicidade exteriores, das escadas, passagens aéreas e de peões.
“O exagerado número e colocação errada dos pilaretes localizados ao longo do percurso, nomeadamente no eixo de atravessamento das passagens de peões, constituem um perigo e obstáculo à mobilidade“, adianta o relatório, estimando que cerca de 70% das passagens de peões avaliadas se encontram nesta situação.
No caso dos placards de publicidade, o relatório alerta para o facto de alguns terem apenas suporte de um dos lados e estarem afastados do solo, o que não permite que sejam detetados pela bengala, fazendo com que os cegos acabem por chocar com eles.
O estado de conservação das ruas é também assinalado pela avaliação, que detetou “inúmeras deficiências” no pavimento, incluindo falta e irregularidades na calçada, lancis danificados, tampas de saneamento e grelhas de sarjeta mal colocadas ou em mau estado e passadeiras com pavimento em mau estado.
O projeto enumerou igualmente algumas das boas práticas que encontrou ao longo dos percursos, como a sinalização de andaimes com cores contrastantes e com proteção ou a existência de semáforos com visores LED, e deixou algumas sugestões técnicas para melhorar a segurança e a mobilidade das pessoas com cegueira ou baixa visão.
A uniformização dos pilaretes com cor contrastantes com o pavimento, semáforos com luzes LED e sinal sonoro, manutenção da pintura da sinalética horizontal, especialmente nas passadeiras, racionalização de postes de sinalização, publicidade e outras indicações, são algumas das propostas.
O relatório propõe ainda que, no futuro, sejam “estudadas outras soluções técnicas facilitadoras da mobilidade das pessoas com deficiência visual, nomeadamente a implementação de faixas táteis sinalizadoras de percursos, zonas de atravessamento e obstáculos” e considerada “a normalização de novas regras de implantação de todo o tipo de sinalética e mobiliário urbano”.
/Lusa