O eurodeputado Paulo Rangel, atual número dois no PSD, defende a regionalização, mas considera que a decisão de Luís Montenegro de adiar o referendo foi a mais correta.
Numa entrevista ao Público divulgada esta sexta-feira, Rangel, que demorou “uma hora, hora e meia” a aceitar o convite de Montenegro, afirmou que não está “na política pela glória, é uma coisa vã e efémera”, sublinhando: “o que temos que pensar em cada momento é como podemos servir melhor o interesse público”.
“Eu e Luís Montenegro conhecemo-nos há 30 anos. No início da minha carreira como assistente, ele foi meu aluno na Faculdade de Direito da Universidade Católica do Porto. Acompanhei sempre o seu percurso. Isso permitiu termos sempre um diálogo muito direto e franco”, contou.
E continuou: “Falamos muito mais vezes e muito mais profundamente do que a generalidade das pessoas imagina. Isto não significa que fôssemos íntimos ou tivéssemos tido sempre as mesmas posições partidárias”.
Sobre o seu percurso político, declarou que uma das coisas que o caraterizam é o facto de “nunca ter medo de perder”. “Nem fico com depressões depois de uma derrota. Não me ponho depois a fazer uma grande introspeção analítica sobre se o resultado podia ser este ou aquele. Não faço esse processo de luto que muitos têm que fazer”, refletiu.
Rangel indicou que o PSD tem atualmente a preocupação de ser “uma alternativa ao socialismo e não um complemento ao PS”, podendo, dessa forma, ganhar as eleições. O eurodeputado referiu que um dos objetivos de Montenegro, é o de “modernizar os partidos moderados. Os partidos moderados ficaram um pouco para trás, na comunicação, no recrutamento dos quadros, na ligação às raízes”.
Para Rangel, “António Costa está a dar força ao Chega”. O primeiro-ministro “é um seguidor cego de [Emmanuel] Macron”, Presidente de França, e este “fez a mesma coisa. Foi valorizar os extremos para garantir que no fim ficava sempre ele a vencer as eleições. Quem quer travar o Chega tem que explicar ao PS que não pode ser cúmplice do Chega só para tentar perpetuar-se no poder à mexicana”.
“Quando a esquerda e o centro-esquerda perceberem isto o fenómeno de radicalização à direita estará condenado. Se por razões puramente táticas estão a fazer o jogo do Chega, estão a dar-lhe gás”, apontou.
Quanto à Iniciativa Liberal (IL), se trata de “um parceiro com quem se pode e deve conversar”, embora acredite que “a conjuntura atual é mais adversa” para esse partido “que a anterior”.
Relativamente ao Serviço Nacional de Saúde (SNS), declarou que Costa “pura e simplesmente o desmantelou”, “por razões ideológicas”. “Com as cativações e a sua forma de olhar para a Saúde pô-la num estado em que ela nunca esteve, nem sequer durante o tempo da troika”, notou.
Sobre o novo aeroporto, defendeu que o “PS tem que explicar o que é que se passou”. “Faz algum sentido um aeroporto estar no meio de uma cidade como o aeroporto da Portela, até pelos riscos? A solução de Pedro Nuno Santos não é de equacionar?”, indagou, afirmando que “todas as soluções são equacionáveis”.
O eurodeputado disse que acompanha a posição de Montenegro sobre a regionalização. “Sou favorável à regionalização. Um dos factores de atraso do país é não haver regiões administrativas, não haver corpos intermédios para o planeamento. Se houvesse regionalização pode ter a certeza que o aeroporto de Lisboa já estava construído”, destacou.
Questionado então sobre o atraso no referendo, disse que Montenegro “fez uma coisa que recentra o debate político onde ele deve estar”, por duas razões: a primeira é “a crise em que nós vamos entrar, estamos no meio de uma guerra, com uma alta inflação, com o risco de uma crise financeira e todos os esforços do país devem estar mobilizados para solucionar esses problemas”.
A segunda “vem de uma experiência traumática que o PSD tem, que é a experiência da descentralização”, indicou.