O Presidente francês, Emmanuel Macron, considerou esta sexta-feira “chocante e excessivo” o valor “astronómico” do salário do português Carlos Tavares, CEO da fabricante automóvel francesa Stellantis.
Segundo a agência Reuters, o presidente francês, atualmente candidato a novo mandato na segunda volta das eleições presidenciais, teceu fortes críticas ao valor “chocante e excessivo” da remuneração de Carlos Tavares, e afirmou-se a favor de “tetos” de remuneração ao nível da União Europeia.
“Em algum momento, teremos que ter tetos e uma estrutura de governança a nível europeu que torne as coisas aceitáveis, caso contrário, a certa altura, a sociedade explodirá”, disse o Presidente francês, em declarações à Franceinfo.
Também Marine Le Pen, que disputa com Macro a 24 de abril a segunda volta das presidenciais, criticou o “valor astronómico” do salário do presidente do grupo automóvel, nascido em 2021 da fusão da Peugeot-Citroen com a Fiat-Chrysler.
“Claro que é chocante”, disse Le Pen, em declarações à BFM TV. “É ainda mais chocante quando são chefes de empresas que tiveram problemas. Isso acontece bastante”.
Para Marine Le Pen, a remuneração é “chocante, mas menos chocante do que para outros”, porque pelo menos o grupo obteve lucros.
Em resposta a estas críticas, a direção da empresa salientou que Tavares assumiu a sua liderança numa altura em que a PSA se encontrava em dificuldades e próxima da falência, tendo “transformado a empresa na líder mundial do setor“.
“A Stellantis recorda que, sob a liderança de Carlos Tavares, em menos de oito anos, o Groupe PSA passou de uma situação de quase falência a empresa líder do setor à escala mundial“, referiu a empresa, em comunicado.
Esta quarta-feira, os acionistas da Stellantis votaram contra o aumento da remuneração de 2021 de Carlos Tavares, para 19,1 milhões de euros.
Em comunicado, o grupo automóvel informou que, em assembleia-geral, os acionistas tinham votado contra o relatório de remunerações, por 52,1% contra 47,9%, Neste caso, o voto dos acionistas é consultivo.
Horas antes da assembleia-geral, o Governo francês tinha mesmo colocado pressão sobre os acionistas da Stellantis. Em entrevista à BFMTV, o porta-voz do executivo, Gabriel Attal, sustentou que “tem que haver uma melhor distribuição dos lucros das empresas”.
Segundo Attal, o Governo liderado por Emmanuel Macron quer obrigar por lei a que empresas com lucros que paguem dividendos partilhem os bons resultados com os seus trabalhadores e também condicionem a remuneração dos altos executivos “ao respeito por “objetivos ambientais e sociais”.
O presidente não executivo da Stellantis, John Elkann, deverá também receber 7,8 milhões de euros, e o diretor financeiro, Richard Palmer, 14,8 milhões.
Os herdeiros do ex-presidente-executivo da Fiat-Chrysler Sergio Marchionne, falecido em 2018, também devem receber 26 milhões de euros.
O pagamento previsto para 2021 decorre dos lucros recorde que o quarto maior grupo automóvel do mundo alcançou em 2021 de 13.354 milhões de euros – quase o triplo do registado em 2020.
A Stellantis, que tem 281 mil funcionários espalhados por vários países, decidiu conceder aos trabalhadores 1.900 milhões dos lucros de 2021, valor que os sindicatos consideraram insuficiente quando comparado com os 3.300 milhões de euros que serão distribuídos em dividendos aos acionistas.
O delegado sindical da Confédération Générale du Travail, Jean-Pierre Mercier, qualificou a remuneração de Carlos Tavares como “indecente” e “ultrajante”, recordando que o aumento salarial atribuído aos trabalhadores foi de 2,8%.
“Para um trabalhador que ganha 1.500 euros por mês, isso significa mais 40 euros. Como lida com o aumento dos preços, principalmente dos combustíveis?”, perguntou o sindicalista retoricamente em entrevista à rádio RMC.
ZAP // Lusa
E se Carlos Tavares fosse francês? Ainda continuaria chocante o seu salário????
Não será por aí… O Estado francês é acionista e injectou muitos milhões no grupo PSA. Estes agora distribuem os lucros, como se o contribuinte francês nunca tivesse sido chamado a pagar as contas!
“fabricante automóvel francesa Stellantis.”
A Stellantis não é francesa, mas sim franco-italiana e resulta da fusão entre o grupo Fiat e o grupo PSA (tem sede na Holanda – mais uma vez os holandeses a mamar à custa do trabalhodos outros!) e o chairman é da família Agnelli.
O problema do salário do Carlos Tavares é o facto do Estado francês ser acionista da empresa e de ter injectado muitos milhões no grupo PSA ainda há pouco tempo – curiosamente isso não é referido na notícia!…