Uma investigação sugeriu que a perturbação do espetro do autismo pode ser causada, pelo menos em parte, por diferenças na composição da microbiota intestinal. Agora, um estudo defende que a relação pode funcionar ao contrário: a diversidade nas espécies encontradas nas entranhas das crianças com autismo pode dever-se às suas preferências alimentares associadas à doença.
Na última década, vários estudos analisaram a ligação entre determinadas espécies de micróbios no intestino e a saúde mental.
Neste novo estudo, os cientistas analisaram amostras de fezes de 247 crianças, com idades entre os 2 e os 17 anos. As amostras foram recolhidas de 99 crianças diagnosticadas com perturbação do espetro do autismo, 51 irmãos não diagnosticados e 97 crianças não relacionadas e não diagnosticadas.
Além de terem analisado as amostras por sequenciação metagenómica, os cientistas também examinaram cuidadosamente a dieta, assim como a idade e o sexo, relata o Ars Technica.
A equipa encontrou provas limitadas de uma associação direta do autismo com o microbioma. No entanto, descobriu uma associação altamente significativa entre o autismo e a dieta.
As crianças com diagnóstico de autismo tinham uma dieta menos diversificada e uma qualidade dietética mais pobre.
Tal pode ser explicado pelas alergias associadas à doença, pelo facto de as crianças com autismo terem fortes gostos e aversões sensoriais ou pelos próprios sintomas.
“Os dados apoiam um modelo surpreendentemente simples e intuitivo, em que as características relacionadas com o autismo promovem preferências dietéticas restritas“, explicou a investigadora Chloe Yap. “Isto, por sua vez, leva a uma menor diversidade microbiológica.”
No estudo, os autores notam, contudo, que continua a ser possível que o microbioma possa influenciar o comportamento das crianças num ciclo de feedback.
O artigo científico foi publicado, este mês, na Cell.