Uma equipa de investigadores está a recorrer a descendentes das “Amazonas de Daomé” para recolocar o seu nome na História e imortalizá-las.
O Reino do Daomé foi um reino africano (localizado na área do atual país de Benim) que existiu entre 1600 e 1904, quando o último rei, Beanzim, foi derrotado pelos franceses e o país foi anexado pelo império colonial francês.
Daomé era o lar de um exército totalmente constituído por mulheres, o único conhecido na História. Elas eram conhecidas como “medusas” ou “amazonas” e Daomé era muitas vezes comparado a Esparta.
Nanlèhoundé Houédanou quer que as pessoas saibam mais sobre estas guerreiras. Investigadores passaram décadas a vasculhar arquivos europeus e da África Ocidental para fazer um retrato a partir dos relatos de oficiais franceses, comerciantes britânicos e missionários italianos.
No entanto, escreve o The Washington Post, uma parte fundamental da sua existência foi esquecida com o passar dos anos: a sua humanidade.
Houédanou, de 85 anos, é uma das últimas pessoas vivas a ter crescido com uma “Amazona de Daomé”. A sua avodrasta era uma das temidas guerreiras do reino. Conseguia remover a cabeça de um homem com uma lâmina curva e escalar uma parede de espinhos, afiança Houédanou.
Ainda assim, apesar das atrocidades que era capaz de fazer, era uma pessoa “gentil”, defende. “Ela era conhecida por proteger as crianças”, acrescentou Houédanou.
Depois de a França conquistar o que hoje é o sul do Benim em 1894, os coloniais desmantelaram o exército de mulheres guerreiras, abriram novas salas de aula e não fizeram uma única menção às amazonas. Foram apagadas da História.
Agora, uma equipa de investigadores beninenses está a trabalhar para reformular a narrativa. Nos últimos três anos, têm rastreado descendentes de amazonas por todo o país. Encontrar os netos tem-se mostrado cada vez mais difícil.
Pouco foi documentado sobre estas guerreiras após a guerra. Aquilo que se sabia sobre elas foi circulando por passa-palavra.
“Estas histórias estão a morrer com as pessoas”, disse Serge Ouitona, investigador do projeto. “As amazonas eram poderosas. Elas tinham influência. Mas toda a gente parou de falar sobre elas depois da conquista colonial”.
Os investigadores querem agora elaborar um livro com relatos e factos sobre as “Amazonas de Doamé” para que possa ser estudado nas escolas e para que — nunca mais — caiam no esquecimento.