A gigante farmacêutica Johnson & Johnson continuou a comercializar pó de talco para mulheres negras, apesar de existirem provas de que esses produtos causam cancro.
A queixa contra a Johnson & Johnson, apresentada pelo Conselho Nacional das Mulheres Negras, afirma que a empresa farmacêutica fez das mulheres negras uma “parte central” da sua estratégia comercial, mas não as avisou dos potenciais perigos dos produtos de pó de talco que vendia.
“Esta empresa, através das suas palavras e imagens, disse às mulheres negras que (…) precisavam de utilizar os seus produtos para se manter frescas”, disse Janice Mathis, diretora executiva do Conselho Nacional das Mulheres Negras, num comunicado.
“Gerações de mulheres negras acreditaram [na Johnson & Johnson] e tornámos prática diária utilizar os seus produtos de formas que nos colocavam em risco de cancro — e ensinámos as nossas filhas a fazer o mesmo. Que vergonha para a Johnson & Johnson“, continuou.
O processo judicial é o mais recente de uma onda de litígios contra a Johnson & Johnson por alegações de que os seus produtos de talco, tais como pó de bebé, têm causado aos utilizadores o desenvolvimento de doenças, incluindo cancro nos ovários e mesotelioma.
A empresa enfrenta mais de 25 mil ações judiciais relacionadas com os produtos e reservou quase quatro mil milhões de dólares (cerca de 3.400 mil milhões de euros) para combater as batalhas legais, avança o The New York Times.
A farmacêutica defende que os seus produtos à base de talco são seguros e não causam cancro. Mas, no ano passado, após uma série de acordos legais dispendiosos, deixou de vender produtos à base de talco nos Estados Unidos e no Canadá.
Em declarações à NPR, a empresa negou a alegação de que tinha usado as mulheres negras como parte central de uma campanha de marketing com “más intenções”.
“As acusações feitas contra a nossa empresa são falsas e a ideia de que a nossa empresa iria propositada e sistematicamente visar uma comunidade com más intenções é insensata e absurda”, lê-se na declaração.
“A Johnson’s Baby Powder é segura e as nossas campanhas são multiculturais e inclusivas”, defendem.
De acordo com a queixa, a Johnson & Johnson terá comercializado os seus produtos em pó — que estariam com atraso nas vendas — para “consumidores de alta propensão”, como as mulheres negras.
Os dados mostram que 60% das mulheres negras utilizavam, nessa altura, o pó de talco de bebé, em comparação com apenas 30% da população total.
A Johnson & Johnson terá contratado uma empresa que entregou 100 mil sacos de oferta com pó de talco em igrejas e outros locais em Chicago e uma “grande proporção” dos seus membros “desenvolveram cancro nos ovários como resultado”.