Yutico Briley foi condenado a uma sentença de prisão perpétua por um único crime, com base em provas extremamente escassas. Num golpe de sorte, enviou uma carta à jornalista Emily Bazelon, que escreve sobre o sistema de justiça criminal. Numa viagem contra a injustiça e guiada pela magia das relações pessoais, o fado de Briley foi feliz. Mas há muitos Yuticos atrás das grades.
Há quase nove anos, Benjamin Joseph foi assaltado à mão armada à porta da sua casa em Nova Orleães, nos Estados Unidos. Quando foi à polícia descrever o agressor, disse que tinha sido assaltado por um homem negro, esbelto, que usava o capucho de um pulôver.
Cerca de 18 horas depois do testemunho, a polícia norte-americana prendeu um adolescente, chamado Yutico Briley, apesar de não ser magro e de usar um capucho com um fecho.
Como Briley, que estava a passar no bairro de Joseph, era negro e tinha consigo uma arma, havia motivos suficientes para que os agentes o considerassem suspeito.
O The New York Times escreve que, a partir daí, a polícia e os procuradores responsáveis pelo caso moveram-se de forma agressiva, quase como se estivessem mais preocupados em assegurar uma detenção do que propriamente em condenar a pessoa certa.
A polícia não montou um alinhamento que incluísse o jovem. Em vez disso, levou Yutico Briley para que fosse identificado por Joseph, que o confirmou como sendo o
perpetrador do assalto.
Nem os investigadores, nem os advogados conseguiram obter provas capazes de o ilibar. O júri acabou por condená-lo, com base na identificação de Joseph, a 60 anos de prisão, sem possibilidade de liberdade condicional.
O jovem de 19 anos, sem qualquer condenação violenta no seu registo criminal (tinha uma única condenação no seu cadastro, por vender droga aos 17 anos), acabou por ser condenado a uma sentença de prisão perpétua por um único crime com base em provas extremamente escassas.
A história de Yutico Briley é contada pela jornalista Emily Bazelon, na The New York Times magazine.
O golpe de sorte
No artigo, Bazelon conta que, quando frequentava a faculdade de Direito, teve uma aula sobre pena capital onde aprendeu que muitas condenações falsas tinham algo em comum: a identificação errada de uma testemunha ocular.
É verdade que este tipo de testemunho é falível, mas é também muito valioso. “Não há quase nada mais convincente do que um ser humano vivo que toma uma posição, aponta o dedo ao arguido e diz: ‘É esse mesmo!'”, escreveu a psicóloga Elizabeth Loftus, no seu livro Testemunho de uma testemunha ocular, de 1979.
Embora não existam muitos dados, um estudo antigo de 1989 – mas frequentemente citado – sugere que o depoimento de uma testemunha ocular é utilizado para resolver, pelo menos, 80.000 crimes por ano nos Estados Unidos.
Com base nestas informações, parece quase intuitivo concluir que há muitos Yuticos atrás das grades. Uns com mais sorte do que outros.
Em 2019, o jovem ouviu uma entrevista de Emily Bazelon e decidiu escrever-lhe uma carta. A jornalista só a leu alguns meses depois, quando um bibliotecário do Oregon, já reformado, entrou em contacto com ela no âmbito de um programa de apoio a pessoas detidas.
Bazelon encontrou a carta de Briley, trocou alguma correspondência com ele e convenceu-se de que valia a pena investigar o caso.
Depois de ter contactado vários advogados, que se recusaram a representar Briley, a jornalista pediu a ajuda da sua irmã Lara Bazelon, professora de Direito na Universidade de São Francisco. A advogada assumiu o caso e, com a ajuda dos seus estudantes, de uma detetive privada e da própria irmã, conseguiu recorrer.
Em março, depois de oito anos e meio na prisão, Yutico Briley foi libertado.
Aqui em Portugal condena-se sem provas, apesar do arguido apresentar 3 acórdãos dos tribunais de Leiria, Loures e TAF/Castelo Branco, violando-se de forma o nº2 do artigo 205º da Constituição da República Portuguesa. O “esquema” é brilhante e deixa o do EUA a quilómetros.
Só pode ser ironia…
Qual foi esse caso?
Não se sabe se era inocente, só que a acusação foi feita de forma errada, por isso foi libertado.
Mas era mais um santo inocente, ainda só tinha sido apanhado uma vez a vender drogas e andava armado
Seja ele inocente ou culpado, uma coisa é certa: O trabalho de acusação foi miseravelmente mal feito.
Sendo assim a pergunta interessante é: Que castigo foi aplicado a estas pessoas que fizeram tão mal o seu trabalho?