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Entre “regabofe” dos exames e “publicidade grátis” a colégios, chovem críticas ao Ranking das Escolas

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Manuel de Almeida / Lusa

A publicação do Ranking das Escolas motiva diversas críticas, desde o PSD até ao próprio ministro da Educação, com alertas de que comparam “realidades incomparáveis” e que acabam por funcionar como “publicidade grátis a alguns colégios”.

No Ranking das Escolas divulgado na quinta-feira, a melhor escola pública surge apenas no 41.º lugar. E o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, já veio dizer que não é “grande adepto de rankings”, considerando que são “bastante redutores”.

O governante também lembra que “são elaborados por órgãos de comunicação social, com os instrumentos que o Ministério da Educação disponibilizou de forma transparente”.

Também o vice-presidente do PSD e ex-ministro da Educação, David Justino, concorda que o Ranking das Escolas permite “leituras simplistas” que não são desejáveis.

“Só vejo tabelas classificativas para saber onde está o meu clube de futebol, mais nada. Os rankings a mim não me esclarecem tanto como a tabela classificativa que posso ler no Record ou na Bola”, aponta o também professor catedrático de Sociologia em entrevista à Rádio Renascença e ao Público.

“Aquilo que se passou no ano passado foi um regabofe”

Embora defendendo “o direito que as pessoas têm poder aceder à informação”, David Justino lembra também que “aquilo que se passou no ano passado relativamente às provas designadamente do 12º ano foi um regabofe“.

A pandemia de covid-19 obrigou à alteração de regras e dos critérios de avaliação e, portanto, fizeram os exames apenas os alunos que precisavam das notas das disciplinas para entrarem no Ensino Superior.

“Parte-se do princípio que as notas são comparáveis quando são usados os mesmos critérios. Se os critérios de avaliação e de ponderação são diferentes, elas deixam de ser comparáveis e, portanto, tem de se ter o máximo cuidado com as conclusões que se retiram”, aponta ainda David Justino.

Há muita maneira de ler os rankings e eu não me limito às leituras imediatas de quem está em primeiro e de quem está em segundo”, aponta ainda o dirigente do PSD, notando que é preciso ir mais além na análise, por exemplo, avaliando as “relações entre contexto social, como é que professores com a mesma origem social têm resultados diferentes, como é que escolas com o mesmo tipo de professores têm resultados diferentes”.

No fundo, trata-se de “aprender com os rankings para melhorar”, algo que só se pode fazer sem “uma leitura ligeira” dos resultados, diz ainda David Justino.

O vice-presidente do PSD revela também que o seu partido vai apresentar um projecto de resolução sobre o plano para a recuperação de aprendizagens, para “ajudar o Governo e dar vários contributos”.

“A educação não dá para brincar às oposições”, aponta, frisando que não receia ser chamado de “colaboracionista” porque é “esta colaboração que o país precisa”.

Justino destaca que esse plano deve responder a perguntas como “quanto é que se perdeu”, “o que é que se perdeu”, “em que disciplinas” e “em que anos” porque “não é tudo igual”.

“Se eu perder aprendizagens nos dois primeiros anos de escolaridade em que os miúdos têm como finalidade abarcar os códigos fundamentais da aprendizagem: a leitura, a escrita, o cálculo, etc., isso vai acompanhá-los durante o resto do trajecto todo. Ou seja, deficiências aí são muito mais graves do que deficiências por exemplo no 9º ano”, conclui.

Ministro lembra que “muitas escolas escolhem os alunos”

Sobre o Ranking, o ministro da Educação lembra também que o trabalho das escolas “vai muito para além da seriação dos resultados médios dos exames nacionais”.

Tiago Brandão Rodrigues nota ainda que “muitas das escolas têm a possibilidade de escolher os seus alunos” e, portanto, podem assim “enviesar os resultados nos exames nacionais”.

Por outro lado, outras escolas “recebem todos os alunos do entorno, independentemente da sua condição de partida, mas sempre com trabalho para que a condição de chegada seja melhor”, vinca ainda.

Brandão Rodrigues fala ainda na inflacção de notas em mais de 60 escolas, a maioria das quais privadas, apontando que tem sido feito “um trabalho preventivo, de inspecção” nos estabelecimentos de ensino.

“Publicidade grátis para alguns colégios”

Também os directores das escolas criticam o Ranking considerando que compara “realidades incomparáveis” e que pode ser desmotivador para professores e directores escolares.

Estes resultados “revelam apenas uma ínfima parte do trabalho diário das escolas e alunos”, destaca o presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas, Filinto Lima, em declarações à agência Lusa.

“Há escolas que fazem um trabalho de excelência e ficam mais para baixo nestas tabelas. É muito injusto“, lamenta Filinto Lima.

Os encarregados de educação também olham com desconfiança para o Ranking, com o presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais, Jorge Ascenção, a apontar que os resultados têm de ser vistos “com ponderação” e relativizados.

Na análise do economista Ricardo Paes Mamede, professor no ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, seria preciso divulgar, a par do Ranking, “a composição socio-económica dos alunos dos colégios privados”.

Enquanto isso não suceder, “os rankings apenas sugerem que escolas frequentadas por filhos de famílias com mais recursos económicos e culturais têm melhores notas nos exames”, salienta o economista.

“É um óptimo momento de publicidade grátis para alguns colégios, mas diz-nos pouco sobre o que funciona bem e o que se pode melhorar no sistema de ensino”, constata ainda.

Noutra publicação no Facebook, Ricardo Paes Mamede diz ainda que o Ranking aponta que “as escolas privadas são frequentadas por alunos que têm um ambiente familiar mais favorável à aprendizagem, que os seus pais gastam mais dinheiro em explicações e/ou que as escolas privadas têm vindo cada vez mais a seleccionar os seus clientes em função das notas que têm, não aceitando ou convidando a sair os que têm desempenhos menos bons”.

Susana Valente, ZAP // Lusa

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1 Comment

  1. Boa campanha de marketing… no especial “ranking das escolas” do JN, todas as páginas tem anúncios de colégios privados!
    Só que nem todas as escolas podem selecionar alunos, nem todos os alunos tem condições para explicações ao domicílio, nem todos nasceram num berço de ouro, etc, etc…
    Estranho é haver colégios privados que, além dos alunos mais privilegiados, ainda costumam aldrabar resultados para os rankings e, mesmo assim, ficam atrás de muitas escolas públicas!..

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