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Ranking das Escolas 2020. Notas subiram em ano de pandemia

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Rodrigo Antunes / Lusa

A escola pública com melhores resultados nos exames nacionais do secundário de 2020 fica em Coimbra e aparece em 34.º lugar do ranking elaborado pela agência Lusa, que analisou 512 estabelecimentos de ensino públicos e privados.

Foi divulgado, esta sexta-feira, o Ranking das Escolas 2020. Com uma média de 17,61 valores, o Colégio Nossa Senhora do Rosário, no Porto, volta a ser a escola com a melhor nota do ranking elaborado pela agência Lusa, que excluiu os estabelecimentos de ensino com menos de 100 provas.

Também o segundo lugar volta a ser ocupado pelo Colégio D. Diogo de Sousa, em Braga, seguindo-se o Grande Colégio Universal, no Porto. Com uma média de 15 valores, a primeira escola pública é a Secundária Infanta Dona Maria, em Coimbra, e surge em 34.º lugar do ranking, o que significa que as escolas públicas voltam a descer na tabela geral, desta vez dois lugares.

Os alunos da Secundária Eça de Queirós, na Póvoa do Varzim, obtiveram a segunda melhor média no ensino público (14,76 valores), seguindo-se a Escola Básica e Secundária D. Filipa de Lencastre, em Lisboa.

Estes são três estabelecimentos de ensino que aparecem com frequência no topo das listas das escolas públicas com melhores resultados nos exames. Tanto a Infanta Dona Maria como a Filipa de Lencastre situam-se em bairros privilegiados das duas cidades e a maioria dos seus alunos pertence a classes socioeconómicas mais favorecidas.

Do lado oposto, a Escola Secundária José Cardoso Pires, na cidade de Lisboa, e o Externato Académico, na cidade do Porto, são os únicos estabelecimentos de ensino com um resultado médio negativo, 9,2 e 9,93 valores respetivamente.

Notas subiram em ano de pandemia

As notas dos alunos subiram em 2020 devido às novas regras impostas pela pandemia. Por um lado, os testes tinham perguntas obrigatórias e opcionais, permitindo aos alunos escolher pelas questões em que se sentiam mais seguros, sendo contabilizadas apenas as melhores respostas.

Por outro lado, as provas só eram exigidas a quem quisesse seguir para o ensino superior, porque só contaram para a média de acesso às universidades e politécnicos, tendo deixado de ser obrigatórias para a conclusão do secundário.

O resultado foi uma subida de cerca de dois valores (numa escala de zero a 20) das notas médias dos estabelecimentos públicos e privados, tendo em conta os mais de 217 mil exames realizados no verão do ano passado.

A média nacional dos alunos dos colégios foi de 14,39 valores (no ano anterior foi de 12,69) e das escolas públicas foi de 12,89 valores (10,95 em 2019), o que revela que se mantém a tendência de subida ligeira da média das notas registadas nos últimos anos.

As notas da 1.ª fase dos exames melhoraram em todas as disciplinas, à exceção de Matemática Aplicada às Ciências Sociais. Nesta subida média destacam-se disciplinas como Biologia e Geologia ou Geografia A, em que houve um aumento superior a três valores.

Mais uma vez, as raparigas obtiveram melhores resultados, em especial em áreas como Matemática, Física e Química ou Espanhol, enquanto os rapazes foram melhores apenas a Geografia, História e Geometria Descritiva.

As alunas obtiveram uma média de 13,25 valores (no ano anterior foi de 11,27), enquanto os rapazes tiveram 12,85 (em 2019 foi de 11 valores), o que representa uma melhoria de cerca de dois valores em ambos os sexos (numa escala de zero a 20).

Em 2020, Viana do Castelo é o distrito com a melhor média nos exames nacionais do ensino secundário, seguindo-se Coimbra e Porto.

Um em cada três alunos carenciados tem sucesso

Olhando para o novo indicador criado este ano pelo Ministério da Educação, intitulado equidade, para encontrar os estabelecimentos de ensino onde os alunos em situação socioeconómica mais frágil têm sucesso escolar, conclui-se que apenas um em cada três alunos carenciados concluiu o secundário sem “chumbar”, nem ter negativa nos exames nacionais.

Os dados agora divulgados dizem respeito aos estudantes que no ano letivo de 2018/2019 deveriam estar a terminar o secundário, ou seja, alunos cujas aulas e ambiente escolar não tinham ainda sido afetados pela pandemia, que chegou a Portugal mais tarde, em março de 2020.

Mas, mesmo assim, houve muitos que permaneceram mais tempo na escola do que o previsto: apenas 4748 alunos (34,25%) conseguiram fazer o secundário nos três anos e ter positiva nos exames das duas disciplinas trienais do 12.º ano, segundo uma análise ao percurso de 13.861 alunos com Apoio Social Escolar (ASE), desde que entraram para o 10.º ano (no ano letivo de 2016/2017) até ao momento em que deveriam terminar o secundário (em 2018/2019).

A percentagem de sucesso entre todos os estudantes do ensino secundário é de 44,16%, ou seja, quase dez pontos percentuais acima do valor médio dos alunos com Apoio Social Escolar, segundo uma análise aos dados.

Portugal tem sido apontado como um dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) onde o contexto socioeconómico mais condiciona o sucesso académico.

No entanto, existe um conjunto de escolas que está a tentar contrariar essa desigualdade, segundo este novo indicador, que compara o percurso dos alunos com níveis escolares semelhantes à entrada do 10.º ano.

O indicador confronta os alunos de uma escola ou agrupamento com todos os estudantes do país que, três anos antes, no final do 9.º ano, demonstraram um nível escolar semelhante, permitindo perceber o trabalho realizado pela comunidade educativa.

O estabelecimento de ensino com mais equidade é a Escola de Aires, em Felgueiras. Ali, 62% dos alunos com ASE teve um percurso de sucesso e, quando se compara com os estudantes que no 9.º ano tinham resultados semelhantes, observa-se que este estabelecimento foi benéfico para os seus alunos.

Seguem-se a Escola de São João da Pesqueira (onde 68% dos alunos com ASE tiveram sucesso, mas a média nacional era de 34%) e a Escola da Lousa, em Coimbra, com 69% de sucesso (quando a média nacional era de 37%).

Neste novo ranking surgem escolas de Norte a Sul do país, do interior ao litoral. Na maioria, nos primeiros lugares estão estabelecimentos de ensino públicos. Na lista das 30 escolas com melhores desempenhos, há três privadas: O Colégio Miramar, em Lisboa, aparece em 6.º lugar; o Colégio de São Miguel de Fátima, em Santarém, em 9.º lugar, e o Externato de Vila Meã, no Porto, que surge na 30.ª posição.

Notas inflacionadas: 66 processos e 64 sanções

A Inspeção-Geral da Educação e Ciência (IGEC) instaurou nos últimos dois anos 66 processos disciplinares relacionados com irregularidades na atribuição de notas aos alunos, tendo aplicado 64 sanções a escolas, desde repreensões escritas à suspensão de funções.

Segundo a tutela, os inspetores de educação instauraram, desde o ano letivo de 2019/20, 66 processos disciplinares e passaram a ser uma presença regular nas escolas onde normalmente são identificados estes problemas.

Os processos disciplinares traduziram-se em “64 sanções disciplinares aplicadas em estabelecimentos públicos e em estabelecimentos particulares e cooperativos, e dois suspensos, nos termos da lei, por aposentação ou cessação de funções dos arguidos”, explicou o Ministério.

Os inspetores detetaram situações em que houve uma “deficiente elaboração de critérios de avaliação”, mas também uma “incorreta aplicação” desses mesmos critérios de avaliação.

Diretores escolares, diretores pedagógicos de colégios e docentes foram apontados como sendo os responsáveis e, por isso, sobre eles recaíram as sanções que “variaram entre a repreensão escrita, a multa e a suspensão de funções”.

Desde 2015 que o ministério divulga o indicador que compara as notas internas dos alunos de cada escola com as classificações atribuídas por todas as outras escolas do país a alunos que tiveram resultados semelhantes nos exames nacionais. Através da comparação, feita ao longo de cinco anos, é possível identificar os estabelecimentos de ensino que estão a inflacionar as notas.

Todos os anos, cerca de duas dezenas de escolas são identificadas como estando a dar notas acima do que deveria. Invariavelmente, a maioria dos estabelecimentos é privada e situa-se no Norte do país.

Existem nove escolas que surgem todos os anos nas listas, que analisam a situação desde 2009: são a Escola Secundária de Fafe, Colégio D. Diogo de Sousa e Externato Carvalho Araújo (em Braga), Externato Camões e Colégio Paulo VI (ambos em Gondomar), colégios D. Duarte, Luso-Francês e Ribadouro (os três na cidade do Porto) e o Colégio da Trofa.

Ministro considera listagens “injustas e redutoras”

Nas últimas duas décadas, o Ministério da Educação passou a disponibilizar anualmente, a pedido da comunicação social, dados sobre os resultados dos alunos nos exames e provas nacionais, assim como as notas internas dadas pelas escolas aos estudantes e alguns dados de contexto.

Uma das listas é feita com base nas médias das notas nas provas nacionais dos seus alunos e para o ministro da educação, Tiago Brandão Rodrigues, essas tabelas “são redutoras, injustas e não refletem a qualidade do trabalho que é realizado pelas respetivas comunidades educativas”.

Em declarações por escrito à agência Lusa, o ministro referiu que as classificações dos alunos dependem de diversos fatores “que não têm qualquer relação com a ação da escola”.

Sobre o novo indicador, intitulado equidade, apesar de considerar este tipo de indicadores “mais sofisticados”, o ministro defendeu que mesmo assim devem “sempre ser lidos com prudência, focando-se sobretudo na evolução de ano para ano das diferentes comunidades e não tanto na comparação entre escolas”.

Sobre os resultados dos rankings, o ministro sublinhou a tendência de evolução positiva no sucesso escolar dos alunos nos últimos anos e a redução de abandono escolar.

“Quando analisamos as aprendizagens no ensino secundário, importa não esquecer a redução recente do abandono escolar precoce, a um ritmo ímpar no contexto europeu. Ou seja, muitos dos alunos que hoje estão no ensino secundário teriam, certamente, abandonado se esta análise tivesse sido feita há alguns anos”, sublinhou.

Brandão Rodrigues apontou algumas iniciativas para que as escolas mantenham a sua população heterogénea, nomeadamente através do controlo de “moradas falsas” e a prioridade dada aos alunos abrangidos pelo programa de Ação Social Escolar quando estes procuram as escolas com mais procura.

“É certo que isso não resolve todos os problemas, pois existem escolas que, em virtude da sua localização, acabam por ser frequentadas por alunos de contextos mais vulneráveis. Por isso, além de um trabalho de cooperação permanente com as diversas autarquias na consolidação da rede, existe o programa Territórios Educativos de Intervenção Prioritária, cujos resultados positivos têm sido amplamente demonstrados e que, ainda assim, estamos a procurar atualizar e aperfeiçoar, adotando os instrumentos que permitem às crianças e jovens destes territórios as mesmas condições de aprendizagem dos restantes”, disse.

Quanto ao impacto da pandemia nos resultados dos alunos, o ministro sublinhou a “forma exemplar” como as comunidades educativas reagiram que acabaram por se revelar nos resultados das aprendizagens e da avaliação.

Além disso, acrescentou, o ministério tem levado a cabo um conjunto de ações para tentar mitigar os efeitos mais dramáticos da pandemia: “Depois do diagnóstico realizado por uma equipa independente de especialistas e representantes das escolas, estamos a ultimar um plano de recuperação das aprendizagens para os próximos dois anos e que procurará alargar e reforçar a nossa resposta a este desígnio”, lembrou.

ZAP // Lusa

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