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Orgulho e ciúmes. Corrida armamentista entre Coreias coloca ambiente de paz em risco

Michael Day / Flickr

Fronteira entre Coreia do Norte e Coreia do Sul

A relação entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul é conhecida por ser bastante conturbada, sendo que nos últimos anos já ocorreram alguns incidentes entre os países. Agora, as duas nações peninsulares lutam pelo poder num lado mais perigoso: a corrida armamentista.

Ambos os países querem se pioneiros na construção e desenvolvimento de novas armas, e a cada passo que é dado por algum dos Estados é visto como argumento para a aquisição de novos meios de combate. Por orgulho ou por ciúmes, nenhuma das Coreias quer ficar um passo atrás.

No início do mês, o sonho da Coreia do Sul de construir o seu próprio caça a jato supersónico foi realizado ao revelar o KF-21, que custou ao país cerca de 7,8 mil milhões de dólares. Além disso, o país também divulgou planos para adquirir dezenas de novos helicópteros de combate americanos.

Ao contrário da Coreia do Norte, Seul carece de armas nucleares. No entanto, nos últimos anos o país acelerou os seus gastos militares, através de aquisição de jatos americanos e da construção de mísseis cada vez mais poderosos.

Assim, Pyongyang usou estes movimentos para justificar a expansão do seu próprio arsenal, ameaçando despejar os seus mísseis de curto alcance.

Esta dinâmica pode tornar-se perigosa, avança o The New York Times, e vários especialistas alertam que a corrida armamentista entre os dois países está a colocar em risco o delicado equilíbrio da paz na Península Coreana.

Ciclo vicioso

Jang Cheol-wun, analista do Instituto Coreano de Defesa Nacional, um grupo de pesquisa financiado pelo governo, alerta que “à medida que ambos os lados agem e reagem através do aumento de armamentos em nome da defesa nacional, isso irá criar um ciclo vicioso que vai acabar por minar a sua defesa e aprofundar o dilema de segurança”.

Contudo, esta conduta de ambos os estados não é agora. Há muito tempo que as duas Coreias estão envolvidas numa corrida armamentista, mas as crescentes capacidades nucleares de Pyongyang, juntamente com o medo de uma retirada das tropas americanas da Coreia do Sul durante a presidência de Donald Trump, aumentaram as tensões.

Nos últimos anos, o presidente Moon Jae-in aumentou os gastos militares anuais da Coreia do Sul, sobretudo depois da diplomacia falhar: através de conversações não foi possível eliminar o arsenal nuclear da Coreia do Norte. Para colmatar a falha, Moon teve a necessidade de mostrar aos sul-coreanos que o país não seria um “alvo fácil”.

Seul adquiriu o Hyunmoo-4, um míssil testado no ano passado. De acordo com especialistas em mísseis, este pode voar 800 quilómetros, o suficiente para atingir toda a Coreia do Norte.

Para não ficar para atrás, a 25 de março, a Coreia do Norte lançou um novo míssil balístico e informou que a arma voou 600 quilómetros com uma ogiva de 25000 quilos.

Apoio do ocidente

No meio de tantas tentativas de afirmação por parte dos dois países, Washington tem tentado prevenir a proliferação de mísseis na Península Coreana ao longo de várias décadas, mas a intervenção está a ser cada vez mais difícil.

Segundo as diretrizes adotadas pela primeira vez entre Washington e Seul em 1979, a Coreia do Sul foi proibida de desenvolver mísseis balísticos com um alcance de mais de 300 quilómetros e uma carga útil de mais de 500 quilos.

Contudo, depois que a Coreia do Norte atacou uma ilha sul-coreana em 2010, Seul exigiu que os EUA abrandassem as restrições para que pudesse construir mísseis mais poderosos.

Em 2012, Washington concordou em permitir que a Coreia do Sul implantasse mísseis balísticos com um alcance até 800 quilómetros, desde que respeite o limite de 500 quilos peso útil.

Desde então, a Coreia do Sul testou mísseis com alcance crescente, incluindo Hyunmoo-2A, Hyunmoo-2B e Hyunmoo-2C, mas a Coreia do Norte não se deixa ficar.

Desde que assumiu o poder, há uma década, Kim Jong-Un tem tentado construir mísseis capazes de chegar aos Estados Unidos, e também ao país vizinho.

Em janeiro, Kim indicou que seu país já tinha construído mísseis nucleares de curto alcance virados para a Coreia do Sul e prometeu melhorá-los.

Os mísseis de Pyongyang ainda usam combustível líquido, o que demora horas para fazer os carregamentos antes do lançamento, tornando-os vulneráveis a ataques preventivos americanos.

No entanto, num discurso em meados de janeiro, Kim prometeu construir armas de combustível sólido, apresentando um desafio ainda maior para as defesas de mísseis americanas.

Kim Jong Un não baixa os braços e, segundo imagens de satélite registadas no mês passado, o país já tomou medidas para ocultar uma instalação, que as agências de inteligência dos EUA acreditam estar a ser usada para armazenar armas nucleares.

Essas perspetivas aumentam o medo entre alguns sul-coreanos de que Washington terá menos capacidade de intervir se enfrentarem um ataque nuclear norte-coreano.

Mesmo a passar uma crise sem precedentes, e com o líder do país a pedir aos cidadãos para se prepararem para tempos difíceis, a corrida armamentista não passa para segundo plano.

Ana Isabel Moura, ZAP //

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