A reforma do Governo para alterar a estrutura superior de comando das Forças Armadas tem causado mal-estar no topo da hierarquia militar. João Gomes Cravinho acusa os opositores de fazerem “mistificações e caricaturas”.
Depois da reunião do Conselho de Estado, António Ramalho Eanes, antigo Presidente da República e a voz mais severa contra a proposta do Governo, disse ao Expresso que é preciso melhorar o sistema sem “atropelos” à instituição.
“A liderança militar é distintiva da de outras instituições. Naturalmente, tem de se atualizar para responder eficazmente às mudanças que o Conceito Estratégico de Defesa Nacional e o Conceito Estratégico Militar estabelecem, para que o país possa ter umas Forças Armadas que respondem a todas as suas necessidades”, começou por afirmar.
“Mas essas mudanças devem ser feitas, como dizia Miguel de Unamuno, sem atropelos à sua unidade, continuidade e personalidade”, acrescentou.
Perante as resistências dos chefes militares, Marcelo Rebelo de Sousa apelou, no fim da reunião do Conselho de Estado, ao equilíbrio da proposta.
Além de Eanes, entre os críticos está o general Garcia Leandro, que escreveu um artigo no jornal Público onde questiona se o chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas (CEMGFA), o almirante Silva Ribeiro, tem “condições para continuar”, sendo que “nunca cumprirá a sua missão se não merecer a confiança daqueles que dele dependem”.
Além disso, quase 40 oficiais-generais assinaram um documento para Belém que refere “erros gravosos” e soluções “simplistas” na reforma.
O ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, insiste, no entanto, na importância da reforma e afirma que noutros países também houve críticas por “interesses corporativos”.
O governante acusa também os opositores de “mistificações e caricaturas” em relação às alterações.
O debate segue agora para a Assembleia da República. António Filipe, deputado do PCP, admitiu ao matutino que se possam chamar antigos chefes das Forças Armadas para falar sobre o tema, tendo em conta que “as opiniões não são muito favoráveis, e alertam que as experiências que se fizeram não deram grande resultado, como a reforma da saúde militar”.
A reforma pretende minimizar “redundâncias de competências e de estruturas e o esclarecimento de situações que podem ser equívocas quanto à linha de comando”, com o intuito de promover uma “maior eficácia” do comando operacional conjunto.