Bloco Central deve aprovar “revolução” nas Forças Armadas (com chefes a passarem a “ajudantezinhos”)

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Mário Cruz / Lusa

O ministro da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho

A reforma das Forças Armadas que o Governo está a levar a cabo, com o apoio do PSD, retira poder às chefias dos ramos militares e está a gerar revolta entre oficiais-generais. Ramalho Eanes junta-se às críticas e um ex-Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas diz mesmo que o “ministro é ignorante”.

O ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, apresentou o projecto do Governo para a reforma das Forças Armadas na reunião do Conselho de Estado realizada nesta sexta-feira, 19 de Março.

A proposta recebeu “apoio generalizado dos conselheiros”, mas foi muito criticada pelo o general Ramalho Eanes, antigo Presidente da República e o “único militar presente no encontro que decorreu por videoconferência”, como reporta o Expresso.

Ramalho Eanes está do lado dos ex-chefes militares e de cerca de 40 oficiais-generais na reforma que se manifestaram contra o projecto do Governo, numa carta enviada ao Presidente da República.

O ponto de divergência está no facto de a proposta prever a perda de poder dos ramos militares (Exército, Marinha e Força Aérea), concentrando o comando no chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA).

A proposta do Ministério da Defesa vai ser discutida no Parlamento e deverá ser aprovada pelo Bloco Central, uma vez que Rui Rio, líder do PSD, apoia as mudanças propostas pelo Governo.

Marcelo, por seu lado, está cauteloso e manifesta reservas, apelando ao “equilíbrio” e à “prudência” como apurou o Expresso. O semanário destaca que o Presidente espera que “o Governo equilibre a proposta de forma a que o reforço do CEMGFA não esmague os chefes dos três ramos” militares.

Numa nota oficial da Presidência da República destaca-se que “quer na sua tramitação quer na sua eventual aplicação, é fundamental o papel dos chefes dos três ramos das Forças Armadas”.

Não é a primeira vez que o Governo procura fazer uma reforma nas Forças Armadas. Mas se em outros executivos não foi possível avançar com mudanças, desta vez, o ministro da Defesa está a apresentar a mudança como “um facto consumado pelo Bloco Central”, fruto do apoio do PSD, como nota o Expresso.

“Uma afronta para apoucar os chefes”

A revolução na organização das Forças Armadas e na estrutura superior de comando está a gerar “dúvidas e resistências entre os militares”, como atesta o Expresso.

O projecto do Governo coloca os chefes dos ramos militares na dependência hierárquica do CEMGFA, o que as chefias interpretam como uma perda de poder.

Além disso, o envio da proposta do Governo “apenas seis horas antes do Conselho de Chefes de Estado-Maior” do passado dia 12 de Março, deixou as chefias ainda mais zangadas. É uma “desconsideração e uma afronta para apoucar os chefes”, desabafa ao Expresso o general Luís Araújo, antigo CEMGFA e ex-chefe do Estado-Maior da Força Aérea.

Sobre a proposta em si, Luís Araújo destaca que preconiza uma duplicação de “estruturas” que “vai exaurir os ramos nos Estados-Maiores, porque o CEMGFA para fazer um centro de comando terá de ir buscar recursos aos ramos já exauridos de pessoal”.

Os chefes passam a “ajudantezinhos”, diz ainda o antigo CEMGFA, considerando que “o ministro também perde poder” e que “perde conhecimento da situação dos ramos e só sabe o que o CEMGFA lhe quiser dizer”.

Para Luís Araújo, é evidente que os actuais governantes “são parolos e provincianos” por sentirem que têm de avançar com a reforma “por ser o que se faz lá fora”. “O ministro é ignorante”, aponta ainda.

Para o general Rovisco Duarte, ex-chefe do Estado-Maior do Exército, avançar com a reforma, nesta altura, “é descabido e inoportuno”. Também em declarações ao Expresso, este militar nota que há “um sentimento geral de incompreensão, porque há coisas mais urgentes” a resolver nas Forças Armadas.

Por outro lado, o general Valença Pinto, do Exército, já se manifestou a favor da reforma, considerando que é uma forma de “promover e assegurar uma melhor lógica de coordenação do aparelho da Defesa Nacional”.

“Os chefes dos Estados-Maiores devem claramente estar subordinados ao CEMGFA, mantendo as responsabilidades fundamentais que têm: no plano da formação, aprontamento e sustentação das forças”, defende Valença Pinto.

ZAP //

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14 Comments

  1. Olha, olha… os generais já querem mandar e até insultam o poder político ao qual se tem que subordinar!…
    Esses já estão a mais…
    Vá lá que há alguns, como o general Valença Pinto, que conseguem ver além do seu umbigo!

  2. O Sr. General Luís Araújo quando diz que o Ministro da defesa é ignorante, tem razão, tal como são a maioria dos membros do PS quando se trata da Instituição Militar. as figuras mais proeminentes do PS sempre foram antimilitaristas, tendo muitos deles fugido da Guerra Colonial. Esse sentimento antimilitarista ainda continua a existir dentro do PS.

    Só não dá para entender, como é que o Dr. Rui Rio, também acerta o passo, neste assunto, com PS.
    Transformar os militares em “YES MEN” já está quase atingido, pois os militares não protestam perante tantos actos contra a Instituição Militar. Será que o Dr. Rui Rio também quer saber da filiação em certas organizações especiais de alguns Chefes Militares que são apoiados, ou merecem benesses do PS?

  3. Parece que as únicas objecções vêm do ego dos generais, nada dizem de objectivo contra a proposta.

    Já quem diz:
    “Luís Araújo destaca que preconiza uma duplicação de “estruturas” que “vai exaurir os ramos nos Estados-Maiores, porque o CEMGFA para fazer um centro de comando terá de ir buscar recursos aos ramos já exauridos de pessoal”
    Não percebe que não vai haver duplicação de estruturas, já que os chefes dos ramos deixam de necessitar de estrutura, antes, 3 estruturas actualmente passam apenas para 1, ou quase.

  4. Pois é tudo muito lindo, mas foi assim que deu a revolução do 25 de abril. Começam a mexer com a tropa e depois queixam- se. Que façam reforma no tacho dos governantes, pois são muitos, podem reduzir para metade.

  5. Vamos ter um 26 de Abril à porta ou então desenha-se aqui um cozinhado onde se arranjam mais uns tantos tachos e depois tudo fica calado numa boa!

  6. Os políticos nunca perceberam a instituição militar, e só fazem disparates. A única coisa que importa é o poder político sobrepor-se ao poder militar. Quanto à maneira como as forças armadas se estruturam é uma questão que é melhor deixar-se ao cuidado dos próprios militares. Se os atuais ministros tivessem passado três anos na tropa e feito uma comissão no Ultramar, como eu e tantos outros fizeram, já percebiam. Mas são uns paisanos ignorantes e arrogantes

  7. O PS tem medo de um novo 25 de Abril devido à actual ditadura de Esquerda que assola os portugueses e já está a garantir que todos os generais descontentes ficam sob controle de 1 única pessoa, o CEMGFA. Assim, será mais fácil impedir novas revoluções de militares que pretendam repôr a liberdade dos Portugueses. Portugal a caminho de se tornar uma Coreia do Norte comunista.

  8. “Uma afronta para apoucar os chefes” -É “engraçado” como agora ficam “chateados”. Pergunto: ao longo de 46 anos o que é que as chefias militares fizeram pelos antigos combatentes da guerra colonial? Só se preocuparam o respectivo umbigo e com as promoções na carreira.
    Estou de acordo em que a totalidade dos deputados sejam INGNORANTES no que concerne à instituição militar, pq também “alinharam” no ostracismo aos antigos combatentes. Resumindo e concluindo estamos a ser governados pela incompetência e ignorância.

  9. Senhor ministro as Forcas Armadas devem ser um poder independente porque de outra forma nao podem exercer o seu poder e as suas taticas…. so quem nao entendde o papel destas forca criticam o que nao sabem..

      • Tu pareces estar muito preocupado que os militares mantenham a sua independência institucional. Pois é isso que pode proteger os Portugueses caso a Esquerda actualmente no poder comece a ter tentações ditatoriais… Como aliás, se tem estado a verificar com as atitudes prepotentes do governo nos meses mais recentes. Estou de acordo com o General Eanes. O país está em perigo de cair numa ditadura se esta reestruturação militar avançar.

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