Os fundadores do PAN consideram que o projeto do partido foi desvirtuado e que quem esteve na sua génese foi “completamente posto de lado”. A chamada “corrente Norte” pode estar a ganhar força.
O porta-voz do PAN, André Silva, anunciou, este domingo, que vai abandonar as suas funções executivas no partido e o lugar de deputado, invocando motivos pessoais e a defesa do princípio da limitação de mandatos.
Além de ter dito que não quer perder “o comboio da paternidade”, o líder do Pessoas-Animais-Natureza recordou que carrega a “forte convicção de que numa democracia saudável as pessoas não devem eternizar-se nos cargos, devendo dar oportunidade a outras”.
Segundo o jornal online Observador, quem conhece bem André Silva estranhou o argumento e, nos corredores do partido, denuncia-se o excesso de protagonismo de uma determinada fação e aposta-se que as saídas não ficarão por aqui.
Fontes próximas dos bastidores do PAN dizem ao jornal digital que a raiz do problema está na “corrente Norte”, como é tratada por alguns militantes, que já se faz sentir há alguns meses.
O partido deu os primeiros passos nesta região do país e, até hoje, há quem nas estruturas não concorde com o estabelecimento da sede do partido na capital, o que tem provocado ondas de choque internas.
No início de fevereiro, recorde-se, António Santos, Pedro Taborda e Fernando Leite, três fundadores do PAN, tornaram pública uma carta dirigida a André Silva, na qual o acusavam de ter transformado o partido numa “anedota inofensiva”.
O porta-voz do PAN desmentiu, porém, qualquer relação entre a sua saída e esta carta entretanto publicada. “Não pesou absolutamente nada”, afirmou.
Membros do partido asseguram ao Observador que a saída de André Silva pode ter sido apenas uma forma de antecipar um desfecho anunciado. Isto porque a “corrente Norte” já tomou a iniciativa de tentar uma “maioria de delegados na Comissão Política Nacional”, através do apoio de novos filiados, e estará assim a tentar garantir um maior controlo no partido.
Neste cenário, o atual porta-voz pode não ser a única pessoa a sair. A líder parlamentar Inês Sousa Real, que não exclui uma eventual candidatura à liderança, poderá estar assim numa situação delicada por não pertencer à corrente fundadora do partido.
O Observador sabe, porém, que a deputada não vai sair sem dar luta e estará já a fazer contactos para formar uma lista a apresentar ao Congresso, que vai acontecer em junho.
A verdade é que o perfil da deputada não convence alguns dos fundadores do partido. É o caso de Pedro Taborda que, ao jornal online, disse que Sousa Real “é mais do mesmo” e que o PAN precisa de uma mudança radical de rumo“.
Taborda acrescentou que o projeto do partido foi desvirtuado e que quem esteve na sua génese foi “completamente posto de lado”, estando a assistir à “palhacização” do PAN.
Sobre a saída de André Silva em junho, Taborda não esteve com rodeios: “Encontrou uma maneira cobarde de escapar ao contraditório. É uma saída airosa para um mero floreado”.
O fundador do partido disse ainda que “está em cima da mesa” a possibilidade de apresentar uma lista à liderança.
António Santos, o filiado número um, tem, por sua vez, uma visão mais otimista do trabalho das deputadas Inês Sousa Real e Bebiana Cunha e considera que serão capazes de voltar a colocar o PAN no caminho da proteção dos animais e do ambiente.
“Acho que há condições para o partido retomar a sua matriz. Mas não basta ser uma pessoa, tem que ser o partido a reconhecer e centrar-se naquilo para o qual foi criado, essa vertente animal”, declarou.